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Por Coluna
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A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell

Um filme que queria tanto tanto ser “Blade Runner” que dá até uma peninha

Por Isabela Boscov Atualizado em 30 mar 2017, 18h47 - Publicado em 30 mar 2017, 17h09

Em New Port City, não se encontra ninguém que não tenha algum tipo de aprimoramento cibernético, de entradas de dados piscando nas têmporas até fígados sintéticos que permitem ao freguês beber quanto quiser, sem medo de ressaca nem cirrose. Mas, mesmo nesse ambiente de fusão orgânica e meca-eletrônica tão disseminada, a Major (Scarlett Johansson) é um experimento singular: com corpo inteiramente fabricado e cérebro humano, retirado de uma refugiada encontrada à morte, ela indica possibilidades ilimitadas para o futuro. É, também, uma arma poderosa para a unidade antiterrorista conhecida por Seção 9, ligada ao governo mas financiada pela empresa Hanka, que criou esse ser único: a Major é igualmente eficaz no mundo real, distribuindo balas e chutes, e no mundo virtual, dissolvendo-se em fileiras de código. Assim, quando um terrorista de identidade ignorada começa a matar um a um os cientistas da Hanka, cabe à Major caçá-lo – e, sem querer, descobrir algo sobre sua própria origem.

A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell
(Divulgação)

São evidentes as influências de A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell. Aliás, nem sei se influência é a palavra apropriada: Vigilante queria tanto, tanto, mas tanto mesmo ser Blade Runner (e, de quebra, Matrix também, mais um tanto de RoboCop) que dá até uma peninha. Empenho não faltou ao diretor Rupert Sanders, de Branca de Neve e o Caçador. O que faltou foi uma fagulha que desse ao filme uma alma própria ou uma vida só sua. Sanders incorpora tudo o que de mais palpitante se produziu na ficção científica das últimas décadas sobre a hibridização humana, a inteligência artificial e a fluidez entre o real e o virtual para a qual se caminha. Apesar do cuidado dedicado à produção, porém, ele não consegue incorporar o essencial: justamente a palpitação, a eletricidade e a sensação de ruptura que esses outros filmes provocaram.

A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell
(Divulgação)

Vigilante tem a seu favor, antes de mais nada, Scarlett Johansson, que, com seu modesto 1m60, se tornou aquilo que várias valquírias do cinema tentaram, mas não conseguiram ser: uma genuína estrela de ação – tanto pela força da personalidade, da fisicalidade expressiva e daquela voz grave e sedutora quanto pela agilidade técnica adquirida nos filmes da Marvel, como Viúva Negra, ou ainda no viajandão Sob a Pele e no absurdo mas divertidíssimo Lucy, de Luc Besson. Scarlett já chegou a compor uma personagem irresistível na qualidade de voz incorpórea, em Ela, no qual interpretava o áudio de um sistema operacional inteligente (um feito tão notável que iniciou uma discussão na Academia sobre como fica o Oscar quando o desempenho é só vocal).

A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell
(Divulgação)

Em Vigilante, porém, amparada por um roteiro genérico, que segue sem inovação os compassos do esquema apresentação-crise-revelação, nem Scarlett consegue dar o volume necessário às sugestões intrigantes contidas na personagem. A mente da Major não reconhece o seu corpo, e ela tem de tomar drogas que evitam uma revolta contra ele. Pior ainda, ela nem mesmo sente seu corpo – é verdadeiramente uma alma dentro de uma casca, como diz o título original, abrindo a porta para discussões sobre humanidade que o filme nunca desenvolve além dos estágios óbvios. (Outra coisa que fica pelo meio do caminho: os coadjuvantes. Quando nem Takeshi Kitano, Juliette Binoche e Pilou Asbaek – com quem Scarlett tinha uma química sensacional no começo de Lucy – causam muita impressão, é que algo está mesmo errado.)

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A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell
(Divulgação)

Outro ponto forte é a cidade futurista moldada em múltiplas camadas sobre Hong Kong – suja, populosa e sórdida como a Los Angeles de Blade Runner, e com os mesmos rasgos assombrosos de beleza – como nos gigantescos comerciais holográficos que brotam, fantasmagóricos, dentre os edifícios. O interesse do cenário, no entanto, é também ele incapaz de sustentar sozinho o envolvimento. Hipnótica no visual mas banal nas emoções, esta adaptação do mangá de 1989 de Masamune Shirow ilustra como pode ser difícil transpor para o cinema um original que é ao mesmo tempo cultuado por um contingente de fãs, e desconhecido de grande parte do público. Rupert Sanders quer ser fiel ao mangá e aos animés japoneses feitos a partir dele. Quer atrair a plateia que não conhece o mangá mas gosta de ficção científica ou de Scarlett. Quer que o público viaje no visual e na história. Quer somar tudo isso e ser algo mais do que a soma dessas partes. Mas não chega lá. Sua criatura é linda, porém robótica – uma casca quase sem alma.


Trailer

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A VIGILANTE DO AMANHÃ: GHOST IN THE SHELL
(Ghost in the Shell)
Estados Unidos, 2017
Direção: Rupert Sanders
Com Scarlett Johansson, Pilou Asbaek, Juliette Binoche, Takeshi Kitano, Micahel Pitt, Chin Han, Anamaria Marinca, Kaori Momoi
Distribuição: Paramount

 

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