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Contra tudo e contra todos, até ele mesmo: a vitória de um homem só

Donald Trump, candidato do eu sozinho, tinha tudo para perder. Exceto pela solidão do eleitor diante da urna

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 dez 2016, 11h20 - Publicado em 9 nov 2016, 09h22
trump costas

“Você está contratado”: Trump ganha lugar no maior, e mais solitário, reality show da Terra

Até no momento de votar Donald Trump foi Donald Trump. Naquela hora em que todo candidato a presidente é obrigado a fazer cara de presidente, Trump esticou o olho para cima do voto da mulher, Melania, esplendorosamente envolta num casaco caramelo (a beldade eslovena não veste casacos, pousa-os sobre os ombros, com habilidade de ex-modelo).

Trump deu a impressão de que estava conferindo, para ter certeza de que a mulher votaria nele. No mundo inteiro, comentaristas de televisão e especialistas de Twitter deram uma das muitas risadinhas vingativas que tinham preparadas. Antecipavam o momento que estavam esperando há muitos meses. “Você está despedido”, a frase que  celebrizou Trump no programa O Aprendiz, seria a mais repetida do universo.

Agora que todo mundo sabe quem foi despedida, a trajetória desse estranho presidente eleito, mais antipático do que Richard Nixon se visto sem som e mais espantoso do que Huey Long, o populista dos anos 30, ganha uma aura quase heróica. A palavra aqui é usada no sentido do herói que desafia todas as probabilidades, dos céus e da terra, para uma missão solitária maior do que todos que salvará um povo.

A parte de salvar o povo foi decidida pelos eleitores americanos e tem os próximos anos para ser desmentida, confirmada ou ficar em dúvida. Afinal, presidentes não são tão poderosos como parecem (ouviremos muito disso nos próximos dia).

Mas nunca houve candidato tão solitário como Trump. Ele foi descrito como um sujeito que jogava bolo nos coleguinhas da escola (é sério, destacavam isso na sua biografia), virou um clone de Mussolini ou Hitler (isso acontece quando Lady Gaga se torna uma importante comentarista política) e fraudou um bilhão de dólares do imposto de renda (acontece quando jornalistas se comportam como Lady Gaga).

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Numa coisa, todos acertaram: não tinha apoio nem do próprio partido, o Republicano, no qual pegou carona quando ainda era um empresário que começou vendendo imóveis e passou a vender a si mesmo como sinônimo de luxo ao estilo novíssimo rico. Uma coisa que não era, tanto pelo critério americano quanto brasileiro. Filho de rico, Fred Trump (Trumpf, do original alemão), já tem história. Ou pelo menos um milhão de dólares para ver como se sai, como aconteceu com o jovem Donald.

O desprezo pelo falso palácio de Versalhes que o presidente eleito criou para si mesmo no topo de sua Trump Tower é coisa dos bem-pensantes. Americanos e turistas comuns que passam pela frente do prédio ficam impressionados: é tudo mármore, sólido, brilhante, diferente dos vizinhos.

Trump perdeu dinheiro e faliu várias vezes? Muitos americanos, que vivem pendurados em quatro ou cinco cartões de crédito, não se impressionaram negativamente. Fracassar e se recuperar faz parte da narrativa nacional.

Tinha a oposição de 90% da imprensa (mais precisamente, 91%)? Por defeitos muito reais e opiniões escandalosas? “Não estamos elegendo um candidato a santo”, respondiam os eleitores trumpistas de primeira hora. Os de segunda, ficavam quietos, ouvindo a imprensa demonizar incessantemente os primeiros, esperando a hora de chegar no escurinho da urna.

A natureza solitária da campanha de Trump foi tamanha que teve exatamente três políticos republicanos incondicionalmente a seu lado. Chris Christie, o governador de Nova Jersey que poderia ser secretário da Justiça se não estivesse enrolado em suas próprias encrencas de uso da máquina (mais precisamente, de uma ponte) para perseguir adversários. Rudy Giuliani, o ex-prefeito que virou herói de Nova York pelo comportamento depois do 11 de setembro e vilão da mídia pelo apoio a Trump. E Newt Gingrich, ex-líder republicano que nem cargo eleito tem mais.

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Nos comícios, Trump tinha ao redor apenas os três filhos do primeiro casamento, com a esquiadora  checa Ivana. A mesma que, por causa do divórcio  escandaloso e produtivo, aparece num filme dizendo a frase famosa: “Não fique brava, fique com tudo”.

Ivana, que foi se casando com italianos cada vez mais jovens, ficou em silêncio durante a campanha. Um prodígio diante da quantidade de baixarias que bombardeou Trump, incluindo mais de uma dezena de mulheres relatando avanços e abusos variados.

Trump vai governar com maioria republicana na Câmara e no Senado e nomeará o “nono juiz”, o ocupante da vaga na Suprema Corte. Aparentemente, os brancos burros e pobres, na descrição mais corrente, ainda têm algo a dizer sobre o rumo de seu país.

Vai construir o muro? Provavelmente não. Vai rever tratados comerciais? Terá a obrigação de tentar, mas nunca foi muito bom nessa história de obrigação. Vai trazer empregos de volta? Nenhuma de suas propostas indica isso.

Provavelmente estará mais ocupado em começar a Terceira Guerra mundial. Atenção: isso é uma brincadeira. Trump defendeu uma linha isolacionista em política externa, exatamente o oposto do ânimo belicoso que tantos associaram a ele. Aliás, uma das bombas que jogou em seu próprio partido foi a condenação sem restrições à invasão do Iraque sob o governo de George Bush, filho.

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Não existe posição mais solitária do que a de presidente dos Estados Unidos. Trump, pelo menos, já está acostumado a isso.

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