Era vidro e se quebrou
Aécio Neves tinha um plano que não deu certo: derrubar Alckmin e se escorar em Temer
O senador Aécio Neves tinha um plano, antes de ser alcançado pela Procuradoria-Geral de República em decorrência da delação de Joesley Batista. Planejava se candidatar à Presidência da República em 2018, com o apoio do PMDB e do DEM. O primeiro movimento seria manter o controle do partido que presidia, afastando as pretensões do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tido depois da eleição de João Doria à prefeitura da capital, em 2016, como o primeiro da fila. Isso incluía postegar a eleição de uma nova direção executiva para o PSDB e firmar acordos com o poder vigente.
Aécio conseguiu ambos intentos. Manteve-se na presidência do partido, abriu mão da presidência da Câmara, que seria disputada pelo deputado Antonio Imbassahy, negociou a indicação dele para um posto importante no Palácio do Planalto (a coordenação política) e “fechou” com o presidente Michel Temer apoio dos tucanos a Rodrigo Maia (DEM) para o comando da Câmara, em troca de adesão à futura candidatura dele. Havia plantado ouvidos no seio do governo e, ao mesmo tempo, afastado Alckmin (um tucano contrário à participação do PSDB no governo) do caminho que, na ideia de Aécio, levaria a uma aliança de resultados perfeitos.
A vida andou e esse projeto que diante da realidade era de vidro, se quebrou. Aécio tornou-se eleitoralmente inviável, o partido que o sustentaria explicitou sua divisão/confusão e o polo de (alguma) expectativa de poder voltou-se outra vez para Alckmin. Não por causa da fantasia Doria, mas por absoluta ausência de alternativa. Hoje o PSDB é presidido de direito por um desafeto de Aécio, o senador Tasso Jereissati, e de fato pelo senador mineiro cuja capacidade de liderança se esvaiu no curso da Lava Jato. Ninguém responde ao coronel, enquanto fingem respeitar o general. É assim que acaba um partido. Irremediavelmente partido, desprovido de convicção, refém das piores circunstâncias.