S.O.S. ervas culinárias: como fazê-las sobreviver ao verão
Do alecrim ao manjericão, saiba quais são as ervas mais e menos resistentes ao nosso calorão infernal - e o que pode ser feito para socorrê-las
A coisa está difícil: com esse calor de rachar o coco, as hortas estão vivendo seu momento terrível do ano. Mas, ao menos no caso dos meus canteiros, a desgraça que abate as verduras é compensada por uma visão consoladora: não é que as ervas aromáticas, aquelas que a gente usa para temperar carnes e massas, estão resistindo ao bafo quente? Ou, para ser mais honesto: algumas delas sobrevivem com notável viço – enquanto outras, tadinhas, possivelmente iriam engrossar a vala comum das vítimas do verão se não fossem devidamente socorridas.
Há muita teoria em voga por aí sobre a melhor forma de acudir as ervas nessa época do ano. Mas prefiro compartilhar com você o que aprendi na prática, depois de levar muita bordoada na hora do cultivo real. Então eis uma escala que vai das ervas aromáticas menos resistentes até a campeã de adaptação ao nosso clima quente, com dicas para minimizar o problema – na medida do possível, claro:
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ESTRAGÃO – BAIXA RESISTÊNCIA
O ingrediente essencial do molho Béarnaise – uma glória da cozinha francesa – suporta bem a seca em seu ambiente de origem, que vai do leste da Europa à Ásia central. Mas, note-se, está-se falando de climas secos temperados pelo frio. No Brasil, com exceção da região Sul e de locais serranos, o estragão prefere a amenidade de um clima de estufa. Então é melhor se conformar: mesmo com regas regulares, será duro mantê-lo viçoso no verão brasileiro. Minha dica: tente plantá-lo a partir do final de março, para ter estragão à disposição pelo menos do outono ao meio da primavera seguinte.
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MANJERICÃO – MÉDIA RESISTÊNCIA
Felizmente, a erva asiática favorita de quem ama pizzas e massas – imagino que você está pensando agora naquela pizza marguerita de aroma incrível – suporta bem nossa estação quente. Isso vale inclusive para sua variedade de folhas graúdas (excelente para saladas) e um pouco menos para o manjericão roxo (muito usado na cozinha tailandesa – pense numa picante salada de papaia verde…). O probleminha: embora adore o calorão, o manjericão exige alguma umidade na terra.
Então, aqui vale um meio termo: se na sua casa ou apartamento é possível regá-lo sempre que ele ameaça sofrer com o calor, ele irá que é uma beleza. Minhas dicas: na dúvida, invista no manjericão comum, que é mais forte – e plante as mudinhas no começo da estação chuvosa, lá por dezembro, para que ele chegue ao abafado mês de fevereiro já com raízes bem desenvolvidas.
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SÁLVIA – MÉDIA RESISTÊNCIA
Sálvia não pode faltar na casa de quem gosta de comida italiana: ela é fundamental num prato italiano como a saltimboca (em que se combinam suas folhas tenras com fatias de prosciutto crudo para temperar saborosos escalopes) e também na magnífica simplicidade de um spaghetti com manteiga, alho e suas folhas picadas. Típica da região do Mediterrâneo, a sálvia aguenta bem o tranco da seco e do solzão bravo. Mas até para ela o verão tropical às vezes pode ser demais, especialmente quando se trata de mudas novas. Minhas dicas: plante na estação chuvosa e aumente a frequência das regas nos dias muito abafados e secos. A própria planta indica quando está sofrendo: suas folhas se enrolam e começam a cair.
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MANJERONA – ALTA RESISTÊNCIA
Essa erva rasteira é muito parecida com o orégano, mas tem um twist diferenciado: minha avó de ascendência italiana não abria mão de botar uns bons ramos para incrementar a canja. Vinda de terrenos secos e pedregosos da costa do Mediterrâneo, ela é bem equipada para suportar o calorão. No alto verão, no entanto, a planta pode perder boa parte de suas folhas miúdas, ficando com o aspecto de seca. Minha dica: quando isso ocorrer, aproveite para podar galhos secos e renovar sua touceira de manjerona.
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ALECRIM – ALTÍSSIMA RESISTÊNCIA
O arbusto é mais uma espécie ilustre de origem mediterrânea. Quem já circulou de trem pelo interior árido da Espanha pode ter tido a chance de comprovar sua resistência: em meio aos terrenos calcários e pedregosos, touceiras vigorosas de alecrim quebram a monotonia no trajeto de Madri a Toledo, Sevilha ou Segóvia. E isso se repete por aqui: dentre as ervas aromáticas mais populares, o alecrim é sem dúvida a que mais resiste às nossas condições de calor. Pode ficar dias e dias incólume sem receber uma gotícula de água – na verdade, em geral ele até gosta e solta suas belas flores azuladas quando submetido a tal sofrimento. Minha dica, então, vai no sentido contrário ao das anteriores: brinde seu alecrim com um lugar de muito sol direto (principalmente o da tarde) e canteiros ou vasos que não acumulem água.