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Entenda por que o número de casos de sífilis voltou a crescer no Brasil

Temos visto nos últimos cinco anos um grande aumento no número de casos de pacientes que nos procuram com sífilis. O fato é corroborado por clínicos e infectologistas de diferentes regiões do Brasil. O número de pacientes nos quais estabelecemos diagnóstico de acometimento do sistema nervoso central é inusitado na prática clínica dos dias de […]

Por Artur Timerman
Atualizado em 30 jul 2020, 21h12 - Publicado em 1 dez 2016, 12h00

Temos visto nos últimos cinco anos um grande aumento no número de casos de pacientes que nos procuram com sífilis. O fato é corroborado por clínicos e infectologistas de diferentes regiões do Brasil. O número de pacientes nos quais estabelecemos diagnóstico de acometimento do sistema nervoso central é inusitado na prática clínica dos dias de hoje, o que tem levado à internação dos pacientes em tal condição, uma vez que a penicilina para tratamento desse tipo de sífilis só pode ser administrada por via endovenosa (tratamento de quinze dias).

Esse panorama de epidemia detectado pelos médicos da “linha de frente” não foi confirmado pelas autoridades do Ministério da Saúde que afirmavam não haver epidemia de sífilis.

Dois fatos acabaram por contradizer tal posicionamento:

1- Relato do aumento no número de casos em gestantes e de casos de crianças com sífilis congênita (que se constituem nas únicas populações nas quais a doença deve ser compulsoriamente notificada); dados do próprio Ministério da Saúde.

Em 2013, em todas as regiões do Brasil foi observado aumento considerável na notificação de sífilis em gestantes em relação ao ano anterior, variando entre 14,8% (Nordeste) e 44,7% (Sul).

Mais assustador, e corroborando tais observações, são os dados referentes ao número de recém-nascidos com diagnóstico de sífilis congênita: de 1998 a junho de 2014, foram notificados ao Ministério da Saúde do Brasil 104 853 casos de sífilis congênita em menores de 1 ano de idade, dos quais 48 015 (45,8%) na Região Sudeste, 32.884 (31,4%) no Nordeste, 8.959 (8,5%) no Sul, 8.856 (8,4%) no Norte e 6.139 (5,9%) no Centro-Oeste. Em 2013, foram notificados 13705 casos de sifilis congênita em menores de 1 ano de idade, a maioria dos quais (43,1%) na Região Sudeste, seguidos pelo Nordeste (32,2%), Sul (11,4%), Norte (7,8%) e Centro-Oeste (5,5%). Nos últimos dez anos, houve progressivo aumento na taxa de incidência de sífilis congênita: em 2004, a taxa era de 1,7 casos para cada 1.000 nascidos vivos e, em 2013, subiu para 4,7.

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2- A “falta” de penicilina benzatina (formulação da penicilina utilizada para o tratamento de sífilis em todas suas fases, exceto quando do acometimento do sistema nervoso central).

Divulgou-se amplamente que a falta do produto é que tinha sido fundamental na gênese dessa epidemia; na realidade, trata-se de interpretação deturpada: há dados que demonstram incremento na produção do produto pelas empresas farmacêuticas nacionais nos últimos dez anos.

A bem da verdade, a não disponibilização do produto é conseqüência do aumento no número de casos de sífilis, e não sua causa.

Essa deturpação da interpretação é extremamente prejudicial, principalmente tendo em consideração que levará à errônea informação quanto às causas dessa epidemia. As consequências são dramáticas: não se enfatizam as medidas necessárias à implementação dos cuidados a ser adotados na prevenção da sífilis, principalmente aqueles relativos aos cuidados que devem ser tomados durante as relações sexuais.

Expusemos acima os dados epidemiológicos que demonstram a gravidade do problema; vamos nos ater aos fatos e não procurarmos desculpas para negligenciar a educação em prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.

Isso posto, devemos relembrar que os dados aqui apresentados relativos à sífilis podem ser caracterizados como premonitórios em relação aos dados recém-divulgados sobre o aumento do número de novos casos de infecção pelo HIV no Brasil; os mecanismos de transmissão das duas infecções se assemelham, como sabemos.

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A sífilis é uma doença sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum. A principal via de transmissão é através do contato sexual, mas ela também pode ocorrer da mãe para o feto durante a gravidez ou no momento do nascimento, resultando em sífilis congênita.

Os sinais e sintomas da sífilis variam dependendo da fase em que se apresente (primária, secundária, latente e terciária). O diagnóstico é feito geralmente por meio de exames de sangue.
Era preocupante o crescimento da endemia sifilítica no século XIX. Depois de ter sido constatada expressiva redução no número de casos a partir da ampla disponibilização de penicilina na década de 40, as taxas de infecção vêm aumentando desde a virada do milênio, em muitos países, com a infecção por essa bactéria muitas vezes em combinação com a transmissão do vírus da imunodeficiência humana (HIV). Isso tem sido atribuído em parte às práticas sexuais inseguras, ao aumento do número de diferentes parceiros sexuais, à prostituição e à diminuição do uso de preservativos.

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