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Arábia Saudita: príncipe passado para trás está contando tudo

Sobrevivente de bomba escondida em cavidade anal e protelado na sucessão por primo mais jovem e mais bonito, ex-ministro Nayef planta detalhes de “golpe"

Por Vilma Gryzinski
Atualizado em 24 jul 2017, 07h57 - Publicado em 24 jul 2017, 07h47

Ele já foi chamado de “Mr. Everything”, o “Senhor Tudo”, tamanha sua importância como ministro do Interior, número um na sucessão do trono saudita e a mais importante personalidade do reino em matéria de coordenação de operações antiterrorismo com os Estados Unidos.

Hoje, o príncipe Mohammed bin Nayef é o “Senhor Nada”. Perdeu o lugar na sucessão para Mohammed bin Salman, o filho predileto do rei, perdeu os cargos no governo e perdeu a reputação.

A única coisa que pode fazer é mandar emissários contar à imprensa americana como foi passado para trás, numa espécie de golpe palaciano chefiado pelo próprio rei Salman.

Como é raríssimo haver vazamentos de detalhes da intrincada política saudita, com seus milhares de príncipes defendendo interesses variados e um punhado deles que são mais iguais do que os outros, as notícias plantadas pelos leais a Nayef são uma preciosa janela aberta para o funcionamento do jogo de poder nas mais altas esferas.

Para explicar o que aconteceu é preciso relembrar a mais bizarra das quatro tentativas de assassinato que Mohammed bin Nayef sofreu.

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MEIO QUILO

Em 27 de agosto de 2009, um jovem de 23 anos chamado Abudulah Hassan Al Aseeri, passando-se por militante arrependido da Al Qaeda,  conseguir burlar todos os esquemas de segurança necessários para ter uma audiência com o príncipe e ministro, altamente visado.

Nem detectores nem guarda-costas conseguiram descobrir a carga explosiva de meio quilo escondida na cavidade anal, um estratagema sem precedentes. Nayef chegou a conversar cordialmente com o terrorista.

Devido ao caráter experimental do atentado, a bomba, acionada por celular, teve efeito menor do que o planejado. O corpo do terrorista, estraçalhado, serviu como barreira.

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Mesmo assim, Nayef sofreu ferimentos mais graves do que os divulgados na época. Ficou com estilhaços em partes do corpo que não podiam ser retirados por cirurgia e passou a ter dores insuportáveis.

Nayef, que  tem 57 anos e é diabético, fez três tratamentos na Suíça e passou a tomar remédios da família dos opioides.  Não conseguiu mais passar sem eles, tornando-se dependente. É esta a explicação que surgiu em vários órgãos de imprensa.

Segundo a mais recente, da agência Reuters, em 20 de junho passado, o rei chamou Nayef para uma conversa no seu palácio em Meca, a cidade santa do Islã. A parte mais importante da conversa: “Quero que você renuncie. Você não ouviu meu conselho para procurar tratamento para a dependência que afeta perigosamente suas decisões”.

As palavras do rei Salman foram reproduzidas por “uma fonte próxima a MBN” – devido à profusão de nomes muito parecidos, os mais conhecidos são chamados pelas iniciais. O novo príncipe herdeiro direto, por exemplo, é MBS.

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“Foi um choque para MBN. Ele não estava preparado. Foi um golpe”, disse outra dessas fontes. Segundo o New York Times, Nayef foi mantido no palácio real em Meca até concordar em abrir mão de tudo.

PRISÃO PALACIANA

Horas depois, foi divulgado o vídeo em que seu substituto, o príncipe bonitão de 31 anos, beija a mão do primo passado para trás e se ajoelha diante dele, pedindo bênção. Uma encenação e tanto.

Dos 34 membros do Conselho dos Leais, que chancela as complicadas regras sucessórias na monarquia saudita, 31 aprovaram a promoção do filho favorito do rei, que já acumulava um leque extraordinário de posições de poder.

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A queda do “Senhor Tudo” incomodou os serviços de inteligência americanos. O príncipe era tido em tão alta conta que recebeu a medalha George Tenet dada pela CIA por contribuições na luta antiterrorista.

Detalhe: isso foi em fevereiro, já sob o governo Trump, num sinal de que Nayef parecia inabalável – ou a CIA não sabia de tudo, como acontece com frequência.

Toda a estrutura de segurança criada por Nayef está sendo mudada. Mas, num sinal de conciliação, um dos principais colaboradores de MBN, o general Abdulaziz Huwairini, foi colocado à frente do novo organismo.

Como Nayef, o general aparentemente estava em “recolhimento” domiciliar – ou palaciano, pois os poderosos da Arábia vivem em ambientes muito além das Mil e Uma Noites.

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BARRIGA DE FORA

O novo herdeiro e seus aliados têm um bocado de trabalho. As crises imediatas começam com a guerra no Iêmen, onde os sauditas têm se dado mal contra um inimigo muito menor. O confronto “entre primos” com o Catar continua empacado.

É inevitável, para os sauditas, abrir as portas ao hiperativo presidente da Turquia, Recep Erdogan, mesmo depois de uma intervenção dele em favor do vizinho igualmente zilionário, mas muito menor,  que a Arábia Saudita quer dobrar.

A nova erupção de manifestações violentas em Jerusalém reabre o velho problema de sempre. Com o potencial de sempre de escorregar para um novo período de caos. E a Arábia Saudita está finalmente diminuindo a exportação de petróleo para os Estados Unidos, uma forma de confrontar a crescente dominância energética americana.

Sobre a jovem de saia curta e top de barriga de fora que chegou a ser presa por exigência da opinião pública, manifestada via redes sociais, a saída foi esperta. O vídeo que despertou tanta fúria foi divulgado sem conhecimento da mulher, explicaram as autoridades ao soltá-la sem abrir processo.

Ufa. Mohammed bin Salman vai ter que colocar muita areia no seu caminhãozinho para lidar com tudo isso e ainda promover uma modernização nas muitas esferas do reino do deserto. Com tudo o que de mais novo o dinheiro pode comprar, boa parte do país continua a querer as regras de muitos séculos atrás.

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