A PERGUNTA ESTÁ em todas as bocas. Naquelas enfronhadas nas tramas brasilienses e também nas que acompanham o desenrolar do drama na plateia: “E o Temer, cai ou não cai?”. As pesquisas indicam a preferência dos espectadores pela primeira hipótese, os atores principais da cena política ainda preferem trabalhar com a segunda, mesmo sabendo que o desfecho está nas mãos dos roteiristas, ora representados pela Polícia Federal, ora pelo Ministério Público, ora pelo Poder Judiciário.
O presidente Michel Temer está nas últimas, sobre isso não restam dúvidas. A incerteza é se o governo dele prossegue nesse estado terminal até o prazo regulamentar de 31 de dezembro de 2018 ou se acaba antes — de morte morrida, por renúncia, ou de morte matada, por impedimento legal. As condições, objetivas e subjetivas, pioram a cada passo, e mesmo os que atuam pela permanência o fazem com o cenário do afastamento no radar.
As atenções se voltam para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que tem se esforçado para manter a posição de neutralidade (como convém a quem se prepara para o que der e vier ou para o que vier e der), enquanto deputados do partido do DEM que supostamente controla o procuram com disposição de apoiar propostas de impeachment. Rodrigo se empenha em manter esses movimentos longe do olhar dos meios de comunicação, mas não consegue suprimi-los; constantemente estão ali a assombrá-lo, alertá-lo ou confortá-lo, a depender do ponto de vista.
Semelhanças inequívocas em relação aos primórdios do processo que levaria ao impeachment de Dilma Rousseff. Tantos presidentes (três, com Temer) em tão pouco tempo se viram na contingência de perder o mandato por maus atos cometidos ou consentidos. Defeito do “sistema”, culpa do açodamento institucional de uma democracia imperfeita, responsabilidade dos aludidos desmandos de investigadores e julgadores? Nada disso.
Trata-se de transgressão continuada baseada no pressuposto da impunidade, cujo prazo de validade está devidamente expirado junto à tolerância da sociedade e das novas metodologias de um mundo novo. Michel Temer e companhia atuam à moda antiga: com mentiras facilmente desmentidas mediante uma consulta ao sítio de informações, com a expectativa de que a compra de apoio de parlamentares dê jeito na coisa. Houve um tempo em que dava, mas hoje não dá mais.
O Congresso perdeu o controle das situações agudas anteriormente circunscritas ao âmbito parlamentar, quando controlava quais CPIs prosperariam ou não. Na época, comissões de inquérito faziam medo. Para o bem e para o mal, o Parlamento era o centro. Isso mudou. Os congressistas são as caças, os investigadores os caçadores, a sociedade vigilante e atuante comanda o espetáculo, cujo epílogo será escrito a partir de novos e ainda desconhecidos parâmetros.
De onde a imprevisibilidade, embora dela decorra uma certeira possibilidade. Em miúdos: Temer balança, mas ainda não cai. Só por hoje.
Publicado em VEJA de 12 de julho de 2017, edição nº 2538