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Por Coluna
O que é fato e ficção em filmes e séries baseados em casos reais
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Em ‘Genius’, o homem por trás do mito Albert Einstein

Minissérie do canal pago NatGeo toma certas liberdades ao contar a história do físico, mas tenta se manter fiel à sua essência

Por Mariane Morisawa
Atualizado em 16 jun 2017, 16h37 - Publicado em 16 jun 2017, 16h03

O mundo conhece o Albert Einstein que desenvolveu a Teoria da Relatividade, tinha o cabelo desgrenhado e posava para fotos com a língua de fora. A minissérie em dez episódios Genius, exibida na NatGeo aos domingos, às 22 horas, propõe-se a desvendar o homem por trás do mito. “Ele é muito interessante e relevante sempre, mas especialmente nos dias de hoje”, disse o produtor Ken Biller ao blog É Tudo História. “Ele foi judeu na Europa na primeira metade do século XX e assistiu à ascensão da política nacionalista e do fascismo. Definitivamente, há paralelos: o crescimento do nacionalismo hoje, no mundo inteiro, e os ataques à ciência por razões políticas.”

Genius baseia-se muito na biografia Einstein – Sua Vida, Seu Universo (Companhia das Letras), de Walter Isaacson, mas os roteiristas também recorreram a outros livros e a documentos como a correspondência do cientista. “Eu diria que a série é muito fiel à história. Mas não completamente, porque de vez em quando tínhamos de tomar certas liberdades”, afirmou Biller. “Sabemos muito do que aconteceu, mas nem sempre por que ou como se deu. Não sabemos o que ocorreu entre duas pessoas a portas fechadas. Mas não colocamos nada que sabíamos com certeza não ter acontecido. Tudo o que mostramos é historicamente correto ou plausível.” Um exemplo: Albert Einstein (interpretado por Johnny Flynn na juventude e por Geoffrey Rush na maturidade) leva sua primeira mulher, Mileva Maric (Samantha Colley), e os filhos para uma viagem pelos Alpes com a cientista Marie Curie. “Imaginamos uma cena em que Mileva e Marie conversam sobre suas vidas e famílias. Tudo o que está no diálogo foi inventado por nós, roteiristas, mas não há nada que elas não poderiam dizer, pelas circunstâncias de suas vidas.”

A seguir, Biller separa fato de ficção no primeiro episódio da série:

 

Estudante inconformista

(NatGeo/Divulgação)

Adolescente, Albert Einstein tinha problemas com o método da sua escola em Munique, Alemanha. “Era muito rígida, baseada na memorização, sem espaço para a imaginação”, disse Biller. A série mostra como, não raro, ele era expulso da sala ou levava bronca por expor seus pensamentos, já pouco ortodoxos. Aos 15 anos, a fábrica da família faliu, e todos se mudaram para a Itália, à exceção de Albert, que ficou para concluir os estudos. Aos 16 anos, ele fez teste de admissão na Politécnica de Zurique, mas, apesar de brilhante em física e matemática, não conseguiu passar nas outras matérias. Por conta disso, o reitor sugeriu que cursasse uma outra escola em Aarau, para reforçar seus conhecimentos em disciplinas de Humanas. Lá, ele ficou hospedado com Jost Winteler e sua família, boêmia. No ano seguinte, finalmente foi admitido na faculdade.

 

Bicicleta

(NatGeo/Divulgação)

Albert se apaixona por Marie Winteler (Shannon Tarbet), uma das filhas de Jost. Numa das cenas, Albert usa uma corrida de bicicleta para demonstrar sua ideia de que, se fosse possível acompanhar um feixe de luz na mesma velocidade, ele pareceria estar parado no tempo. E os dois têm sua primeira cena romântica. Claro que não dá para saber se Einstein realmente usou a bicicleta para que ela visualizasse sua teoria. “Mas Albert realmente morou com os Winteler, e ele e Marie se apaixonaram”, disse Biller. “Fazia todo o sentido que Albert tivesse conversado com ela sobre suas ideias. Sabemos que desde muito jovem ele se imaginava correndo ao lado de um feixe de luz. Ele era muito visual. Em seus escritos, relata que costumava ver as ideias antes de escrever as teorias. Então, a cena da bicicleta é uma dramatização, mas é algo que com certeza poderia ter acontecido.”

 

Palestra em Berlim

(NatGeo/Divulgação)

O mesmo princípio aparece em uma cena mais adiante. Genius alterna sequências da juventude e de outros períodos da vida de Albert Einstein. Já na meia-idade, ele está dando uma palestra em Berlim e pede para os participantes fecharem os olhos e imaginarem a teoria que está descrevendo. “Sabemos que era membro da Academia Prussiana e dava palestras com regularidade em Berlim”, disse Biller. “Não temos gravações mostrando que ele pedia para os estudantes fecharem os olhos, mas pode ter feito isso. Ele estava tentando fazê-los entender a teoria. Sabemos que, quando falava ou se correspondia com outros cientistas, descrevia quais eram seus pensamentos e quais eram as imagens, então faz todo o sentido que fizesse isso numa palestra. E é dramaticamente interessante.”

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Renúncia à cidadania

(NatGeo/Divulgação)

Na série, o jovem Albert comemora ao receber a confirmação de sua renúncia à cidadania alemã, quando morava com os Winteler na Suíça. Seu pedido é feito pela recusa ao nacionalismo, que na época estava tomando conta da Europa. “Ele disse a seu pai quando era mais jovem que não entendia quem marchava em nome de um país”, contou Biller. “Sabemos que ele odiava a Alemanha. E sabemos que ele renunciou à cidadania quando estava na Suíça. Tentou obter a cidadania suíça por bastante tempo, mas demorou, então por um período não tinha cidadania. Não tinha passaporte. Tivemos de perguntar por que faria isso.” Como na época ele estava morando com essa família de ideias liberais e tinha uma relação muito próxima com Jost Winteler, os roteiristas imaginaram que em parte foi a influência desse homem que tinha ideias políticas muito diferentes daquelas da família de Albert.

 

Primeira mulher

(NatGeo/Divulgação)

Assim que entra na Politécnica, Albert Einstein é apresentado a Mileva Maric, a única mulher do curso de física e matemática. Ele fica surpreso e encantado. Milena se tornaria a primeira mulher do cientista, em 1903.

 

Monogamia não é natural

(NatGeo/Divulgação)

Logo no primeiro episódio, o maduro Einstein convida a assistente e amante Betty para morarem juntos. Mas ele está casado com sua prima Elsa (Emily Watson), que sabe de seus casos. Einstein costumava dizer que a “monogamia não é natural”. E realmente convidou a amante para morar junto com ele e a mulher.

 

Violência em Berlim

(NatGeo/Divulgação)

Com a fundação do Partido Nazista, em 1920, os ânimos ficam exaltados na Alemanha. Em 1922, Walther Rathenau, ministro das Relações Exteriores e judeu, é assassinado em Berlim numa ação violenta e espetacular. “Ele foi assassinato exatamente da maneira como aparece na série por fascistas antissemitas”, disse Biller. Rathenau era amigo de Albert Einstein. “É fato histórico o que aparece no primeiro episódio, que, quando pegaram os assassinos, o nome de Einstein estava numa lista de alvos.” Em Genius, Elsa pede que eles saiam da Alemanha. Mas Einstein se recusa. “Sabemos que ele devia estar com medo em 1922, mas resolveu que não era a hora ainda.”

 

Violino

(NatGeo/Divulgação)

Na série, seja na juventude ou na maturidade, Albert Einstein toca o violino frequentemente. “Mozart me ajuda a pensar”, ele diz. De fato, Elsa disse a amigos que se apaixonou pelo físico porque tocava violino, e que a música o ajudava quando estava criando suas teorias. O instrumento tinha até apelido: Lina.

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Hora de partir

(NatGeo/Divulgação)

1922 foi muito cedo para Albert Einstein partir da Alemanha, mas na década de 1930 ele deixou o país. “O que aconteceu que o fez mudar de opinião?”, contou Biller. Baseados nos fatos – na época, os nazistas tinham bastante força, e a milícia de “camisas marrons” espalhava terror nas ruas –, os roteiristas criaram uma cena em que Einstein sai para comprar cigarros e sente na pele a ascensão do nazismo, com violência e humilhação dos judeus e volumes do livro Minha Luta, de Adolf Hitler, sendo vendidos em todas as partes. Um dos membros da Juventude Hitlerista pede um autógrafo a ele – era comum Einstein dar autógrafos –, enquanto outro cospe na sua cara. “Era impossível àquela altura que ele não presenciasse alguma coisa do tipo”, disse Biller. Mas claro que ninguém sabe se uma violência dessas realmente aconteceu.

 

Embaixada

(NatGeo/Divulgação)

Einstein resolve, então, aceitar um convite para ir à universidade Princeton, nos Estados Unidos. Na véspera da viagem, é chamado pela embaixada americana. Lá, ele e Elsa recebem a informação do vice-cônsul Raymond Geist (interpretado por Vincent Kartheiser) de que só receberiam o visto se Albert respondesse algumas questões. “Isso é fato histórico, está na sua pasta do FBI”, disse Biller. A pasta em questão tem 1.427 páginas – o diretor do FBI, J. Edgar Hoover, continuou seguindo o cientista por suspeitar de que fosse comunista. Einstein, como se sabe, conseguiu o visto e foi para os Estados Unidos para nunca mais voltar, escapando, assim, do Holocausto.

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