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Por Coluna
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“O Matador”: aparência em vez de substância

Primeiro longa nacional da Netflix tromba sem mapa por um sertão reciclado das novelas

Por Isabela Boscov 11 nov 2017, 19h46

Acuado por uma dupla de cangaceiros no sertão, o fulano tenta ganhar tempo: “Sou bom de contar histórias”. Que engano. A história que ele conta – sobre o menino criado pelo matador Sete Orelhas que cresce para se tornar o matador Cabeleira e trabalha para o Francês que matou a família de Fernanda que é prima do escrivão Quatro Olhos etc. etc. – vem como está aí em cima mesmo: sem pontuação, sem nexo e principalmente sem qualquer razão de ser. Por que O Matador foi o projeto escolhido para inaugurar a produção brasileira de longas da Netflix? Não faço ideia. Não há indício de que o público tenha um interesse ardente por faroestes de cangaço (nem quando eles são consideravelmente mais bem-feitos, como o recente Entre Irmãs). E não me parece possível que alguém tenha lido este roteiro (uso a palavra com liberalidade) e enxergado nele um material promissor. Eu poderia enumerar as várias falhas, vitais ou não, em que O Matador incorre: o “nordestês” de novela, as interpretações quase que sem exceção muito ruins (mesmo por parte de bons atores), a estrutura precária da dramaturgia, a desordem da gramática narrativa, os personagens que entram e saem da história sem explicação (e também sem fazer falta). Mas o fato é que todas essas falhas nascem do mesmo lugar: da ideia de que aparência vale mais do que a substância. Produção boa é indispensável – mas como funcionária leal da história. Não serve como esqueleto para ela parar em pé, nem para dar a ela a musculatura que ela não tem. O Matador não parece saber muito bem a que se destina, nem conter conhecimento genuíno sobre o sertão das primeiras décadas do século 20 – ou, se o tem, preferiu assim mesmo reciclar a versão folclórica dele. É filmado com aquela fotografia “bonita”, que torna o agreste pitoresco e fotogênico, e investiu nos cenários e locações. Mas é tão de araque quanto as valiosíssimas turmalinas-paraíba que Cabeleira adora, representadas no filme por uns cristaizinhos em lapidação de bijuteria. Nem tudo que passa no cinema (ou na Netflix) é cinema – ou serve sequer para passar o tempo. E, sim, eu sei que alguém deve estar esperando que eu mencione a inspiração em Grande Sertão: Veredas, mas não vou fazer isso com Guimarães Rosa.


Trailer

O MATADOR
Brasil, 2017
Direção: Marcelo Galvão
Com Diogo Morgado, Deto Montenegro, Marat Descartes, Etienne Chicot, Maria de Medeiros, Paulo Gorgulho, Daniela Galli, Mel Lisboa

 

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