Ainda temos desnutridos?
A fome oculta é uma das formas menos visíveis da má nutrição. Nossos novos desnutridos não têm necessariamente baixo peso, mas uma alimentação inadequada
Há poucos anos, o panorama de nutrição da criança brasileira, mostrava que a desnutrição cobrava um preço elevado para o nosso futuro. Taxas comparadas a de países muito menos desenvolvidos assustavam os pediatras e governantes, que entendiam que o baixo peso por falta de alimentos determinaria riscos enormes para o crescimento, desenvolvimento e a defesa contra infecções em nossas crianças.
Consequências da desnutrição
Com a melhoria dos sistemas de saúde, o aumento do saneamento básico e algum avanço no poder econômico, as populações de crianças desnutridas foram diminuindo, e ficaram as consequências. Gerações inteiras de escolares com aprendizado inadequado, poucos recursos para a memória e resolução de problemas. Os que conseguiam escapar da desnutrição tinham pouca estatura.
A baixa estatura nutricional ou o crescimento inadequado por falta de nutrientes chegava a alcançar uma em cada quatro crianças em idade escolar. A diferença de estatura do adolescente brasileiro poderia ser de até 10 centímetros, quando comparada ao colega de países como os Estados Unidos, e até 15 centímetros com os dos países europeus.
Sobrepeso
A desnutrição foi ficando para trás, e já não é mais um grande problema de saúde pública, mas trocamos esta situação pelo aumento do excesso de peso. As taxas de sobrepeso e obesidade não param de crescer, e começam cada vez mais cedo.
Por que estamos falando disto agora? Por que em regiões e países que são nossos vizinhos geográficos ou por afinidade, estamos tendo um novo fluxo de desnutridos. Na Venezuela, na Bolívia, nos países africanos e nos do Oriente Médio, a fome vem grassando por motivos de guerras ou problemas políticos. A falta de alimentos é o aspecto comum.
Fome oculta
Mas, talvez um dos grandes problemas de nosso tempo é que estamos vendo um incremento da chamada Fome Oculta. Ou seja, a carência não tão facilmente vista ou diagnosticada dos micronutrientes – ou as vitaminas e minerais. Assim, cada vez mais, vemos crianças com deficiência de ingestão de ferro, cálcio, vitamina A e D. A falta diária de alimentos ricos nestes elementos tão importantes, como as frutas, verduras e legumes é a principal causa desta doença ou conjunto de doenças.
O aumento da seletividade ou de grande número de casos de crianças e famílias com restrição de consumo de leites e derivados, carnes e outros alimentos, eleva o risco de apresentarmos falta de alguns dos minerais e vitaminas essenciais ao nosso metabolismo.
Alguns dos aspectos mais comuns destas carências são o cansaço, apatia, dificuldades de apetite, ganho de peso e estatura insuficientes, problemas de pele e menor resistência a infecções. E, novamente, um dos problemas que víamos nos tempos da desnutrição volta à tona. A relação entre a falta de nutrientes e a capacidade cognitiva, ou seja, o que havíamos descrito como memória, inteligência, capacidade escolar e de aprendizado alteradas. A anemia por falta de ferro e a deficiência de zinco, entre outros minerais, podem levar a alterações do apetite e crescimento.
Portanto, a fome oculta é uma das formas menos visíveis da má nutrição. Nossos novos desnutridos não têm necessariamente baixo peso, mas têm em comum a alimentação inadequada. Não mais por falta de comida, mas por não comerem corretamente.
Por este motivo, dizemos que nossos novos desnutridos não necessariamente têm o aspecto de uma criança esquálida, pele e ossos… Podem ser até obesos ou apresentar excesso de peso. Mas, no fundo, as deficiências de ingestão estão presentes e cobram um alto preço.
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Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Artur Timerman, infectologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde, psiquiatra
Luiz Kowalski, oncologista
Marcus Vinicius Bolivar Malachias, cardiologista
Marianne Pinotti, ginecologista
Mauro Fisberg, pediatra
Miguel Srougi, urologista
Paulo Hoff, oncologista
Paulo Zogaib, medico do esporte
Raul Cutait, cirurgião
Roberto Kalil – cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
Salmo Raskin, geneticista
Sergio Podgaec, ginecologista
Sergio Simon, oncologista
Walmir Coutinho, endocrinologista