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Estúpido carisma

Tudo de que o Brasil menos precisa é mais um populista

Por Dora Kramer Atualizado em 8 set 2017, 06h00 - Publicado em 8 set 2017, 06h00

Apesar do imenso pesar que governantes populistas causaram ao país na figura de carismáticos presidentes e/ou governadores ao longo do século passado e início deste agora XXI, a praga ainda nos ronda, ameaçando nova ofensiva na próxima eleição presidencial. Conspira para isso o ambiente de desgosto geral, terreno fértil para a ideia de que um herói há de surgir a fim de quebrar o que parece ser um feitiço malsão lançado sobre um Brasil de mandatos interrompidos (por morte morrida ou por morte matada) e corrupção endêmica.

O populismo de Getúlio Vargas sustentou uma ditadura; o de Jânio Quadros abriu espaço para outra; o de Leonel Brizola marcou os primórdios dos territórios controlados pelo crime no Rio; o de Fernando Collor deu ensejo ao primeiro impeachment da República; o de Lula fez da corrupção política de Estado, plantou a semente da desconstrução dos pilares da estabilidade econômica, levou ao poder a primeira mulher presidente, que seria também protagonista do segundo impedimento e jogou o país numa crise de desfecho imprevisível.

Populistas podem ter personalidade e táticas diferentes para obter o que querem — a conquista e a perpetuação no poder —, mas atuam numa mesma dinâmica e têm em comum aquilo que os desavisados consideram atributo essencial num líder: carisma ou dom de arregimentar um enorme contingente de crentes na sua capacidade de salvá-los. Assim, entre a consistência real e a falsa aparência, a maioria encantada opta pela segunda hipótese, que em maior ou menor tempo a levará à frustração.

Um acentuado traço do populista é saber manipular o desalento coletivo. Transformá-lo em indignação e conduzir esse sentimento para a seara adversária de forma a que seja vista como inimiga da pátria, gente a ser dizimada eleitoral, política e moralmente. Nada nem ninguém que não esteja sob sua área de influência merece reconhecimento. Ao contrário. Para esses tipos, o ideal é fazer do passado tábula rasa. São fundadores do “bem”, patrocinadores da felicidade e zeladores do bem-estar. Nunca erram; errado é sempre o outro, aquele que não cedeu à sedução ou aquele que não compartilha a mesma opinião. Seus métodos sem­pre se justificam por alegadamente serem aplicados na busca do melhor fim.

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A lógica do conflito permanente sustenta suas ações e discursos porque eles precisam de um contraponto (devidamente desqualificado) a fim de que pareçam indispensáveis. Dos aliados exigem fidelidade cega e os tratam como subalternos. Imprensa, estudiosos ou qualquer segmento cuja produção factual, cultural, intelec­tual, científica forneça um relato da realidade diferente do enredo escrito pelo populista são tratados com menosprezo nos casos mais amenos e, em situações agudas, com violência. O conteúdo é esse e a forma, enfeitada com a fantasia estúpida do carisma. O líder de verdade inspira a sociedade, enquanto o carismático busca usá-­la como massa de manobra.

Publicado em VEJA de 13 de setembro de 2017, edição nº 2547

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