Subprocurador-geral vê racismo em fala de Bolsonaro na Hebraica
Para Luciano Maia, deputado teve ‘propósito claro de humilhar, diminuir’ ao dizer que quilombola não servia nem para procriar; Procuradoria avalia denúncias
A situação do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) após a sua polêmica palestra na Hebraica do Rio, na segunda-feira, 3, pode se complicar: o subprocurador-geral da República Luciano Mariz Maia disse não ter dúvidas de que o parlamentar cometeu ato de racismo ao ironizar um negro quilombola (que vive em comunidade de descendentes de escravos).
“Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas (arroba é uma medida usada para pesar gado; cada uma equivale a 15 kg). Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”, disse Bolsonaro, sob risos da plateia de cerca de 300 pessoas.
A declaração rendeu duas representações ao Ministério Público Federal (MPF) por crime de racismo: uma de parlamentares do PT e do PCdo B e outra da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). A Procuradoria-Geral da República ainda vai decidir se abre inquérito sobre o caso.
Na sexta-feira, representantes da Conaq foram recebidos pelo subprocurador-geral Luciano Maia, que coordena a Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF, a quem o grupo pediu apoio para a investigação. “O deputado deve ser punido por esse ato, que não foi outra coisa senão racista”, disse a representante da Conaq Givânia Maria da Silva.
O subprocurador-geral da República concordou. “O deputado, com escolha deliberada de expressões, ar jocoso e zombeteiro, tem o propósito claro de humilhar, diminuir, características próprias do racismo”, disse Maia, em declaração reproduzida pelo site do MPF.
Até agora, Bolsonaro não se manifestou sobre a acusação. Sua assessoria havia dito que ele falaria sobre o episódio por meio de suas contas nas redes sociais, mas isso não ocorreu.