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Pesquisa abre caminho para a medicina regenerativa no diabetes

Novas pesquisas mostram que a estratégia de tratar diabetes aumentando o número de células beta é uma meta plausível de ser atingida

Por Freddy Eliaschewitz
Atualizado em 20 mar 2017, 12h41 - Publicado em 20 mar 2017, 12h40

Todas as formas de diabetes se caracterizam pela diminuição da quantidade de células beta, que são responsáveis pela produção da insulina, o hormônio que regula os níveis de glicose no sangue.

No diabetes tipo 1 ocorre uma diminuição dramática devido à destruição destas células pelo sistema imunológico, enquanto no diabetes tipo 2 esta diminuição ocorre mais gradativamente e é provocada pelo excesso de trabalho das células beta, que tem que produzir constantemente grandes quantidades do hormônio, tentando compensar a resistência à insulina presente nessas pessoas. A diminuição de células beta ocorre também em outras formas de diabetes, como no diabetes gestacional e no diabetes causado por enfermidades pancreáticas.

Deste modo, a descoberta de uma maneira de fazer com que as células beta proliferem teria um potencial para o tratamento e eventualmente a cura de muitas formas de diabetes. Uma das grandes dificuldades neste campo é que as células beta de seres humanos adultos raramente se multiplicam. Ocorre a proliferação das células beta no período embrionário e em intensidade decrescente até os cinco anos de idade, época na qual o número de células beta presentes representam o estoque que o indivíduo terá disponível ao longo da vida.

Ao contrário do que acontece com seres humanos, nos roedores usados como animais de experimentação, a proliferação destas células ocorre também no período adulto. Este fato explica o fracasso de várias substâncias capazes de induzir a multiplicação de células beta de roedores quando ensaiadas em células humanas. Apesar disso, ao longo dos anos, foram sendo identificados meios de induzir a proliferação de células beta humanas em laboratório. Por exemplo, em 2003, grupos de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com cientistas da Universidade de Perugia, na Itália, descobriram que o veneno de um escorpião (Tityus serrulatus) era capaz de induzir a multiplicação de células beta humanas em cultura (J Investig Med. 2003 Mar;51(2):79-85. doi: 10.1136/jim-51-02-09). Mas não foram capazes de isolar o princípio ativo responsável por este efeito. Algumas drogas com esta propriedade foram identificadas desde então, mas se mostraram excessivamente tóxicas para serem testadas “in vivo” (em pessoas).

Recentemente, um grupo de cientistas trabalhando na Novartis da Califórnia, com financiamento da JDRF (fundação para pesquisa em diabetes juvenil ), descobriu uma substância não tóxica capaz de provocar a multiplicação de células beta adultas tanto de roedores quanto de humanos.

Através de diversas metodologias, os pesquisadores demonstraram, de modo inequívoco, que a aminopyrazina, quando administrada em animais de experimentação nos quais parte das células beta havia sido destruída, era capaz de restaurar o número de células beta, revertendo o diabetes.

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Nos experimentos com células humanas, foram utilizadas ilhotas (que contêm as células beta) que foram transplantadas em camundongos diabéticos. Após a administração de aminopyrazina nesses animais, ocorreu a reversão do diabetes. Recuperadas as ilhotas que haviam sido transplantadas na cápsula renal, verificou-se um grande aumento no número de células beta contidas nas ilhotas.

Em uma série de experimentos posteriores, no sentido de investigar como a aminopyrazina produzia seu efeito, ficou demonstrado que este era devido à inibição de duas proteínas importantes para impedir que a célula entre no ciclo de divisão celular: DIRK1A e GSK3B (Nature Communications 6, Article number: 8372 (2015).

A importância desta pesquisa para a medicina é a demonstração de que é possível induzir a multiplicação de células humanas adultas com substâncias não tóxicas, derrubando o mito de que as células beta não são capazes de se multiplicar após os cinco anos de idade.

Há ainda um longo caminho para que a aminopyrazina possa ser transformado em medicamento. Como as proteínas DIRK1A e GSK3B existem em outras células, é preciso demonstrar que a aminopyrazina não induz a proliferação de outras células além das células beta ou, seguindo as pistas deixadas por este estudo, descobrir outras substâncias que sejam mais específicas.

No mínimo, mesmo que a aminopyrazina nunca possa ser usada como medicamento, sabemos que a estratégia de tratar diabetes aumentando o número de células beta é uma meta plausível de ser atingida, o que incentiva os cientistas e dá esperança aos pacientes.

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(Heitor Feitosa/VEJA.com)

 

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