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A mulher que revelou os bastidores do Facebook

Em seu livro 'The Boy Kings', Katherine Losse fala sobre machismo, projetos secretos e a rotina dentro da maior rede social do planeta

Por James Della Valle
10 ago 2012, 10h20

“O código sexual ficou claro: mulheres deveriam mostrar sua dedicação ao Mark, enquanto que os homens deveriam se tornar o Mark”, aponta a autora em um trecho de sua obra.

Katherine Losse, 36, ocupou por três anos um cargo chave dentro do Facebook, a maior rede social do planeta. Ela era gerente de internacionalização da companhia, além de ser a pessoa responsável por publicar todos os anúncios oficiais do CEO Mark Zuckerberg – o que lhe garantia acesso a informações confidenciais, como planos de expansão da empresa e o desenvolvimento de ferramentas que nunca foram efetivadas. Com o crachá de número 51, ela começou em 2005 na empresa, ainda como funcionária do setor de atendimento ao cliente, e em apenas um ano conquistou a confiança do jovem executivo, que elogiava sua competência profissional e seu conhecimento excepcional do inglês.

Depois de conhecer como poucos os bastidores da empresa que se transformou numa das gigantes da internet, Katherine decidiu contar a história – ou pelo menos parte dela – no livro The Boy Kings: A Journey into the Heart of the Social Network, ainda não traduzido para o português. Em entrevista exclusiva ao site de VEJA, ela conta como foi trabalhar com o jovem mais famoso do setor de tecnologia, além de falar sobre alguns segredos da empresa, como o recurso que criava perfis de pessoas que não estavam cadastradas na rede.

Rotina de trabalho – Gente excêntrica e muitas festas? Sim. A imagem que as pessoas fazem do ambiente de trabalho nas empresas de tecnologia e internet corresponde a parte da realidade no caso do Facebook. No livro, Katherine conta que alguns dos engenheiros usavam rip sticks, skates de duas rodas, para se locomover entre os departamentos. E isso era algo que não espantava os demais funcionários. “Trabalhei com vários jovens com comportamento infantil, mas nós nos dávamos bem como colegas. O importante era concentrar os esforços no crescimento do site e fazer as coisas funcionarem de forma eficiente”, diz. Fora da empresa, as festas eram comuns, e muito parecidas com as das universidades. A outra parte do trabalho era pura rotina, como em qualquer empresa. “Eu chegava às 10h e abria o expediente com e-mails sobre o site ou qualquer outro assunto que precisasse de atenção. Trabalhava até resolver todos os problemas, o que acontecia lá pelas 19h.”

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Biblioteca

The Boy Kings: A Journey into the Heart of the Social Network

Livro
Livro (VEJA)
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O livro conta detalhes de bastidores do Facebook, a maior rede social do planeta. A autora revela segredos da empresa e fala do machismo no ambiente de trabalho.

Autor: Katherine Losse

Editora: Free Press

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O rei da rede – No livro, Katherine descreve Mark Zuckerberg como uma pessoa introspectiva e extremamente dedicada ao trabalho. “Ele é quieto, se concentra muito na construção do Facebook e na realização das suas ideias”, diz. Segundo a autora, Zuckerberg também é um pouco mais calmo do que a sua versão apresentada no filme A Rede Social. “Ele gosta de se socializar algumas vezes, aos finais de semana, mas há ocasiões onde é visível a sua preferência pelo trabalho.”

Para a autora, a recente queda no preço das ações da companhia, em julho, não está ligada à imagem de Zuckerberg – que foi amplamente criticada por analistas financeiros -, e sim às dificuldades da empresa em atender às altas expectativas do mercado.

Ambiente machista – No dia do aniversário de 22 anos de Zuckerberg, em 2006, a autora conta que todas as mulheres do escritório foram obrigadas a usar camisetas estampadas com a imagem de seu chefe. Os homens deveriam apenas usar sandálias da Adidas. “O código sexual ficou claro: mulheres deveriam mostrar sua dedicação ao Mark, enquanto que os homens deveriam se tornar o Mark”, diz o trecho do livro. A passagem reflete uma companhia composta principalmente por jovens engenheiros. As poucas mulheres estavam restritas à área de atendimento ao cliente.

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“Não acho que ele realmente queria essa imagem de fraternidade universitária para a companhia, mas foi o que aconteceu – por algum tempo”, afirmou a autora na entrevista a VEJA. “Os engenheiros ditavam o tom de forte influência masculina na empresa. Talvez isso esteja mudando hoje, com a chegada de mais mulheres em postos importantes dentro do Facebook.”

Privacidade – Katherine conta que, em 2006, os engenheiros da rede criaram um recurso experimental chamado “Dark Profiles”, capaz de criar perfis secretos para pessoas que não estivessem cadastradas no Facebook. O sistema coletava nomes e imagens em fotos com tags, criando um pequeno banco de dados. Caso a pessoa resolvesse entrar no site, ela já teria um perfil pré-montado. “Por trás dos panos, a maioria das companhias na área de tecnologia recolhem esses dados de qualquer um que utilize seus serviços”, afirma a autora.

Outro exemplo citado no livro sobre as ideias malucas que ja fizeram parte dos mentores do site é a existência de uma senha mestra, capaz de acessar qualquer perfil na rede, com direito à alteração e remoção de informações. Katherine diz que essa é uma ideia que ficou no passado, não faz mais parte do sistema. “Esse recurso foi abolido do site, e não existe mais.”

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Vinda ao Brasil – Ainda acordo com o livro, em 2009, o CEO do Facebook quase desistiu de uma viagem ao Brasil para divulgar a empresa porque ficou em dúvida se a empreitada valeria o esforço. Zuckerberg tinha uma preocupação exagerada com segurança. Ele temia sobretudo ser alvo de um sequestro. Só concordou com a viagem ao cercar-se de uma poderosa equipe de guarda-costas formada por ex-militares – incluindo um soldado americano que serviu no Iraque e um segurança que atuou na guarda pessoal da cantora Britney Spears. Katherine entende que o investimento faz sentido para um executivo na posição de Zuckerberg. “Muitas pessoas nos Estados Unidos têm a percepção de que o Brasil é um lugar perigoso. Provavelmente essa foi a justificativa para a busca de tanta segurança”, disse.

A saída – A decisão de deixar seu cargo dentro Facebook foi difícil para Katherine. Ela escreve que, a partir de 2009, a rede social começou a se dedicar inteiramente à obtenção de dados dos usuários. A cultura de unir as pessoas se perdia dentro de tantas oportunidades financeiras, que dependiam da oferta de dados intimamente relacionados à privacidade dos usuários. Por fim, em 2010, ela decidiu abandonar Zuckerberg e sua equipe. “Eu queria explorar outras oportunidades, e por isso eu saí”, argumenta com diplomacia.

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