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Por que o carboidrato virou vilão?

Com a correria do mundo moderno o consumo de carboidratos passou a ser mais intenso, mas excluí-lo da dieta pode ser prejudicial à saúde

Por Claudia Cozer Kalil
Atualizado em 22 fev 2017, 11h37 - Publicado em 20 fev 2017, 12h07

A primeira vez que se tem registro da proposta de redução drástica de alimentos fonte de carboidrato para perda de peso foi em 1863, feita por William Banting (1796-1878), um agente funerário inglês, ex-obeso que detalhava em um panfleto, seu caminho para a magreza. A dieta consistia basicamente na retirada de pães, cereais, massas e doces e se baseava em vegetais, gordura e proteína.

A “dieta de Banting” se tornou muito popular na época e foi remasterizada na década de 70, pelo cardiologista americano Robert Atkins que propôs uma dieta pobre em carboidrato e rica em gordura/proteína para controle do peso e doenças metabólicas. Desde então, vários estudos têm tentado explicar a perda de peso rápida em curto prazo com a suspensão dos carboidratos na alimentação e, quase 30 anos depois, essa moda de cortar os carboidratos da dieta voltou a fazer sucesso, e se mantém até hoje, com variações de conteúdo, mas com a mesma proposta.

Mas será que são mesmo dietas mais eficazes?

Com a correria do mundo moderno, dificuldade de preparo das refeições em casa e aumento do acesso à comida rápida, o consumo de carboidratos passou a ser mais intenso. Reduzimos o consumo de alimentos básicos e aumentamos os ultra-processados. Quem não acha mais prático e rápido fazer um lanche, comer um pacote de bolachas ou preparar um desses risotos ou macarrões instantâneos?

Os alimentos fonte de carboidrato são nossa principal fonte de energia e a população tem aumentado o aporte de energia total, principalmente através do aumento do consumo de carnes processadas, sucos, bolos, salgados, refrigerantes, doces, pizza, salgadinhos industrializados, biscoito recheado e bebidas alcoólicas, segundo dados da POF/IBGE 2008-2009, e, precisamos lembrar que a ingesta exagerada, ou seja, maior que a necessidade diária, de forma prolongada, leva ao aumento dos estoques de gordura corporal e consequentemente do peso.

Além disso, o carboidrato pode se relacionar à obesidade quando ingerido em excesso, pois estimula a liberação de insulina, hormônio que favorece o aumento do apetite (podendo, por isso, dar sensação de perda de controle), maior acúmulo de gordura, maior retenção hídrica, aumento dos níveis dos triglicerídeos e o aumento do tamanho das células de gordura.

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Assim, o corte do carboidrato da dieta leva a uma perda de peso rápida nos primeiros dias principalmente porque induz a uma redução no total de energia ingerido e faz os níveis de insulina caírem, mas também porque força o corpo a funcionar em uma espécie de “estado de emergência”. Essa perda de peso brusca inicial pode estimular as pessoas a tentar seguir essa alimentação.

Entretanto a alimentação fica restritiva, pouco variada, monótona e por isso muito difícil de aderir em longo prazo, levando, frequentemente ao reganho de peso e a episódios de compulsão alimentar. Além disso, como a molécula de carboidrato também carrega água, quando o retiramos reduzimos também a água, podendo levar a uma sensação de leveza, mas que nem sempre é sinônimo de perda de gordura.

Outra questão ainda não solucionada pelos estudos é se a elevação dos níveis de insulina é causa ou efeito do sobrepeso. A hiperinsulinemia não é benéfica como já citado, mas a insulina tem uma função no controle do gasto energético, estimulando o sistema nervoso central e a regulação de outro hormônio, chamado leptina, que também atua na indução da saciedade.

Os carboidratos têm ampla função no organismo, não só como fonte de energia (para que possamos exercer nossas atividades diárias, para o crescimento, lactação, gestação, atividade física), mas também possibilitando o funcionamento normal de várias vias metabólicas, dentre eles a própria queima de gordura e aumento da massa muscular.

Estudos mostram que após 12 meses de dieta balanceada versus pobre em carboidrato a perda de peso é semelhante e não existe comprovação científica da associação do ganho de peso com o comer carboidrato à noite. Em longo prazo, essas dietas podem levar a complicações como deficiências vitamínicas, nefrolitíase, osteoporose, hipoglicemia, fraqueza, prisão de ventre, dor de cabeça, letargia, náusea, mau hálito, alterações de humor e prejuízos ao sistema imunológico.

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Podemos concluir que o carboidrato é um vilão quando em excesso constante e quando usado sem balanceamento com os outros nutrientes. A adoção de um estilo de vida saudável, através de uma alimentação variada, com todos os grupos alimentares, ainda é a maneira mais eficaz e sustentável em longo prazo de se manter saudável.

 

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(Ricardo Matsukawa/VEJA.com)

 

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