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Por Vilma Gryzinski
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Escreveu, não leu, Theresa May bateu: uma semana gloriosa

Primeira-ministra mandou para o espaço aumento de taxas que o partido prometeu não fazer e enquadrou a rival separatista da Escócia. Só falta o Brexit…

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 17 mar 2017, 08h38 - Publicado em 17 mar 2017, 08h37

Durante os anos em que foi ministra do Interior, Theresa May ganhou dos inimiguinhos – e amiguinhos também, sempre os mais perigosos – uma brincadeira com seu sobrenome. Theresa maybe or maybe not , ou Theresa pode ser que sim, pode ser que não. Uma referência a seu método de trabalho sistemático, detalhista e cauteloso.

O apelido voltou à tona durante os longos meses em que, depois do plebiscito aprovando a saída da União Europeia, a primeira-ministra parecia hesitar e enrolar, como se não soubesse como encaminhar o processo infernalmente complicado de desligamento.

Nas últimas semanas e, em especial a partir da segunda-feira passada, ela demonstrou que não só tem um plano – ainda não revelado -, como está no comando da situação.

A sequência de vitórias gloriosas começou com a votação na Câmara dos Comuns, mais ou menos como a dos deputados, derrubando decisões dos seus colegas vitalícios da Câmara dos Lordes que criavam obstáculos para a primeira-ministra desencadear o Artigo 50.

É ele que abrirá o período de dois anos, de negociações sobre a separação, sem direito a retrocesso. As críticas à primeira-ministra por não ter tomado a iniciativa imediatamente, aproveitando a onda positiva, ainda estavam saindo do forno quando ela desfechou um raio olímpico que matou no nascedouro um aumento de contribuição social dos trabalhadores autônomos.

A ideia do aumento havia sido apresentada, tirada da histórica maleta vermelha do Chancellor of Exchequer, o título charmosamente arcaico do ministro das Finanças. Como fazem todos os anos os ocupantes do cargo, que existe desde o século XVI, Philip Hammond, apresentou o orçamento do governo que, em princípio, precisa tirar daqui para botar ali.

No caso, o “daqui” era o bolso dos profissionais autônomos, que no total pagam 15,3% em taxas – dedutíveis, conforme o rendimento. Problema: um dos compromissos do programa do Partido Conservador era não aumentar impostos.

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Estranhamente, os eleitores britânicos acreditam que promessa de político precisa ser cumprida, mesmo que não morram de confiança na categoria. E, mais estranhamente ainda, Theresa May parece concordar com essa teoria.

 Ou, pelo menos, ver o prejuízos da palavra desonrada. Alguns deputados conservadores ainda estavam nos programas de televisão defendendo o aumento quando chegou a notícia: Hammond havia voltado atrás. O pessoal da primeira-ministra deixou muito claro de quem havia partido a ordem de eliminar o aumento e não se fala mais nisso.

 Theresa May deu outra manifestação de mão firme, e até pesada, num confronto com Nicola Sturgeon, outra política de cabeça dura – embora, como escocesa, isso seja até pleonasmo/

 Nicola ocupa o cargo equivalente ao de primeira-ministra da Escócia, que faz parte do Reino Unido dentro de um sistema de autonomia política. Ela é do partido que quer a independência total, que saiu fortalecido depois do de 2014 plebiscito em que a permanência no Reino Unido ganhou por 55%. Parece contradição, mas foi como se os escoceses dessem um prêmio de consolação aos independentistas.

 E também parece um absurdo que Nicola Sturgeon tenha proposto outro plebiscito, alegando que a situação mudou depois da aprovação do Brexit, contra o voto da maioria dos escoceses. Mas o objetivo dela faz sentido político: acuar Theresa May num momento de alto risco, obrigando-a a aceitar o plebiscito – como exige a legislação – ou tomar a posição antipática de vetar uma consulta popular.

 

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Com seu jeito de diretora de escola tradicional, com direito a boca retorcida nos momentos mais enfáticos, Theresa May sabe que não concorre ao título de Miss Simpatia. Plebiscito antes dos dois anos de prazo do Brexit nem pensar, rugiu. Aliás, só daqui uns seis anos.

 Como é quase inevitável, Nicola Sturgeon tem sido comparada à rainha Mary Stuart, ou Maria I da Escócia, com sua triste história de maridos precocemente mortos e uma prima precocemente viva, Elizabeth I. Todo mundo sabe que a segunda acabou mandando decapitar a primeira.

Theresa May não tem nada do poder absolutista da ruiva Rainha Virgem – só a parte da ruivice é verdade – e vive em terreno perigoso, onde a situação pode virar a qualquer momento. Tem a missão quase impossível de tirar o Reino Unido da União Europeia em situação vantajosa.

 As reações econômicas até agora têm desmentido todos os pregadores do caos pós-Brexit. Na verdade, indicadores vitais como o consumo estão aumentando. Devido à autodestruição do Partido Trabalhista sob a liderança maluca de Jeremy Corbyn, a confiança em May e nos conservadores está aumentando – exatamente o contrário do previsto.

 Há projeções indicando que, se houvesse eleições agora, o Partido Conservador elegeria 379 parlamentares, mais do que o dobro dos trabalhistas. Theresa May precisa aproveitar com sabedoria a onda do “pode ser que sim”. Mesmo sabendo que, depois de uma semana gloriosa, em política vem sempre uma semana infernal.

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