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Por Vilma Gryzinski
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De Frank Underwood a ministro inglês, assédio chega à política

Entre casos inócuos e acusações graves, as acusações de abusos agitam Parlamento inglês, forçam demissão do responsável pela defesa e prejudicam governo May

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 30 jul 2020, 20h42 - Publicado em 3 nov 2017, 14h50

“Um grande homem já disse que tudo tem relação com sexo. Exceto o sexo. Sexo tem relação com poder”.  Muitos anos depois de Henry Kissinger ter dito algo bem parecido na vida real, Frank Underwood repetiu a máxima no mundo da ficção.

Bem, a House of Cards caiu e os casos de abuso sexual, uma caixa de horrores aberta por vítimas do tarado de Hollywood, o produtor Harvey Weinstein, chegaram ao mundo real da política.

A primeira vítima graúda foi Michael Fallon, que renunciou como ministro da Defesa da Grã-Bretanha. Um cargo importante em si e vital num momento em que o desarranjado governo de Theresa May está por um fio.

A primeira-ministra enfrenta uma rebelião interna no Partido Conservador e insatisfação generalizada com a maneira como conduz as negociações sobre o Brexit.

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O caso Fallon começou de maneira até engraçada. Num jantar ocorrido em 2002, ele tomou umas e outras,  abusou da intimidade e colocou algumas vezes a mão no joelho da jornalista Julia Hartley-Brewer.

De todos os casos similares que afloraram na onda atual, Julia teve a reação mais adequada: disse que se ele encostasse nela mais uma vez iria levar um soco na cara. Fallon parou com a mão boba e os dois se tornaram amigos.

Quando soube da demissão dele, Julia Hartley-Brewer disse que o caso do joelho seria o motivo mais ridículo da história política para uma queda de ministro. Devia ter outras coisas. Tinha, claro.

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E de uma frente inesperada: Andrea Leadsom, a líder do governo na Câmara dos Comuns. Deputada conservadora, ela disputou a liderança com Theresa May quando David Cameron renunciou, empurrado pela vitória do Brexit. Perdeu, mas entrou no novo governo, primeiro como ministra do Meio-Ambiente, depois como líder na Câmara.

Leadsom reclamou para a primeira-ministra do comportamento inconveniente de sir Michael, como os ingleses dizem, num episódio ocorrido há seis anos. Ela havia feito um comentário sobre o tempo, queixando-se que estava com as mãos geladas. “Eu sei onde tem que por para esquentar”, respondeu Fallon. E lá veio uma tentativa de abraço. Depois de ouvir a história, Theresa May decidiu pela demissão.

Ministra reclamando de comportamento inconveniente de ministro é um elemento novo na onda atual de acusações sobre assédio sexual que bate em vários países. As circunstâncias também são opacas. “Se você  se sente ofendida por alguma coisa, por que esperar seis anos até falar no assunto? Para garantir a própria sobrevivência política?”, espetou um, obviamente, aliado de Fallon.

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Outros políticos estão com medo da “lista negra” que enumera 36 parlamentares do Partido Conservador e seus escorregões, que vão desde “perpetuamente bêbado e muito impróprio com mulheres” até assédios graves, principalmente a assessores de ambos os sexos. Uma ex-assessora contou que apresentou queixa à polícia quando desconfiou de um “boa noite, Cinderela” na bebida dela num dos bares do Parlamento – sim, o histórico lugar é cheio de bares. Disse que perdeu os sentidos e a memória.

Mas como classificar o item “usa prostituas para atos sexuais bizarros”? Não é crime nem tem nada a ver com assédio no ambiente de trabalho.

A própria envolvida no “caso do joelho”, escreveu: “Acho que é absurdo e errado tratar brincadeiras e flertes – e até cantadas mal engatadas – entre adultos em condições de consentimento como sendo moralmente equivalentes a assédio sexual grave ou agressão.”

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Na política fictícia, o caso mais estrondoso é o de Kevin Spacey, que despencou em velocidade de impressionar até Frank Underwood, o personagem tão marcante que todo país passou a achar que tinha um similar (o do Brasil está em temporada no sistema prisional de Curitiba).

A série House of Cards foi desativada depois das primeiras acusações contra Spacey. O ator pediu desculpas e achou que assumir publicamente o que o universo inteiro sabia – ele é gay – ajudaria a disfarçar.

Danou-se. Desde então, choveram tantas acusações que Kevin Spacey chegou a ser chamado de “Harvey Weinstein gay”. Até por estupro está sendo investigado pela Scotland Yard, na época em dirigia o Old Vic Theatre.

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Um ator disse que perdeu os sentidos depois de tomar uma bebida no apartamento de Spacey e acordou sendo objeto de uma variante sexual. Spacey mandou dizer que está buscando “tratamento”.

Para fazer um pouquinho de inveja a Frank Underwood, o substituto de Fallon como ministro da Defesa, um protegido de Theresa May chamado Gavin Williamson, de 41 anos, tem uma tarântula como animal de estimação.

Isolada, rejeitada dentro do próprio partido e sem um plano claro para o Brexit, o assunto do século, Theresa May ficou mais enfraquecida ainda por causa de um ex-ministro dado a gracejos com mulheres. E o sujeito da aranha parece que está de olho no lugar dela.

Como diria,  e não dirá mais, Frank Underwood: “Cumprimente com a mão direita e leve uma pedra na esquerda”.

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