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Por Coluna
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Jogos Vorazes: A Esperança – O Final

Por Isabela Boscov Atualizado em 31 jul 2020, 00h04 - Publicado em 18 nov 2015, 21h00

Leia em seguida a minha resenha para o filme publicada na revista Veja.


Choque de realidade.

No capítulo final da saga Jogos Vorazes, não há idealismo que não venha temperado pela experiência. Até a celebração do girl power, aqui, é moderada por ressalvas e advertências.

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Como é hábito nos filmes da série, Jogos Vorazes: A Esperança – O Final , começa sem nenhum preâmbulo e retoma a ação do exato momento em que ela havia parado. Mas trata-se de um momento carregado de simbolismo: uma médica examina os extensos hematomas na garganta da protagonista Katniss Everdeen e pede a ela que tente encontrar sua voz. Não é só o inchaço causado por uma tentativa de estrangulamento que silencia Katniss. Joguete de um governo totalitário nos dois primeiros filmes da saga, e brandida como símbolo da resistência no filme anterior e neste capítulo derradeiro, Katniss é uma heroína de singulares lucidez e maturidade – e isso inclui saber que a independência de espírito e a independência de ação não são proporcionais. Seu dilema, portanto, é complexo: quando (ou se) falar com sua própria voz, o que deveria dizer? Que conhecimento ou mensagem poderia propagar que não venha, com o tempo, se provar uma nova mentira?

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A saga Jogos Vorazes, da autora Suzanne Collins, é a pioneira da leva recente de distopias para o segmento “jovem adulto”. E é também, com vantagem expressiva, a melhor delas até aqui. Escrita com circunspecção por Suzanne e interpretada por Jennifer Lawrence com a gravidade natural e a garra férrea que primeiro a destacaram em Inverno da Alma, de 2010, Katniss é uma heroína verdadeira: a ficção juvenil é sempre heróica e guiada por conceitos como autossacrifício, abnegação, desprendimento, lealdade, incorruptibilidade, e Katniss é capaz de todas essas coisas. Mas ela já passou fome, já matou muito e acumula um imenso conhecimento pragmático acerca da vida. Seu problema, em cada episódio, é o mesmo, em diferentes contextos – até que ponto deixar-se usar para, em troca, usar também e promover aquilo que seus princípios e sua consciência lhe dizem ser o certo. A matéria-prima, aqui, não é a introdução ao mundo adulto: é o cálculo de prejuízos e benefícios que ser adulto implica.

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A maturidade costuma chegar rápido em Panem, um país que se formou a partir dos escombros de alguma catástrofe e no qual doze distritos vivem sob o tacão da Capital e do presidente Snow (Donald Sutherland). Houve um 13º distrito, mas ele foi arrasado 74 anos antes, por causa de um levante. Para que ninguém volte a pensar em rebelião, desde aquela data realizam-se anualmente em Panem os Jogos Vorazes. Cada distrito sorteia um menino e uma menina de 12 a 18 anos, e as 24 crianças são jogadas numa arena para se digladiarem até a morte. Só um vitorioso pode restar. Mas, no ano em que participou, Katniss se recusou a matar o último sobrevivente, seu amigo e ocasional paixão Peeta (Josh Hutcherson), e abalou Panem: como método de controle, poucas coisas são tão eficazes quanto lembrar aos cidadãos que nem seus próprios filhos lhes pertencem, e que o Estado tem sobre eles direito de vida e morte; mas, se é possível subverter essa prerrogativa, tudo o mais pode ser subvertido também.

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Em A Esperança – O Final, Katniss está na etapa derradeira do caminho que começou a trilhar naquele dia. Está do lado certo da guerra com a Capital: serve ativamente à resistência, incitando a população dos doze distritos a juntar-se à rebelião. Em suas constantes visitas às áreas bombardeadas pelo presidente Snow, Katniss é seguida por uma equipe de filmagem, que então leva ao ar os discursos inflamados da heroína. Desde o filme anterior, desenhou-se uma cumplicidade interessante entre Katniss e a diretora dessas peças de propaganda, Cressida (Natalie Dormer), que é tão jovem quanto ela: Cressida eliminou da agenda de Katniss os discursos ensaiados, e só filma os momentos em que ela está sendo absolutamente sincera. Cressida talvez queira apenas o valor publicitário da indignação genuína. Ou pode ser que pressinta a mesma coisa que Katniss: do lado certo também há gente errada, e não é improvável que a chefe da resistência, a presidente Coin (Julianne Moore), esteja só à espera de conquistar o poder para se tornar tão tirânica quanto Snow. No desassombrado Jogos Vorazes, até essa norma da cultura pop contemporânea, a celebração do girl power, vem com ressalvas e advertências. É fantasia, mas com um choque de realidade.

Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA no dia 18/11/2015
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2015

JOGOS VORAZES: A ESPERANÇA – O FINAL
(The Hunger Games: Mockingjay – Part 2)
Estados Unidos, 2015
Direção: Francis Lawrence
Com Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Julianne Moore, Philip Seymour Hoffman, Donald Sutherland, Mahershala Ali, Patina Miller, Woody Harrelson, Liam Hemsworth, Natalie Dormer, Jena Malone, Jeffrey Wright, Stanley Tucci
Distribuição: Paris Filmes
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