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É hoje: debate pode dar vitória a Macron desde primeiro turno

Ou não. Numa campanha presidencial cheia de reviravoltas, o candidato favorito tem que apostar no imponderável. Qualquer que seja ele. Ou ela

Por Vilma Gryzinski 20 mar 2017, 09h22

Vamos começar com uma piada machista, sexista e misógina: Emmanuel Macron, o candidato que se apresenta como novidade, gosta tanto da velha ordem que se casou com a professora, que tem 23 anos a mais do que ele. 

Pronto, tiramos da frente a característica mais curiosa da vida pessoal de Macron, o relacionamento com Brigitte Trogneux, iniciado quando ele estava no segundo grau e ela dava aulas de francês e de teatro à turma. 

Existem também os constantes comentários de que ele leva uma vida dupla: grudado em Brigitte a ponto de levá-la para reuniões de gabinete quando era ministro da Economia, descolado dela em noites de baladas gay. 

Chega de fofocas. Aos 39 anos, sem nunca ter sido eleito para nenhum cargo, o bonitão e dinâmico Emmanuel Macron hoje seria eleito presidente da França. E amanhã também: empatou em 26% com Marine Le Pen no primeiro turno e abriu uma diferença enorme sobre ela no segundo. 

Todo jornalista responsável hoje precisa ressalvar o caráter caprichoso das pesquisas, dos eleitores e dos fatos, em especial na França, atormentada há três anos por atentados terroristas, de grande ou menor porte, que se repetem praticamente todos os meses. 

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CAVALO SELADO 

A ascensão de Macron passará hoje à noite pelo teste do primeiro debate presidencial. Os adversários são respeitáveis. 

Marine Le Pen tem uma vida inteira de discussões políticas em que sempre é atacada, como líder da Frente Nacional, o partido de extrema-direita que ela – ajudada pela  triste realidade do sentimento de insegurança causado por atentados de fanáticos islâmicos ou crimes comuns cometidos por estrangeiros- reposicionou como partido viável. 

Esmigalhado pelo caso dos empregos parlamentares ectoplásmicos à mulher e dois filhos, François Fillon, candidato da direita tradicional, perdeu o cavalo selado que o levaria à presidência. Caiu para 17% no primeiro turno. Mas vem sendo tocado pelo “fogo dos justos”, a revolta dos que se acham honestos quando são pegos em malandragens. 

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Benoît Hamon, o candidato eleito pelas bases mais puristas do Partido Socialista, tem o discurso tradicional de esquerda e descompromisso dos inviáveis com 12% dos votos. Jean-Luc Mélenchon, mais à esquerda ainda, empatado com Hamon, é bom de debate quando não entra no terreno da insanidade. 

Marine, como dizem seus partidários e sua propaganda política, para criar intimidade com o eleitor e afastar a inconveniente sobrevivência de seu pai e agora inimigo, Jean-Marie Le Pen, precisa atacar a reserva de caça de todos os adversários, de direita ou de esquerda. 

Sim, esquerda: um dos fenômenos da política francesa é a conversão de simpatizantes e até militantes do velho Partido Comunista aos princípios da Frente Nacional. Fora a questão da imigração, as propostas dirigistas da extrema-direita têm uma nada estranha proximidade com as chapas vermelho-estatizante. 

ERROS DE SEMPRE

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Todo mundo vai querer tirar uma casquinha de Macron, o candidato que saiu do quase nada para desequilibrar as forças políticas mais tradicionais. Não que tenha tido uma carreira revolucionária. Na verdade, o que ele tem de mais original é a precocidade, coincidindo com um momento mundial de busca de caras novas na política. 

Macron – ou Micron, como sibilam os inimigos – é um “enarca”, ou formado pela ENA, a Faculdade de Administração de onde sai a elite burocrática e política  francesa. Mas em lugar de seguir a carreira bem encaminhada na administração pública e avançar nos quadros do Partido Socialista, ele tentou a sorte num banco de investimentos – Rothschild, reconstituído depois de um escândalo.

Dedicado ao ramo de fusões e aquisições, ficou milionário, pelos padrões franceses e deu outra guinada. Foi trabalhar no Palácio do Eliseu, num cargo próximo ao recém-eleito François Hollande.

Quando os erros de sempre dos socialistas franceses deram nos problemas de sempre, Hollande deu uma viradinha muito de leve em direção ao bom senso, colocou Manuel Valls como primeiro-ministro e o jovem Macron como ministro da Economia. 

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As tentativas de desengessar em alguns pontos a economia e diminuir o déficit transformaram Macron em inimigo da esquerda, inclusive em seu partido. Macron demonstrou também uma estranha capacidade de não defender seus padrinhos, Hollande e Valls, e de despertar apoios espontâneos, ou que pareciam sê-lo. 

DIA DO CHACAL 

Os “Jovens com Macron” evoluíram, depois que ele inevitavelmente saiu do governo, para o “movimento” Em Marcha, ou Avante – o mesmo slogan de Barack Obama e de inúmeros partidos ou movimentos comunistas desde  o começo da Revolução Russa. 

A ascensão fulminante de Macron é objeto de inúmeras teorias conspiracionistas, uma doença que não é mais exclusiva dos americanos. Todas, naturalmente, evocam a palavra  “Rothschild”, a multi-ramificada família de banqueiros que, no passado, tinha significado equivalente  ao de Goldman Sachs hoje. 

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O “candidato dos banqueiros” tem dado um duro danado para ser o “candidato de todos os franceses”. Com posições mais ou menos de centro-esquerda, apesar de escorregões nos velhos hábitos, como chamar o período colonial francês na Argélia de crime contra a humanidade.

Não faltaram crimes, certamente, nessa época, mas a questão é complicada e envolve a população de origem pied noir – os “pés pretos”, quase um milhão de colonos franceses obrigados a um duro retorno depois da independência. Também não custa lembrar que militares contra a independência argelina tentaram derrubar ninguém menos que Charles de Gaulle – aquela história ficcionalizada do Dia do Chacal. 

Emmanuel Macron precisa de cabeça fria para ter seus dias de festa em 23 de abril, data do primeiro turno, e 7 de maio, quando presumivelmente levará o segundo turno e se tornará presidente da França. E ninguém deixará de notar que Brigitte se tornará primeira-dama. Aos 63 anos, três filhos e sete netos – “encampados” pelo marido. Morram de raiva, piadistas.

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