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Por que emagreço e engordo novamente?

Obesidade é uma doença crônica cujo tratamento deve ter o mesmo rigor destinado a outras patologias

Por Antonio Carlos do Nascimento
Atualizado em 9 jun 2017, 13h03 - Publicado em 9 jun 2017, 13h03

Encontrar as causas da obesidade em outra equação que não a simples aritmética entre calorias consumidas e gastas já é obsessão para muitos cientistas ao redor do mundo, mas não há consenso. Em outra face do tema, o famigerado ganho de peso universal encontra sua explicação na utilização de automóveis, elevadores, controles remotos, informática, entretenimentos e outras comodidades do mundo moderno. Então, em sua gênese, a obesidade ainda é apresentada pela maioria dos que lidam com o distúrbio, como resultante de equívoco comportamental voluntário.

Contudo, observa-se com nitidez nestes últimos anos, nas publicações médicas sobre o assunto, um novo diapasão quando o assunto é a perda de peso e a sustentação deste emagrecimento. Estudos que observaram resultados por períodos mais extensos que os quase convencionais 12 a 18 meses de seguimento expuseram verdades que forçam as buscas por justificativas.

Está ficando bem claro que o impositor linguajar do cérebro em seu jogo químico a nos obrigar à obediência, a nos induzir à ingesta alimentar, é o senhor do jogo. É extraordinário notar a defesa pública desse conceito por nossos pares endocrinologistas.

Afirmar que o tratamento farmacológico mantido ou intercalado por períodos de estreita observação comportamental é o destino óbvio do obeso, era algo para poucos corajosos. E admitir que em situações extremadas do grande obeso a solução vai estar apenas nas hábeis mãos de um cirurgião bariátrico era inimaginável. Mas, se o percentual de sustentabilidade do peso perdido após o findar de qualquer tratamento, farmacológico ou não, é de 10% a 20% (excluído o tratamento cirúrgico), é lúcido aceitar que existem dois grupos para rastrearmos: aquele que reganha o peso e outro que sustenta sua perda.

O papel do hipotálamo na alimentação

Utilizando uma explicação bem simplista, o controle da ingestão alimentar encontra-se em setores de nosso cérebro, mais exatamente no hipotálamo. Por ali, uma substância sabidamente estimula a fome: a grelina. E várias outras são sacietógenas, apertando o botão da saciedade, o sinal que não precisamos mais ingerir alimentos, para abstrair deste texto abordagem excessivamente acadêmica, aceitemos a leptina como representante dos hormônios sacietógenos.

Pois bem, obedecendo a fisiologia, com o emagrecimento, a grelina assume níveis cada vez mais altos e, por outro lado, a leptina decresce progressivamente. Somos empurrados para o peso que tínhamos. O que incomoda é a desobediência fisiológica quando o peso perdido está de volta, pois a grelina não cede aos números pré tratamento e pior ainda, a leptina não retorna ao patamar em que se encontrava antes do tratamento. Então, agora estamos com o peso que não queremos e sendo encaminhados para um número maior na balança.

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O metabolismo basal

A taxa de metabolismo basal é definida como a quantidade de calorias que o organismo gasta em repouso, sendo que os estudos que investigam esse parâmetro no emagrecimento acumulam evidências de que esta taxa decai à medida que ocorre a perda ponderal. Uma lógica matemática: menor universo corporal e menos energia gasta por este indivíduo. Porém, o inverso não é totalmente verdadeiro, após o eventual retorno dos quilos, esse perfil de gasto calórico permanece econômico.

Agora o obeso está com o peso de partida, mas seu corpo gasta boa parte das calorias consumidas como um magro. Injusto, mas real. O que faz 10% a 20% de emagrecidos sustentarem suas perdas ponderais é uma pergunta a ser respondida.

Sabidamente o fator motivacional persistente é base para o sucesso do privilegiado grupo, que apresenta ainda algumas singulares características.

  • são pacientes que partiram de sobrepeso ou obesidade leve
  • fazem pesagens frequentes (ao menos 2 x semana)
  • praticam exercícios físicos (média 5 horas/semana)
  • possuem controle alimentar rígido, evitando fast foods
  • consomem café da manhã proporcionalmente grande em relação às outras refeições
  • costumam trocar açúcar por adoçante.

E, curiosamente,  sempre anotam que é muito difícil sustentar a perda de peso, o fazem com algum sofrimento. É bem sugestivo que essa parcela de indivíduos apresente alguma proteção que lhes permita autonomia no embate com o jogo químico citado acima e ainda assim é necessário um empenho militar para tal conquista.

Alguém escreveu que “impossível é uma palavra criada por alguém que desistiu”. Candidatar-se àquele seleto círculo de sucesso é obrigação, contudo, admitir estar com a maioria nem de longe deve entregar o obeso à frustração. Obesidade é uma doença crônica e como tal impõe tratamento com o rigor destinado a outras patologias, sendo impossível abstrair o médico deste contexto.

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Atentemos, porém, que pequenas perdas ponderais são mais sustentáveis que emagrecimentos mais suntuosos. É quase como afirmar “que a melhor maneira de emagrecer é não engordar”

 

(Ricardo Matsukawa/VEJA.com)

 

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