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Gayle Forman: ‘Por que ser mulher me credencia a lavar roupa?’

Escritora promove na Bienal do Livro do Rio de Janeiro seu primeiro romance adulto, sobre retrata uma mulher que decide abandonar marido e filhos

Por Meire Kusumoto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 set 2017, 07h09 - Publicado em 3 set 2017, 07h09

Mundialmente conhecida por seus livros voltados ao público jovem adulto como Se Eu Ficar e Para onde Ela Foi (ambos da editora Novo Conceito), Gayle Forman decidiu mudar de ares em seu trabalho mais recente, Quando Eu Parti (tradução de Ryta Vinagre, Record, 308 páginas, 39,90 reais), seu primeiro romance adulto. No livro, que a escritora americana promove na Bienal do Livro do Rio de Janeiro no dia 7 de setembro, a protagonista é Maribeth, uma jornalista e mãe na casa dos seus 40 anos que, após sofrer um ataque cardíaco, decide abandonar a família e mudar de Estado ao se frustrar com o marido, pouco interessado no dia a dia doméstico, e com os filhos, que não entendem as limitações da mãe e continuam a demandar atenção constante.

Em entrevista a VEJA, Gayle afirma que teve a ideia para o romance quando ela mesma sentiu dores no peito e pensou estar com algum problema cardíaco. “Minha maior preocupação não era minha saúde, mas quem iria cuidar das minhas filhas – e de mim – se eu estivesse debilitada”, diz. Já durante os eventos de lançamento do romance, ela descobriu que o sentimento de querer largar tudo era comum a muitas mulheres. “O livro provocou algumas discussões sobre o nosso desejo de fugir – geralmente, não queremos deixar nossas famílias, queremos apenas um espaço onde não precisaremos nos preocupar com ninguém além de nós mesmas.”

Quando Eu Parti também provoca a reflexão sobre a desvalorização das mulheres dentro do ambiente doméstico. Mesmo trabalhando em tempo integral, geralmente recai sobre elas a maior responsabilidade no trato dos filhos e da casa. “Quantas vezes ouvimos falar de um pai que é elogiado por fazer coisas com seus filhos: levá-los para a escola, brincar com eles etc.? Mas as mães raramente são elogiadas por isso, porque é claro que nós fazemos essas coisas. É esperado. É obrigatório”, diz Gayle. “Claramente, há uma razão física pela qual as mães se voltam a seus bebês, mas minhas filhas estão com 9 e 13 anos agora. Como o fato de ser mulher faz com que eu seja mais qualificada para lavar a roupa da casa?”

Gayle Forman participa da Bienal do Livro nos dias 7 (mesa às 17 horas na Arena #SemFiltro) e 9 (sessão de autógrafos no estande da editora Record, às 18 horas). Em seguida, ela promove o livro em São Paulo (10 de setembro, às 15 horas, na Saraiva do Center Norte) e Curitiba (11 de setembro, às 19 horas, na Livraria Curitiba Shopping Palladium).

Confira a entrevista:

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A Maribeth foi inspirada em sua experiência como mãe, esposa ou jornalista? Em tudo isso. Antes de ser uma romancista, eu era jornalista e trabalhava em revistas, como Maribeth. Meus amigos editores experimentaram a evolução, ou talvez a degeneração, desse setor e do jornalismo em geral (embora as eleições aqui pareçam ter criado uma demanda por jornalismo de alta qualidade). Quanto a ser esposa e mãe, como muitas outras mães que trabalham (e isso inclui aquelas que ficam em casa, porque esse é o trabalho mais difícil de todos), também lutei para buscar o equilíbrio, trabalhando em tempo integral e sendo mãe. Como Maribeth, eu tenho dificuldade em pedir ajuda. A inspiração para o livro se deu com uma experiência que tive há alguns anos, quando estava com dores no peito e convencida de que tinha problemas cardíacos (minha mãe teve uma doença do coração). Minha maior preocupação não era minha saúde, mas quem iria cuidar de minhas filhas – e de mim – se eu estivesse debilitada. Esse medo, o sentimento de que você não pode deixar a bola cair porque ninguém vai pegá-la, perturba a mim e a muitas mães que conheço.

quando eu parti
(Record/Divulgação)

Seu livro, Quando Eu Parti, e um artigo que você escreveu para a revista Time falam sobre o desejo que muitas mães têm de deixar tudo para trás, incluindo marido e filhos, e começar uma vida nova. Você já fantasiou sobre largar tudo? Tenho pensado menos nisso nos últimos tempos, já que eu viajo muito a trabalho. Esse é o segredo: viajar a trabalho é como uma válvula de escape. Você pode trabalhar sem ser interrompida e você não precisa se preocupar com mais ninguém. Além disso, você pode pedir serviço de quarto nos hotéis enquanto vê TV.

Alguma dica para mães que pensam em desistir? Enquanto eu divulgava o livro, uma jornalista me contou que ela e seu marido tiravam uma semana de folga por ano cada um, sozinhos. Achei a ideia brilhante. Os dois tinham essa semana de folga e, como ambos tinham esse mesmo privilégio, nenhum deles sentia culpa. Ainda que uma semana de folga não seja possível – para a maioria de nós, não é –, ter uma pausa da família, um tempo para ficar sozinho ou livre de obrigações familiares pode ser necessário para aliviar a pressão. É difícil fazer isso sem culpa – para mim, de qualquer forma – mas é necessário. Às vezes, eu quero esganar todo mundo, mas, se vou nadar, ver um filme ou sair com amigos, volto outra pessoa.

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Você acha que mães se sentem desvalorizadas, às vezes? Quantas vezes ouvimos falar de um pai que é elogiado por fazer coisas com seus filhos: levá-los para a escola, brincar com eles etc.? Mas as mães raramente são elogiadas por isso, porque é claro que nós fazemos essas coisas. É esperado. É obrigatório. Isso é bastante frustrante. Claramente, há uma razão física pela qual as mães se voltam a seus bebês, mas minhas filhas estão com 9 e 13 anos agora. Como o fato de ser mulher faz com que eu seja mais qualificada para lavar a roupa? Também somos desvalorizadas pelas crianças. É o que acontece com crianças. Elas esperam que estejamos lá por elas e não sentem necessidade de nos elogiar. Entendo isso. Mas, por outro lado, eu gosto de receber estrelinhas douradas, de ser validada. Gostaria que me dissessem: “Parabéns”. Precisamos encontrar uma maneira de reconhecer os pais pelo seu árduo trabalho. Estrelas douradas para todos!

Muitas mães sonham em largar tudo, mas pouquíssimas realmente fazem isso. Acha que seu livro pode ajudar essas mães a se realizarem através de Maribeth? A leitura em geral pode proporcionar uma sensação de fuga. Podemos escapar, por algumas horas, lendo. Não sei se Quando Eu Parti alivia o desejo de fugir, mas acredito que mostre o quão universal é esse desejo. Uma coisa impressionante era que, enquanto eu estava escrevendo o livro, eu contava a amigos a premissa (mãe tem crise de saúde, foge) e, sem exceção, as mães me confessavam que tinham a mesma fantasia. Elas me diziam isso baixinho, como se envergonhadas, como se fossem as únicas a se sentirem assim. Mas todos se sentiam assim. O livro provocou algumas discussões sobre o nosso desejo de fugir, o que ele realmente significa (geralmente não queremos deixar nossas famílias, mas queremos um espaço onde não precisamos nos preocupar com ninguém além de nós mesmas) e quão comum é esse desejo.

Como ser mãe hoje se diferencia de ser mãe nas décadas de 1950 ou 1960? É completamente diferente. Fosse bom ou ruim, nas décadas de 1950 e 1960 os papéis eram bem definidos. Homens trabalhavam fora, mulheres se ocupavam da casa. Os homens eram os provedores. As mulheres, as responsáveis pela família. Agora, estamos em um estranho momento de transição. As mulheres, em grande parte, trabalham fora, mas a expectativa de que elas cuidem da casa permanece. Minha geração (a autora tem 47 anos) está meio que no limbo. Acredito que a geração das minhas filhas – os millennials – vai encarar o casamento, o companheirismo e a educação dos filhos de maneira muito mais igualitária e muito menos apoiada no gênero.

Você ficou famosa por escrever livros para jovens adultos. Quando sentiu a necessidade de retratar uma mãe de 40 anos? Eu me sentei para escrever outro romance para jovens, mas descobri que a história que eu queria contar era sobre casamento e maternidade. Todos os meus livros são sobre mim em algum sentido, e eu sou todos os meus personagens. Mas Maribeth é provavelmente a mais parecida comigo. O segundo personagem mais parecido é Adam, de Para Onde Ela Foi.

Há alguma negociação ou conversa sobre a adaptação de Quando Eu Parti para o cinema? Nós sabíamos que isso seria difícil, porque Hollywood tem um problema com mulheres de meia-idade. Há algum interesse, mas foi o único dos meus livros que não foi imediatamente disputado por estúdios, apesar de tantas mulheres me dizerem quão visceralmente elas podiam enxergar o livro virando filme.

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Como está a adaptação de Eu Estive Aqui? Eu deveria estar trabalhando no roteiro, mas muitas outras coisas acabaram se tornando prioridade, então acho que devo retomar o projeto neste outono (primavera no Brasil).

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