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Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
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A CNBB joga contra os pobres

Os pobres, que a Igreja tem o compromisso de defender, serão os grandes perdedores de um eventual fracasso da reforma da Previdência

Por Maílson da Nóbrega 27 mar 2017, 16h02

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e também arcebispo de Brasília, cardeal Sérgio da Rocha, e outros dirigentes da entidade divulgaram manifesto contra a reforma da Previdência. Onze bispos da Província Eclesiástica de Belo Horizonte fizeram o mesmo.

A Igreja Católica tem uma milenar história de defesa e amparo dos pobres. Antes do surgimento do Estado de Bem-Estar Social no século XX, a Igreja e outras denominações religiosas se incumbiam, ao lado de instituições de caridade, de apoiar as classes menos favorecidas, fornecendo-lhes abrigo e alimentação.

A pobreza diminuiu em todo o mundo. Na Europa do século XVIII, 90% da população era de pobres. Hoje, graças ao desenvolvimento, eles são menos de 10% dos europeus. A globalização, que permitiu a ascensão da China e de outros países emergentes, retirou da pobreza um bilhão de pessoas. O trabalho assistência aos pobres tornou-se menos relevante.

Não faltam credenciais à Igreja para defender os pobres, mas ela se enganou nesse caso. De fato, o fracasso da reforma conduziria o governo federal à insolvência fiscal. O calote prejudicaria os milhões de investidores que compraram títulos do Tesouro, inclusive os fundos de pensão dos quais dependem milhares de aposentados e as pessoas físicas que, direta ou indiretamente, investem suas poupanças em papéis públicos federais.

A insolvência geraria o fenômeno conhecido como “dominância fiscal”, isto é, a situação em que o Tesouro não consegue financiar sua dívida no mercado e passa a fazê-lo mediante emissão de dinheiro. O Banco Central perde a capacidade de assegurar a estabilidade da moeda. A inflação foge do controle e pode nos levar de volta aos horrores da hiperinflação.

Como aprendemos, os pobres são os que mais sofrem com a inflação. Ao contrário dos ricos, os pobres não têm como recorrer a mecanismos de proteção contra a alta dos preços e à corrosão inflacionária de seus salários. Os ricos até ganham. Por isso, a inflação é um meio perverso de cobrar indiretamente impostos dos pobres e de concentrar a renda do país.

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O manifesto dos bispos está cheio de equívocos. Afirma que a reforma prejudica os pobres. É o contrário. Os perdedores serão os não pobres, que hoje se aposentam com 30 ou 35 anos de contribuição. Os pobres, que labutam grande parte de sua vida no mercado informal, não conseguem comprovar o pagamento de contribuições previdenciárias nesse período. Por isso, se aposentam aos 65 anos, que é a idade mínima prevista no projeto de reforma. Os ricos obtêm a aposentadoria com pouco mais de 50 anos.

O manifesto é um rosário de equívocos. A preparação dos bispos tem mais a ver com filosofia, direito canônico e teoria eclesiástica. Eles não estudam economia. Por isso, na sua boa-fé e no anseio de defender os pobres, podem ter recorrido a informações inadequadas, que os levaram a não entender as consequências sociais da rejeição da reforma.

A CNBB não percebeu que o atendimento de sua proposta seria a desgraça dos pobres.

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