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Miss EUA 2014 pira feministas ao sugerir que mulheres aprendam autodefesa para evitar estupros

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 03h41 - Publicado em 11 jun 2014, 19h50

Miss America

Lembra o debate sobre a “cultura do estupro“, que surgiu no Brasil após aquela pesquisa fajuta do IPEA, desmascarada neste blog? Pois é. Agora temos uma versão americana da coisa.

A Miss Nevada Nia Sanchez, uma jovem de 24 anos nascida em Las Vegas e faixa-preta de quarto grau em taekwondo, foi coroada Miss Estados Unidos 2014 na noite de domingo, mas uma de suas respostas durante o concurso repercutiu mais que a sua beleza. Quando a jurada Rumer Willis, a filha de 25 anos de Bruce Willis e Demi Moore, disse que 19% das universitárias do país são vítimas de agressão sexual (dados falsos, como já se verá) e perguntou a Sanchez por que ela acha que isso está sendo varrido para debaixo do tapete e o que deve ser feito a respeito, a modelo lutadora deu um belíssimo pontapé no politicamente correto, dizendo o que traduzo abaixo do vídeo:

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=zhyr-J6tieg?wmode=transparent&fs=1&hl=en&modestbranding=1&iv_load_policy=3&showsearch=0&rel=1&theme=dark&w=620&h=349%5D

Acredito que algumas faculdades possam temer ficar com uma má reputação, o que seria uma razão para que isto seja varrido para debaixo do tapete, porque elas não querem que venha a público. Mas eu acho que mais conscientização é muito importante para que as mulheres possam aprender a se proteger. Eu mesmo, como uma faixa preta quarto grau, aprendi desde cedo que é preciso ser confiante e ser capaz de se defender. E eu acho que isso é algo que devemos começar realmente a implementar para um monte de mulheres.

Foi o bastante para pirar milhares de tuiteiras. Veja alguns exemplos abaixo, que comentarei em seguida. Nada irrita mais as feministas do que uma Miss reaça:

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Feminista 1

“Miss Nevada foi questionada sobre estupro nas faculdades e respondeu que as mulheres precisam aprender a se defender… OU HOMENS PODERIAM SIMPLESMENTE NÃO ESTUPRAR.”

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“As mulheres não deveriam precisar aprender a se proteger contra estupro, Miss Nevada. Eduque-se e respeite a si própria como uma mulher. #CulturaDoEstupro”

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“Desculpe, Miss Nevada, nós não precisamos ensinar as mulheres como nos defendermos melhor. Precisamos ensinar aos homens a não se sentir no direito de estuprar.”

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“Me desculpe, mas as mulheres não deveriam precisar ter aulas de autodefesa para se proteger de estupro.”

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“Miss Nevada descreveu como indivíduos precisam se proteger do estupro, em vez de ensinar os outros a não estuprar. Pare de culpar a vítima.”

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“Nada satisfeito com a resposta da Miss Nevada de que, para acabar com o estupro, devemos ensinar as mulheres a se defender… Por que nós não ensinamos os homens a não estuprar?”

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“Como ela venceu após essa resposta terrível e ofensiva? Idiota.”

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“Vamos esperar que Nevada use seu tour pela mídia para reiterar que ensinar as meninas a se defender NÃO é a melhor maneira de se proteger contra agressão sexual.”

Captura de Tela 2014-06-11 às 12.16.19“Miss Nevada, que simplesmente reforçou a cultura de estupro com inculpação da vítima para milhões de espectadores, é coroada Miss EUA 2014.”

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“Cansada de ouvir que ‘mulheres precisam aprender a se defender contra violência sexual’. Precisamos de uma cultura contra a qual não precisamos nos defender.”

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“Não, Miss Nevada. A solução para o estupro não é que todas as mulheres sejam faixas-pretas. Mas obrigado.”

E por aí vai.

Houve também quem a defendesse, é claro:

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Em reação ao tuíte feminista “Não, a ‘resposta’ é ensinar os homens a não estuprar”: “Estupradores são animais, mais fácil ensinar um tigre a não matar uma cabra.”

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Em reação ao tuíte feminista “Não, eu não aceito estupro como inevitável. Nunca”: “Tentativa de estupro é inevitável. A consolidação do estupro pode ser incrivelmente reduzida com balas.”

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Da radialista conservadora Dana Loesch: “Espere aí: agora é antifeminista se defender quando atacada? Jesus, pegue o volante.”

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“Parece que a Miss Nevada respondeu alguma coisa sobre autodefesa a uma questão sobre estupro e agora meio Twitter está pirando porque a Miss EUA não pode ser inteligente.”

Por fim, veja esta troca de mensagens:

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“O que ela está fazendo é promover a ideia de que a mulher tome o controle sobre a sua própria vida.”

Captura de Tela 2014-06-11 às 12.17.37“Talvez esta tenha sido a sua intenção, mas ela deveria ter observado que a falta de autodefesa não é a razão por trás do estupro.”

Retomo.

Às vezes, tenho a impressão de que, se as feministas mais histéricas vissem um carro na contramão, acelerando na direção do seu, sem que o motorista demonstrasse a menor intenção de desviar, elas continuariam dirigindo na mesma direção, porque afinal a culpa é dele, ninguém deveria se sentir no direito de andar na contramão e precisamos de uma cultura em que não precisamos desviar de ninguém que venha na contramão bater no nosso carro.

A Miss EUA não disse, obviamente, que “A” solução para o estupro é a autodefesa, nem que a culpa do estupro é da vítima; apenas sugeriu que as mulheres aprendam a se defender de estupradores, porque afinal eles existem, assim como motoristas alucinados na contramão (não é uma comparação moral, ok?); e, quando aparece um deles, não adianta – nem dá tempo de – tirar o celular do bolso e postar um tuíte contra a cultura machista opressora malvada, mas decerto que adianta dar-lhe um chute nos bagos e sair correndo gritando por socorro. (Para os homens, não é diferente quando são eles as vítimas de qualquer tipo de agressão.)

Saber se defender, como não beber demais nem se drogar, reduz a possibilidade de vitimização; e a maior parte daquilo que a esquerda quer chamar de agressões sexuais no campus envolve de fato uso excessivo de álcool e drogas, e são cometidas por alguém que a vítima conhece. Educar as mulheres contra os perigos de ficar doidona não é responsabilizá-las, mas alertá-las. É evidente que isto tem de ser feito, sobretudo pelos pais, assim como se deve esclarecer aos homens jovens, antes de entrar na universidade, que fazer sexo com uma parceira realmente “incapacitada” pode ser uma violação moral e legal que lhe renda a prisão (mesmo que ele tenha gasto um dinheirão no encontro; mesmo que ela só tenha recuado após uns tantos amassos). Ainda que estupradores de verdade sejam muito menos educáveis do que imaginam as feministas, ambas as ações educativas seriam necessárias – e as lições de autodefesa recomendáveis – para reduzir o suposto índice de abusos sexuais no campus (já veremos que é falso) que a cultura da pegação (hook up culture) regada a álcool e drogas teria elevado. (O número de denúncias também já aumentou, o que teria seu lado bom.) Isto não quer dizer que as mulheres são culpadas dos crimes dos estupradores homens.

Miss America coroaMas, na era do politicamente correto, não se pode afirmar qualquer coisa que não seja a resposta-padrão dos ativistas sobre determinado assunto, sem fazer as mil considerações preliminares para se precaver contra o “mimimi” e os mil esclarecimentos posteriores para explicar o que você NÃO está dizendo ou disse.

O dado de que 19% das universitárias dos EUA são vítimas de agressão sexual foi tirado, contudo, de uma pesquisa feita por consulta virtual com as estudantes de duas grandes universidades – pesquisa esta cujo resultado (que nem sequer chega a ser este de fato) não pode ser extrapolado para o país inteiro, como demonstrou o Washington Post, fazendo com ela mais ou menos o que fiz aqui com a do IPEA, inclusive questionando a formulação das perguntas. Stu Burguiere, que trabalha com Glenn Beck no The Blaze, fez ainda mais picadinho da pesquisa em excelente vídeo, mostrando que o número de vítimas não é de 1 em cada 5 mulheres, mas pode ser de 1 em cada 20 (supondo que haja subnotificação) ou até de 1 em cada 163 (para os casos denunciados).

Naturalmente, o presidente Obama (“Estima-se que 1 em cada 5 mulheres nos campus universitários foi abusada sexualmente durante seu tempo lá – 1 em 5″) e o vice Joe Biden (“Nós sabemos os números: uma em cada cinco dessas mulheres jovens deixadas [na faculdade] no primeiro dia de aula, antes de terminar o curso será agredida [sexualmente]”) já haviam explorado politicamente o embuste [vídeo – aqui], assim como Dilma tirou uma casquinha no Twitter dos dados errados do Instituto brasileiro: “Tolerância zero à violência contra a mulher. #Respeito”. A esquerda, geralmente com dados falsificados, não perde uma chance de posar de boazinha diante de suas vítimas favoritas.

Mas se Obama, Biden e Dilma tivessem, repito, uma verdadeira preocupação com as mulheres estupradas de modo geral, não investiriam na patetice das campanhas de desarmamento, “A guerra contínua da esquerda contra as mulheres“, como já escreveu a colunista americana Ann Coulter: “Uma arma na mão de uma mulher maltratada muda a dinâmica do poder (…). A grande maioria dos estupradores, por exemplo, não se dá ao trabalho de utilizar uma arma porque, conforme destacou o famoso criminalista Gary Kleck, eles costumam ter ‘uma grande vantagem de poder sobre a vítima’, tornando o uso da arma redundante.” Mulheres geralmente são mais fracas fisicamente que os homens e, se lutassem pelo direito ao porte legal de arma, fariam muito mais em seu favor do que acusar os não estupradores de machismo. A taxa de estupros em Orlando, por exemplo, caiu 88% quando elas aprenderam a usar armas em cursos promovidos pela mídia, segundo o estudo de Kleck “Crime Control Through the Private Use of Armed Force” (February 1988, p. 13).

Se não podemos falar em armas nas mãos das alunas no campus, não há qualquer problema em sugerir ao menos um taekwondozinho. A Miss EUA 2014, Nia Sanchez, tem razão. A primeira preocupação, especialmente de quem vive sob um governo esquerdista, é aprender a se defender sozinho. Que as nossas mocinhas vejam o seu exemplo e escutem o seu conselho – e mandem às feministas nada mais que um beijinho no ombro.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=GBc842sbFSQ?wmode=transparent&fs=1&hl=en&modestbranding=1&iv_load_policy=3&showsearch=0&rel=1&theme=dark&w=620&h=349]

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=7A6THtyHqOo?wmode=transparent&fs=1&hl=en&modestbranding=1&iv_load_policy=3&showsearch=0&rel=1&theme=dark&w=620&h=349%5D

Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil

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