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‘Lion’: A jornada do órfão que reencontrou a família pelo Google

A verdadeira história de Saroo Brierley, que encontrou a família biológica depois de 20 anos perdido

Por Lucas Almeida 14 jul 2017, 18h30

A trama de Lion: Uma Jornada Para Casa (2016) pode lembrar um roteiro de uma ação publicitária do Google: um menino indiano, que se perdeu da família quanto tinha 5 anos, consegue retornar para casa e reencontrar seus parentes mais de vinte anos depois com o auxílio da plataforma Google Earth. Apesar da premissa parecer pouco crível, foi realmente isso o que aconteceu com Saroo Brierley, cuja história é contada no longa de Garth Davis.

Brierley se perdeu do irmão em uma estação de Burhanpur, na Índia, e acabou dormindo em um trem que o levou para Calcutá, a mais de 1.500 quilômetros de distância de sua cidade natal. Depois de viver na rua por algumas semanas, foi colocado em um orfanato até ser adotado por uma família australiana, que morava na Tasmânia.

O drama ganhou um novo episódio quase vinte anos depois, quando Saroo conheceu o Google Earth, a plataforma que reúne imagens de satélites de todo o globo. Depois de mais de cinco anos de pesquisa, achou seu antigo vilarejo e, em 2012, voltou para casa e reencontrou sua família. O empresário escreveu a sua história em um livro publicado em 2013 na Austrália, chamado de Uma Longa Jornada Para Casa (Record, 224 páginas) no Brasil. Em 2016, sua trajetória foi contada em uma produção para o cinema estrelada por Dev Patel que recebeu seis indicações ao Oscar, incluindo o de melhor filme.

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Atualmente, o filme figura no catálogo da Netflix.

Confira abaixo quão verdadeira é a história mostrada no longa:

Família indiana

(Reprodução/Divulgação)

A primeira parte de Lion apresenta a infância de Saroo na Índia como ela realmente aconteceu. Aos 5 anos, ele morava em uma casa de um único cômodo com o resto da família. Seu pai os abandonou quando o garoto era mais novo, por isso a única renda da casa vinha da mãe, Fatima Munshi, que trabalhava como operária em um canteiro de obras, carregando pedras sobre a cabeça. Às vezes, ela precisava trabalhar em outras cidades e as crianças ficavam sozinhas. Eles viviam em situação de extrema pobreza e não tinham dinheiro suficiente nem mesmo para comprar comida, em alguns dias.

Saroo tinha dois irmãos mais velhos, Guddu e Kallu, e uma irmã mais nova, Shekila. No longa, o público conhece Guddu e Shekila – Kallu é citado, mas não aparece.”Foram muitas as vezes que tivemos de pedir comida aos vizinhos e até mendigar dinheiro e comida nas ruas perto do mercado e da estação de trem, mas de uma forma ou de outra conseguíamos sobreviver, vivendo cada dia, sem pensar no futuro”, conta em seu livro.

Vivendo na rua

(Reprodução/Divulgação)

Depois de se perder do seu irmão em uma estação de trem e ficar preso em uma locomotiva, Saroo desceu em Calcutá, em um grande terminal da Índia. No filme, o garoto fica pouco mais de dois meses vivendo sozinho nas ruas da cidade – na vida real, foram três semanas. Em uma entrevista para o programa 60 minutes, do canal americano CBS, Brierley explicou que procurava restos de comida para sobreviver. “Eu tinha apenas um pequeno short e uma camisa. Se encontrava algo no chão que ainda cheirasse bem, eu comia”, contou. 

Depois de ser resgatado na rua, Saroo foi levado para um orfanato, onde aprendeu a comer com garfo e faca, o que poderia aumentar as suas chances de ser adotado. Menos de seis meses depois, recebeu um álbum de fotos da família australiana que queria adotá-lo, como no filme.

Família australiana

(Reprodução/Divulgação)

Como retratado no longa, os pais de Sarro podiam ter filhos biológicos, mas escolheram adotar dois meninos indianos. A mãe, Sue Brierley, contou que, quando tinha 12 anos, teve uma espécie de visão de um menino de pele morena de pé ao seu lado. Sue afirmou à revista Variety que uma frase dita por Nicole Kidman, que a interpretou no filme, define a decisão da família: “Há pessoas o suficiente no mundo, mas adotar dois meninos que estão sofrendo e lhes dar uma chance na vida é significativo”. Ao contrário do que acontece com muitas famílias que decidem adotar, o casal não fez restrições de gênero ou idade das crianças que acolheriam.

Além de Saroo, Sue e John Brierley adotaram Mantosh, também indiano, que ficou bastante traumatizado por causa do período em que viveu na rua. Mantosh tinha problemas com automutilação e chegou com vários ferimentos na cabeça à Austrália. Até hoje, não está recuperado. O roteirista da produção, Luke Davies, contou ao site da revista The Hollywood Reporter que o irmão se sentiu desconfortável ao se ver no filme, mas apoiou o trabalho de Saroo.

Lucy

(Reprodução/Divulgação)

O namoro entre Saroo e Lucy, interpretada por Rooney Mara, é bem explorado no longa. No entanto, a menina nunca existiu. Lucy é uma mistura de diversas mulheres que passaram pela vida de Saroo, como ele mesmo contou para a Vanity Fair. Brierley teve um relacionamento mais significante com uma garota chamada Lisa Williams durante a faculdade. Essa relação deu mais força a ele para continuar a busca por sua família biológica. Eles terminaram anos depois, mas Saroo conta em seu livro que ela apoiava a busca, mesmo em seus períodos mais obsessivos. Quando foi morar com Lisa, inclusive, obteve grande avanço na pesquisa, pois a internet na casa da moça era mais rápida.

Dá um Google

(Reprodução/Divulgação)

Como mostrado no filme, Saroo fez toda a busca em uma das primeiras versões do Google Earth. Ao contrário do que é visto no longa, porém, primeiro o indiano tentou procurar locais com nomes similares ao que lembrava da infância, “Ginestlay”, mas não encontrou nada. Depois disso, ele mesmo pensou no plano que é sugerido pelos seus amigos na produção, que consistia em fazer uma estimativa da distância que percorreu no trem e começar a explorar todas as estações dentro dessa área. Saroo passou oito meses analisando cada estação da malha de trem que saía do terminal de Howrach, onde lembrava ter desembarcado.

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No filme, um dia Brierley fica revoltado e, depois de destruir todo o mapa que havia colado na parede, descobre o lugar de onde tinha saído por acaso. Na vida real, a descoberta também foi sem querer. Saroo gastava entre duas e três horas por dia olhando as plataformas de trem. Em uma ocasião, em março de 2011, quando já ia desligar o computador para dormir, começou a clicar em vários lugares despretensiosamente, até que reconheceu a área.

Reencontro

(Reprodução/Divulgação)

Uma das últimas cenas do longa-metragem mostra um momento tocante: Saroo volta à sua cidade natal e reencontra sua mãe biológica. No meio da rua, várias pessoas começam a se aglomerar para assistir ao episódio. Na realidade, a cena foi semelhante. No dia 11 de fevereiro de 2012, Saroo chegou à Índia e voltou à sua cidade. Ele foi seguindo o caminho que lembrava até encontrar a porta de sua antiga casa. Ela estava totalmente vazia – ao contrário do que acontece no filme, que mostra uma cabra dentro da propriedade.

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Um vizinho que falava um pouco de inglês levou Saroo a uma casa onde estava sua mãe. Os dois se abraçaram durante um longo período e depois ela ligou para os outros filhos, contando a novidade. A casa da mulher começou a se encher de pessoas que vinham para celebrar o reencontro. Depois de conversar com todos e de conhecer seus sobrinhos, descobriu que Guddu, seu irmão mais velho, havia morrido nos trilhos de um trem pouco tempo após ele ter se perdido, o que o deixou muito abalado.

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