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Você gostaria de viver 120 anos? E eternamente?

A busca pela vida eterna pelas empresas do Vale do Silício

Por Bernardo Garicochea
Atualizado em 10 ago 2017, 12h54 - Publicado em 10 ago 2017, 12h54

Um dos grandes assuntos científicos do mês de março de 2017 foi o evento inaugural de uma instituição que leva o nome bizarro de Academia Nacional de Medicina para o Grande desafio da Longevidade Saudável. Pode parecer algo no terreno do esotérico ou o nome de um ministério do governo Mao-Tsé Tung, mas não é.

Dezenas de empresas milionárias bancadas por investidores de peso, como Sergey Brin, da Google, e Jeff Bezos, fundador da Amazon, vêm reunindo há pelo uma década no Vale do Silício alguns dos cérebros mais privilegiados em biologia e genética, como a prêmio Nobel Liz Blackburn, para tentar descobrir maneiras de frear o envelhecimento.

Como relata um dos investidores, com uma lógica irretocável: “se doenças, envelhecimento e morte são resultados de processos químicos que obedecem a leis universais da termodinâmica, não há qualquer razão para se pensar que os mesmos não poderiam ser revertidos com outras reações físico-químicas que restabeleceriam o estado de entropia daquela célula ou daquele indivíduo”.

Se a lógica do raciocínio é clara, parece interessante que a questão da ciência produzindo longevidade e até imortalidade tenha surgido como um fim em si própria. Vou tentar explicar melhor. Intuitivamente, o caminho mais prático para se lidar com este tipo de problema seria contar com os avanços da medicina, encontrando cura para doenças fatais e revertendo os processos resultantes do envelhecimento.

Reverter os danos do envelhecimento

O pessoal do Vale do Silício decidiu buscar outra forma de atacar a questão, e estão buscando diretamente formas de reverter os danos provocados pelo envelhecimento. Não se trata de imortalidade pura e simples, mas de não envelhecer. Derivados deste sonho são antigos, e Lindbergh, o herói voador americano, e o bilionário Howard Hughes tentaram suas versões de ciência da imortalidade em meados do século passado.

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Não deu certo, como sabemos. Mas a sua persistência rendeu frutos no imaginário de muita gente. Eles foram até apelidados de os imortalistas e renderam pelo menos dois bons livros e um grande documentário. Pois bem, os atuais campeões que patrocinam as pesquisas sobre imortalidade não são muito diferentes dos imortalistas do século XX. Os do século XXI também são multi-bilionários que não conseguem comprar os dois bens mais preciosos para usufruir das suas fortunas: juventude e tempo.

Propostas de imortalidade

Entre as apostas dos pesquisadores da imortalidade se destacam a tentativa de parar o relógio biológico, a substituição de órgãos e tecidos por próteses com materiais muito mais resistentes que nossos órgãos originais e o reparo de danos causados pelo próprio processo de envelhecimento.

Estes processos tem pouco a ver com a descoberta de cura de doenças. Por exemplo, as duas principais causas de morte em pessoas acima dos 50 anos (que já são a maioria da população mundial) são câncer e doenças cardiovasculares. A descoberta da cura de todos os tipos de câncer aumentaria a nossa expectativa de vida em 3,6 anos. Resolver todos os problemas cardíacos, nos adicionaria meros 4 anos.

O processo de envelhecimento

Uma das teorias mais aceitas sobre o processo de envelhecimento, relaciona-se à evolução. O amadurecimento sexual e o tempo de procriação de nossa espécie faz com que a velocidade de envelhecimento do nosso corpo seja muito lenta até os 30 anos. Se envelhecêssemos na velocidade que este processo ocorre entre os 20 e os 30 anos, viveríamos 2.000 anos. Depois disso, é como se a natureza perdesse o interesse nos nossos corpos.

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Cumprida a função de procriação, certos elementos guardiões do bom funcionamento de nossos órgãos e especialmente da integridade do nosso DNA colapsam rapidamente. O fato dos nossos sistemas de defesa do envelhecimento ruírem de forma rápida após os 30 anos nos sugere um raciocínio no mínimo intrigante: não seríamos determinados a envelhecer por um desígnio imutável da natureza, mas poderíamos detectar os resíduos genéticos de processos biológicos que passam a não funcionar bem, e aprender a corrigi-los.

Estratégias da longevidade

As estratégias para consertar mutações e outras alterações genéticas acumuladas com o passar do tempo são surpreendentemente engenhosas e envolvem a cooperação das áreas de conhecimento mais distintas possíveis. A química básica e a biologia molecular prometem medicamentos capazes de restaurar o funcionamento de genes desligados de forma inadequada.

Magos da biologia celular unidos com gênios da análise de proteínas, prometem serem capazes de restaurar o DNA danificado de um indivíduo através do reparo com enzimas editoras de DNA e inseri-las em células tronco que reativariam nosso relógio biológico completamente.

Uma das empresas de biotecnologia mais inovadoras trabalha com a ideia de nano-robôs capazes de “limpar” certos resíduos que promovem oxidação do DNA, um dos fenômenos mais importantes no processo de envelhecimento. Finalmente, a integração de todas as informações fornecidas por processos químicos associados ao envelhecimento e danos progressivos no DNA precisam ser conhecidas e mapeadas individualmente.

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Coletar e processar informações é exatamente a área em que os cientistas do Vale do Silício estão mais à vontade. É por isso, que estes projetos podem resultar em algo bom para a espécie humana. A capacidade de aglutinar massas de informações e transformá-las em padrões inteligíveis pode nos levar a compreender muito do porquê envelhecemos.

Já conseguimos muito. Mesmo sem saber como envelhecemos, medidas dietéticas, mudança de hábitos de vida e controle de doenças por meio de prevenção e da melhoria dos tratamentos quase dobrou a nossa expectativa media de vida nos últimos 100 anos.

Imortalidade: benção ou maldição?

Não acredito que muitas pessoas estariam interessadas em imortalidade. Mas acredito que quase todos aceitariam de bom grado viver até os 120 anos com plena saúde. Esta é uma meta possível, em médio prazo, na medida que destrinchamos os mecanismos que nos tornam vulneráveis a doenças da terceira idade, como diabetes, osteoporose, neurodegeneração, câncer.

Quanto à imortalidade. Bem, os antigos nos advertiram sempre que esta não é uma benção, mas uma maldição. Gilgamesh, na saga mais antiga registrada por escrito, é testemunha do desespero que é ser imortal enquanto pessoas queridas envelhecem e morrem.

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Os imortais de Jorge Luis Borges, ficam estáticos, sem ânimo de fazerem qualquer coisa, porque nada tem qualquer sentido sem a morte. Drácula só atemoriza os aldeãos locais em busca de algum sangue fresco, mas a sua historia é de tragédia por ser eterno e ele busca, na verdade, uma forma de morrer.

Pessoalmente, prefiro que este assunto ainda resida apenas no reino da ficção dos multi-bilionários, até nos tornarmos uma espécie em que viver para sempre seja uma forma de felicidade e não de horror ou maldição para si próprio ou para os outros.

 

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