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House of Cards – A Quinta Temporada

Agarrado às beiradas do poder, Frank Underwood fica ainda mais obsceno

Por Isabela Boscov Atualizado em 7 jun 2017, 13h12 - Publicado em 7 jun 2017, 13h04

ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS PARA QUEM AINDA NÃO CHEGOU AO EPISÓDIO 10


Esta quinta temporada de House of Cards estica a credibilidade ao máximo, e às vezes distende um músculo com tanta ginástica: como alguns Estados americanos se recusam a validar a contagem dos votos na disputa entre o democrata Frank Underwood e o republicano Will Conway, suspende-se a vitória de Conway e o resultado da eleição presidencial fica no ar – durante meses. Mais assombroso ainda: para conter o caos constitucional, nomeia-se a primeira-dama Claire Underwood presidente interina, num caminho que ficou com muito mais jeito de malabarismo de roteirista do que de processo legal crível. Algo importante aconteceu com House of Cards entre o ano passado e este: o criador, roteirista-chefe e supervisor da série, Beau Willimon, foi substituído nas suas funções. Os novos showrunners se esforçam para seguir tal e qual os passos de Willimon. Mas, em matéria de sutileza, deixam a desejar. Aquela cara de clímax sexual com que Frank e Claire se olham a cada tramoia que armam, por exemplo, chega perto demais da paródia. Por outro lado, a tendência dos showrunners a sublinhar tudo é benéfica ao que talvez seja o aspecto mais interessante e notável desta nova temporada: se a maneira como Frank perseguia o poder já era repulsiva, a forma como ele se comporta agora que está se segurando pelas beiradas dele é decididamente depravada.

Frank Underwood sempre foi um canalha, e talvez também um sociopata. As maquinações e armações que ele e Claire deflagram para concentrar poder são não apenas criminosas, como tristemente verossímeis – e a paixão do casal pelo poder em si, pelo gosto de tê-lo e de exercê-lo para manipular e dominar (e para preencher o seu imenso oco interior), está inteira também dentro da esfera do real. É um horror, mas mais até que a eleição de Donald Trump (Will Conway, despreparado e destemperado, é quem faz as vezes de Trump aqui), o noticiário brasileiro é que é agora uma inspiração assumida para a série – exceto pelas quantias bilionárias da corrupção nacional, que nos Estados Unidos seriam mais difícieis de negociar com essa liberdade e esse abandono que se veem aqui.

O que consegue chocar nesta nova temporada, depois de tanto descalabro já visto nas quatro temporadas anteriores, é a nudez de Frank. Consciência de que a interinidade de Claire é a sua tábua de salvação ele tem; foi ele mesmo quem deu um jeito de ela acontecer. Mas ver Claire ser chamada de presidente no lugar dele, ter de ficar sentado no sofá do Salão Oval enquanto ela ocupa sua cadeira, e principalmente ter de aguentar que ela tome decisões em público, quando ele não pode atropelá-la à vontade – isso acaba com ele. Frank é um javali ferido. Estrebucha, baba, odeia e cobiça, e nem se importa mais que vejam a sua cólera.

Mas Frank está convicto de que seus ferimentos não são fatais, e tem toda intenção de se levantar. Essa é a parte mais obscena da coisa. Vê-lo alisando e conchavando, oferecendo vantagens ou achacando nessa situação de inferioridade em que ele se encontra – é como bater os olhos sem querer em alguém se masturbando no vagão do metrô; é sórdido, é constrangedor e não dá para des-ver. Mas o dano à retina e à sensibilidade está longe de ser o pior que Frank é capaz de causar. House of Cards tem mais um alerta a fazer sobre o seu protagonista lascivo e venal: que ninguém o subestime. E que ninguém subestime também a capacidade do caos político e constitucional de tornar viável aquilo que é impensável. Meu desejo sincero é que os roteiristas de House of Cards apenas se inspirem na política brasileira – não que possam profetizá-la.

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