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A extrema direita e a má-fé de uma esquerda que se faz de virgem assustada

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 02h21 - Publicado em 10 jan 2015, 18h07
Le Pen

Jean-Marie Le Pen, ao lado da filha, Marine

No post “Quem se ‘favorece’ com os ataques em Paris“, afirmei que a extrema direita é xingada na mídia com aquela naturalidade jamais dedicada à extrema esquerda, que nem sequer é nomeada como tal. Dei exemplos de “especialistas” que associam a Frente Nacional francesa, hoje sob a liderança de Marine Le Pen, ao nazismo, ao racismo, ao fanatismo, ao ódio, à xenofobia. Ficamos com a impressão de que se falou mais da extrema direita no noticiário da semana do que da al-Qaeda, que assumiu a responsabilidade pelo terror.

Para entender o porquê dessas coisas, convém lembrar um trecho da entrevista concedida a Olavo de Carvalho por um dos homens mais inteligentes do mundo, Alain Peyrefitte, publicada na revista República de julho de 1998 e reproduzida na íntegra no site do autor do nosso best seller O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Volto em seguida.

OLAVO DE CARVALHO: Uma coisa que me espantou muito desde que cheguei à França na semana passada, é que todo o mundo parece associar muito facilmente o Front Nacional do Sr. Le Pen à história dos crimes nazistas, enquanto se obstina em não fazer nenhuma associação análoga entre a extrema esquerda e os crimes incomparavelmente maiores do regime comunista na URSS, na China, etc. Por que é tão fácil ser esquerdista sem jamais ser responsabilizado pelos males do stalinismo enquanto todo o homem de direita está sempre sob o risco de ser associado ao neofascismo? Por que é tão fácil atrair a desconfiança contra os homens de direita?

ALAIN PEYREFITTE: A fascinação dos intelectuais pela ideologia marxista introduziu dois pesos e duas medidas na avaliação dos crimes contra a humanidade. Fazem como se os milhões de homicídios perpetrados pela União Soviética não fossem da mesma natureza que os cometidos pela Alemanha nazista.

Torturar e matar um inocente em nome do proletariado ou da raça superior, não deveria ter nenhuma diferença. Parodiando uma fórmula célebre, poder-se-ia dizer que mais vale errar com Stalin que com Hitler. No entanto, a biologia ariana e a biologia soviética são imposturas do mesmo nível. E mesmo supondo-se que o marxismo-leninismo fosse “cientificamente superior”, nenhum saber, nenhum programa justifica a eliminação física ou moral de um só indivíduo. É tempo, como o diz Hannah Arendt, de compreender que os extremistas de direita e de esquerda estão solidários no crime.

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Voltando aos sobressaltos da política francesa, deve-se sublinhar a evidente má-fé de uma esquerda que se faz de virgem assustada pelas “vozes do Front Nacional”, quando ninguém se comove com as vozes do PC, sem falar da extrema esquerda ainda mais dura. Reconheçamos, todavia, que as declarações turvas, talvez perversas do presidente do FN sobre as desigualdades das raças, sobre o “detalhe” dos crematórios, a posição flutuante que ele mantém entre o legítimo controle da imigração e um desencadeamento de funções xenófobas, tudo isto favorece a associação do FN à história dos crimes nazistas.

OLAVO DE CARVALHO: De modo mais geral: se a direita aceita renunciar a toda aliança com a extrema direita enquanto a esquerda conserva seu direito de fazer alianças com quem quer que seja (até mesmo com a extrema direita), a direita não estará em vias de cometer suicídio? Que será da política francesa amanhã, na sua opinião?

ALAIN PEYREFITTE: As eleições regionais e cantonais de 1998 se desenrolaram numa atmosfera de armadilhas e de chantagem. A esquerda chegou a intimidar a direita e a lhe ditar seu comportamento face aos eleitores. Ela pretendeu dar lições de republicanismo brandindo o FN como um espantalho (ela, que sempre traficou o modo de escrutínio para dividir a direita, favorecendo o FN). É urgente sair dessa lógica das alianças e dos casamentos de ocasião, desses anátemas republicanos e dessas excomunhões.

As direitas podem e devem se reunir. Elas são majoritárias no país. Elas devem reconquistar para um programa de direita toda a sua base eleitoral, incluindo os eleitores do FN, que não pertencem nem à esquerda que se serve deles para desacreditar a direita, nem à direita clássica que precisa de seus votos. Os eleitores que votaram no FN só pertencem a si mesmos. Se eles sucumbem às sereias do racismo e da xenofobia, não queremos o seu apoio. Se eles aceitam uma política de direita que respeite os direitos humanos, devemos propô-la. A exasperação deles é tão respeitável quanto a cólera dos partidários da Liga Comunista Revolucionária. A única saída para a política francesa é suspender o anátema que pesa sobre os eleitores do FN e apresentar-lhes uma verdadeira política de direita, sem ódio nem vingança, uma política de exigência, de respeito, de solidariedade e de empreendimento, em suma: uma sociedade de confiança.

*****

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Retomo. A entrevista completa está aqui. Quatro anos depois dela, em 2002, a Frente Nacional conseguiu chegar ao segundo turno das eleições presidenciais, embora Jean Marie Le Pen tenha perdido para Jacques Chirac. O senhor Le Pen continua a ser uma figura controversa, mas o que acabou acontecendo, como comentei aqui, foi que sua filha Marine fez um esforço determinante para “modernizar” o partido desde que o substituiu e, levando-o mais para o centro, sem perder a firmeza, vem superando na adesão do eleitorado a centro-direita do ex-presidente Nicolas Sarkozy, do partido de oposição UMP, envolvido em problemas legais. Isto, claro, para desespero de uma esquerda que se faz de virgem assustada.

E já que ninguém fala de extrema esquerda, eis a minha homenagem à encarnação viva (ou morta) da dita-cuja, sempre aliada do PT:

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Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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