Salas com mais de 50 alunos e mais tempo de aula. Isso faz diferença para a qualidade do ensino?
Estabelecer regras coerentes de comportamento em sala de aula ainda se mostra mais eficaz para garantir bons resultados do que oferecer aulas em tempo integral ou reduzir o número de alunos por sala.
Na maioria dos sistemas educacionais do mundo existe um debate persistente sobre a conveniência de reduzir o número de estudantes por turma. Isso não é diferente no Brasil. Entra ano, sai ano, e docentes reclamam de turmas lotadas, algumas chegando a ter mais de 50 alunos.
Mas será que reduzir o tamanho da turma tem os efeitos positivos esperados na motivação dos docentes, no comportamento dos estudantes, nos processos pedagógicos de ensino e no ambiente escolar?
Apesar de servir como uma boa moeda política – turmas menores são bem vistas pelas famílias dos alunos, que supõem que assim seus filhos terão uma educação mais personalizada – as evidências mostram que o tamanho de classe, por si só, raramente aumenta o desempenho dos alunos. E, quando o faz, não permite saber exatamente o que causa essa melhoria. Não existe um padrão consistente de melhorias que indica uma cultura, padrão ou disciplina que seria mais beneficiado com esse tipo de intervenção.
Ou seja: grandes grupos funcionam bem quando o professor é bem preparado e a cultura externa e interna à escola garantem a disciplina adequada para o funcionamento da turma. Pequenos grupos podem ter impacto significativo quando os professores usam técnicas adequadas, mas os efeitos cessam se o aluno volta para turmas maiores em séries posteriores.
Apenas na Pré-Escola há indicadores robustos da vantagem de turmas menores – o que, de resto, é comprovadamente o caso das creches, onde o número de adultos por criança é uma das variáveis mais críticas para assegurar o desenvolvimento das crianças, tendo em vista que o fator decisivo reside na qualidade das interações.
Muitas pesquisas sugerem que a redução de alunos pode ser benéfica quando o professor adota técnicas de ensino mais apropriadas para pequenos grupos. Mas ela também pode ser benéfica quando o professor tem pouca experiência e consegue lidar melhor com grupos pequenos do que com grupos grandes. Reduzir o tamanho de turmas tem grande apelo intuitivo, junto aos professores e junto à classe política.
Considerar a efetividade potencial dessa política, em comparação às alternativas, é um fator chave para avaliar sua implementação, pois existe uma diversidade de combinações de intervenções e reformas educativas que podem levar a bons resultados. Outro fator importante a ser avaliado é a viabilidade da implementação de uma redução no número de alunos, pois é necessário aumentar a infraestrutura disponível e a quantidade de docentes.
O debate sobre a educação também frequentemente tem outro número acrescentando a equação: a quantidade de dias letivos. O debate acadêmico sobre o efeito da quantidade de tempo que os alunos passam na escola sobre o rendimento escolar é antigo (no livro Educação Baseada em Evidências – Como saber o que Funciona em Educação é possível ver a bibliografia desse tema), e mostra que a extensão do ano letivo tem mais resultado se for pautada na melhoria da qualidade do que propriamente em mais dias no calendário ou mais horas na sala de aula.
Por um lado, manter os alunos por mais tempo na escola permitiria aos professores usar maior quantidade de material pedagógico e examinar os conteúdos com maior profundidade, individualizar ou diferenciar o ensino com maior eficácia e resolver uma quantidade maior de dúvidas dos alunos. Por outro lado, para que o aumento do tempo escolar contribuísse para aumentar a aprendizagem, seria necessário assegurar que não haveria piora na qualidade do ensino. É ineficaz ampliar a duração da jornada escolar se o currículo é inadequado, os professores não são eficazes e impera a indisciplina.
Mais do que deixar os alunos mais tempo na escola, as evidências mostram que dá mais resultado começar e terminar a aula na hora certa e reduzir o tempo dedicado a atividades não ligadas ao ensino, como correção de prova durante a aula. Estabelecer e cumprir regras coerentes e claras de comportamento das crianças em sala de aula ainda se mostra mais eficaz para garantir bons resultados escolares do que oferecer aulas em tempo integral ou reduzir o número de alunos por sala.
No próximo texto desta coluna vou abordar um dos problemas mais frequentes da educação no Brasil: a reprovação. Se você tem alguma pergunta sobre esse assunto que gostaria de ver respondida, escreva nos comentários.