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O frango de Napoleão Bonaparte

O imperador e militar francês saboreou um prato com essa ave após derrotar os austríacos. Por superstição, passou a exigi-lo no final de todas as batalhas

Por J.A. Dias Lopes Atualizado em 30 jul 2020, 20h49 - Publicado em 18 jul 2017, 11h22

Napoleão Bonaparte (1769-1821) chegou ao poder por meio de um golpe de estado. Encerrou os dez anos de turbulência da Revolução Francesa e enfrentou uma longa crise institucional criada por problemas de ordem política, econômica e social. Foi proclamado cônsul vitalício e depois se autoproclamou imperador.

Maior cabo de guerra dos tempos modernos e inigualável estrategista, devolveu o orgulho cívico ao seu país pelas sucessivas vitórias militares. Admirador do romano Júlio César, queria transformar a França na maior potência mundial. Em 1810, já controlava quase toda a porção ocidental da Europa, faltando apenas o Reino Unido.

Um dos feitos militares de Napoleão foi o trunfo na Batalha de Marengo, no Norte da Itália, travada a 14 de junho de 1800. Seu exército bateu o austríaco, que ocupava a região, obrigando-o a aceitar a derrota e se retirar dali. Ele a considerou sua maior vitória, até porque enfrentou um inimigo numericamente superior.

Napoleão atravessando os Alpes: qual era realmente a cor do cavalo do dele? (Jacques-Louis David/Divulgação)

Durante o combate, o carroção da intendência se extraviou com os mantimentos da comida dos generais. O cozinheiro ficou desesperado, mas não desistiu. Napoleão jamais comia antes de uma batalha, apenas quando ela terminava. Então, o mestre-cuca pediu aos ajudantes que encontrassem nas redondezas os gêneros possíveis.

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Voltaram com um frango, três ovos, quatro tomates, seis camarões de água doce, alguns dentes de alho, um ramo de salsinha e um pouco de azeite. Juntando um pouco de conhaque, o cozinheiro fez um prato de combinações incomuns, batizado de Poulet Sauté Marengo (Frango Marengo). Caiu no gosto de Napoleão. Supersticioso, ele passou a exigi-lo depois de todas as batalhas.

A receita foi atribuída por muito tempo ao cozinheiro Dunand, cujo primeiro nome se perdeu. Era de origem suíça e trabalhou com Grand Condé, príncipe francês do século 17, um dos famosos gourmets da França, com pratos criados em sua homenagem, caracterizados pela presença de purê de feijão vermelho. Ele de fato trabalhou para Napoleão, mas só a partir de 1805. Portanto, não estava na Batalha de Marengo.

Mais tarde, Dunand tentou equilibrar a receita. Trocou os camarões por cogumelos, o conhaque por vinho branco e incorporou tomate e croûtons, ou seja, pequenos cubos de pão dourados na manteiga. Napoleão vetou o aperfeiçoamento. Suspeita-se ter sido por superstição. A fim de trazer bom augúrio, o prato deveria permanecer igualzinho ao da Batalha de Marengo.

Napoleão não era um gourmet. Gostava da comida consistente, para não usar palavra mais forte, comia com as mãos e as limpava no pão. Pela manhã, atracava-se com ovos fritos na manteiga, queijos curados e azeitonas temperadas. No almoço ou jantar, comia chouriço com lentilhas ou compota de maçãs, crépinettes, um embutido de carnes variadas, envolvido pela membrana rendilhada que reveste a cavidade abdominal do porco, e macarrão com ragu de carneiro. Adorava sopas opulentas.

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Dunand se esmerava nessas preparações, porém não era fácil satisfazer o gosto rude do patrão. Desenvolveu para ele a Sopa do Soldado. Levava feijão branco, batata, legumes e, no final, incorporava pistou, condimento provençal semelhante ao pesto genovês, à base de azeite, alho, tomate e manjericão. Cozinhava com o mínimo de líquido, pois o imperador a preferia espessa. A sopa ficava tão grossa que sustentava uma colher de pé durante alguns segundos.

Também não era grande entendedor de vinho. Por algum tempo bebeu um tinto da Córsega, em homenagem à ilha natal. Por gosto e superstição, passou-se para o tinto Chambertin, da Bourgogne, procedente de um dos vinhedos melhores e de maior fama na região. Hoje, chama-se Gevrey-Chambertin, pois incorporou o nome da sua comuna. Conheceu-o quando ainda era oficial de artilharia e passou por ali. Tornou-se um vinho tão importante para ele que seu fornecedor parisiense o acompanhava nas campanhas militares.

A lenda diz que, antes de morrer exilado na ilha de Santa Helena, no meio do Atlântico Sul, Napoleão atribuiu a derrota na Batalha de Waterloo, a 18 de junho de 1815, na atual Bélgica, para o exército britânico do Duque de Wellington, e do marechal-de-campo prussiano Gebhard Leberecht von Blücher, ao esgotamento da reserva do amado Chambertin.

Além disso, não teria morrido envenenado com arsênico pelos ingleses, como desconfiam alguns biógrafos, em versão contestada por exames científicos, mas em razão de não o deixarem beber o vinho favorito. Serviam-lhe apenas os tintos de Bordeaux, que considerava “fracos demais”. Seguem-se outras fantasias a respeito.

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A superstição acompanhou a vida do grande comandante militar e imperador francês. Supõe-se que, por esse motivo, ele nunca teve um cavalo fixo por muito tempo, a exemplo de outras figuras de verdade ou imaginárias, como Alexandre, o Grande, que não vivia sem o Bucéfalo; Dom Quixote de la Mancha, sempre em cima do Rocinante; ou El Cid e seu legendário Babieca.

Estima-se que Napoleão andou em 150 equinos. O mais famoso foi o tordilho Ali, rebatizado de Marengo, com o qual atuou na batalha homônima e nas de Austerlitz, Jena e Auerstedt, Wagran e em parte da campanha da Rússia. Os ingleses capturaram o animal em Waterloo e hoje expõem seu esqueleto no Museu Nacional do Exército, em Londres.

A brincadeira que divertia as crianças de antigamente, perguntando “qual a cor do cavalo branco de Napoleão” não passava de uma divertida charada. Tudo por culpa do francês Jacques-Louis David, pintor oficial da corte. Ele retratou Napoleão empinando um belíssimo cavalo branco, na série de cinco quadros a óleo feitos entre 1801 e 1805, nos quais mostra o exímio estrategista atravessando os Alpes, a caminho da Batalha de Marengo.

Esse combate referendaria sua infidelidade ao cavalo. Espalhou-se que, perdendo Ali para os ingleses, Napoleão deixou o campo de batalha no lombo de uma mula, como já fizera na campanha da Rússia.

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POULET SAUTÉ MARENGO – RENDE 4 PORÇÕES

INGREDIENTES

  • 1 frango de aproximadamente 1 1/2 Kg
  • 2 colheres (sopa) rasas de azeite de oliva
  • 2 colheres (sopa) rasas de manteiga
  • 150g de champignons
  • 2 dente de alho amassados
  • 1/2 copo de vinho branco seco
  • 3 tomates sem pele, bem picados
  • 60g de extrato de tomate
  • 1 copo de caldo de vitelo
  • 8 cebolinhas pequenas
  • 1 colher (sopa) de manteiga (finalização)
  • Salsinha picada a gosto (finalização)
  • Sal a gosto

GUARNIÇÃO

  •  4 camarões temperados com sal, ligeiramente aferventados e reservados no calor
  • 4 fatias grandes de pão de forma fritas na manteiga
  • 4 ovos fritos

PREPARO

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1. Corte o frango em pedaços, pelas juntas, tempere-os com sal e frite-os em uma panela, com o azeite misturado á manteiga. Alguns minutos antes do término do cozimento do frango, junte os champignons.

2. Retire os pedaços de frango e os champignons da panela e reserve-os quentes.

3. Mantenha a panela no fogo, com os sucos do cozimento e introduza os dentes de alho amassados.  Incorpore o vinho e reduza a dois terços. Complete colocando os tomates, o extrato, o caldo de vitelo e as cebolinhas.

4. Deixe ferver por uns cinco minutos e adicione a carcaça,  as coxas e sobrecoxas de frango. Ferva por mais cinco minutos e coloque os pedaços do peito e as asas. Deixe mais um tempo no fogo, até o frango ficar bem macio. Junte os champignons e prove o sal.

FINALIZAÇÃO

5. Distribua os pedaços de frango e os champignons nos pratos.

6. Leve o molho da panela ao fogo, reduzindo-o se for necessário. No final, desligue o fogo, junte  uma colherada de manteiga e misture. Coloque o molho sobre o frango e polvilhe a salsinha.

7. Guarneça os pratos com os camarões, as fatias de pão e os ovos fritos. Sirva imediatamente.

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