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Alô, Angela Merkel. Favor pagar a conta na saída

É esse o recado principal de Donald Trump para a primeira-ministra alemã. O resto, inclusive aperto de mão negado, é conversa para disfarçar a realidade

Por Vilma Gryzinski
18 mar 2017, 14h14

Adivinhem qual o chefe de governo criticou pelo nome o presidente de um país amigo? Qual ministro desse governo disse que o tal presidente era “uma ameaça”? Em qual país um jornalista importante propôs o assassinato desse presidente num programa de televisão? E qual dos dois políticos não é o líder do mundo livre?

Respostas: Angela Merkel, Sigmar Gabriel, Alemanha (Josef Jaffe, do semanais Die Zelt,  fez a blague sobre “assassinato na Casa Branca” em resposta a uma espectadora ansiosa com a “catástrofe” representada por Trump) e Angela Merkel de novo.

Começando pelo fim. Merkel, com toda a capacidade em doze anos de governo e todo o poder econômico da Alemanha, não é a líder do mundo livre porque os alemães não têm armas nucleares, porta-aviões, influência cultural e PIB de 18 trilhões de dólares – aliás, nem têm a moeda-padrão do mundo.

Tudo isso, claro, é a respeito das bobagens ditas e escritas sobre o encontro entre os dois líderes no qual, em uma única mas significativa ocasião, Trump deliberadamente fingiu não ouvir as propostas para que desse a mão à visitante, na cena clássica para câmaras e fotógrafos diante da lareira do Salão Oval.

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É claro que toda a nova legião de admiradores de Angela Merkel só apareceu depois que ela abriu as fronteiras à onda de mais de um milhão de estrangeiros vindos de países encrencados, em 2015. E, principalmente, depois de atritos com Trump.

Antes, entre muitos que a elogiam agora, era “dura demais”,  preocupada egoisticamente com os alemães em vez de aliviar as coisas para os pobres gregos e até muito hesitante em exercer o poder que agora atribuem a ela. Ou uma bruxa de extrema-direita que merecia ser caricaturada como nazista – a mesma atitude repugnante do atual governo turco.

 TRÁGICA OU HUMANITÁRIA?

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A maior crítica de Trump à primeira-ministra alemã foi feita há mais de um ano, quando ele ainda era candidato e no tom habitualmente exagerado. Ele disse que Merkel havia cometido um “erro trágico” ao receber a massa humana pelo potencial de terroristas infiltrados entre refugiados legítimos.

Excepcionalmente, Trump nunca fez nenhum ataque pessoal a Angela Merkel. Ao contrário, disse que tinha grande admiração por ela antes do caso da onda de refugiados e outros.

É possível fazer, e muitos fazem, uma argumentação oposta: a primeira-ministra teve uma elogiosa e magnânima atitude humanitária, mas apontar um “erro trágico” não é um desaforo intolerável, ainda mais pelos padrões de Trump. E ele anda estava bem longe da espantosa vitória na eleição presidencial.

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Angela Merkel, ao contrário, condenou asperamente Trump depois do primeiro decreto suspendendo a entrada nos Estados Unidos de pessoas procedentes de sete países altamente envolvidos com terrorismo.  Através de seu porta-voz, disse que lamentava a medida e achava injustificável “colocar sob suspeita pessoas de uma origem e uma fé específicas”. É possível que esteja certa, assim como é possível que sua declaração seja interpretada como ingerência indevida.

Mas não existem interpretações alternativas às declarações de Sigmar Gabriel, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha. Em diversas declarações, alegremente apoiadas pela imprensa americana anti-trumpista, ele classificou Trump de “ameaça” e de “cabeça de ponte de um novo movimento autoritário e chauvinista.

Atenção: Gabriel só é ministro porque lidera seu partido, o social-democrata, que faz parte do governo de coalizão. Fala muito, portanto, para o público interno – que não quer saber dele e escolheu outro candidato, Martin Shultz, para disputar com Merkel a eleição de setembro, Gabriel ganhou as relações exteriores como prêmio de consolação. É, na Alemanha também acontece essas coisas.

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SESSÃO DE SÁBADO

O presidente americano pode perfeitamente se defender (e se atolar) sozinho. Mas quem quiser ter alguma perspectiva do que está acontecendo e ainda vai acontecer entre os dois países, vitais para o restante do mundo, merece esclarecimentos.

Uma questão essencial é a contribuição da Alemanha para a OTAN, a aliança militar liderada pelos Estados Unidos que manteve e continua mantendo o guarda-chuva de proteção nuclear durante a era soviética – obviamente, também de interesse existencial para os americanos.

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Todos os presidentes americanos pedem, fazem pressão, batem o pé metaforicamente ou tentam manobras sedutoras, como Barack Obama, para convencer a Alemanha, entre outros países europeus, a entrar com 2% do PIB de cada um para a conta geral da OTAN. Inutilmente.

Os defensores da teoria do bom negociador, que têm uma visão positiva de Trump como um sagaz homem dos tratos impossíveis, acham que ele criticou a OTAN como “obsoleta” para dar um susto dos interlocutores europeus e aumentar sua participação numa conta que interessa a todos.

Os opositores dessa teoria, claro, acham que Trump é um idiota sem a menor noção das sutilezas da política externa e dos próprios interesses americanos.

Mas ninguém pode dizer que ele não deixa claro o que acha dessa questão depois da sempre imprevisível sessão de sábado de seus tuítes. “Grandes somas de dinheiro  precisam ser pagas para a OTAN e os Estados Unidos pela defesa poderosa e muito cara que proporcionam à Alemanha”, disparou.

Entenderam ou precisa desenhar? A incrivelmente poderosa  e astuta Angela Merkel, que tem a sabedoria e a personalidade adequadas para esconder estas características, sabe muito bem o que líder do mundo livre, por menos que se goste dele, quer dizer.

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