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Valentina de Botas: Que a temperatura abaixe e a lucidez se eleve

Gente séria já relembra o teflon do jeca: nada grudaria nele. Já tentaram um par de algemas?

Por Augusto Nunes Atualizado em 20 fev 2017, 18h47 - Publicado em 20 fev 2017, 16h53

Não sei se resultante da comoção pela morte de Marisa Letícia; se pela depredação cotidiana da política que força semelhanças e amputa diferenças entre os políticos; se pelos vícios das pesquisas eleitorais ou se pela eficaz combinação de tudo isso e mais o que me escapa, a pesquisa da CNT/MDA, feita na época do comício em que a ex-primeira-dama foi velada, deu Lula na cabeça para 2018.

E a súcia pira na maquinação fecunda que une, num jogo pesado, muita grana (custeando campanhas aqui e no exterior para atacar Sérgio Moro e as instituições brasileiras), jornalismo caça-cliques, gritaria para calar a prudência, histeria confundida com crítica e um país que desperta todas as manhãs com o entorpecente “os políticos vão acabar com a Lava Jato e a Lava Jato vai acabar com os políticos”. Aturdida, a realidade sempre nuançada não sabe como se fazer perceptível ante a rigidez estúpida desse horizonte falso.

Aludir aos salários estratosféricos e à corrupção no Judiciário? Retaliação por causa da LJ. Destacar que, independentemente das intenções de Temer em nomear Moreira Franco para o ministério, a um juiz de primeira instância é vetado conceder liminares cujo objeto seja ato de competência exclusiva do presidente da república (como nomear ministros), prerrogativa restrita ao STF? Coisa de gente vendida que quer acabar com a LJ.  

Para onde vai um país que se conduz assim? Não sei, mas é bom que em certa medida ele se conduza por esta operação que fará a limpeza que nós, como eleitores, não soubemos fazer, moralizando o cenário político nacional. Só que ela não pode ser a medida total das coisas porque, do mesmo modo que a LJ é decisiva para nossa sobrevivência como nação, temos outras necessidades dramáticas que também são, mas independem dela.  

Por exemplo, as reformas política e eleitoral, tributária e fiscal, previdenciária e trabalhista, para as quais serão necessários votos no Congresso – desculpem, isso é democracia –, e para obtê-los, o presidente dá o que tem: cargos. Isso é fazer política e ela se dá, sim, por trocas, mas em torno de princípios, e não em torno de dólares na cueca, tríplex sem dono, jornalismo de aluguel e outras canalhices que garantiram 13 anos de um regime que desfez política e desidratou a democracia. À sociedade preservado sempre o espaço de exigir que os princípios incluam a eficiência e a honestidade de quem ganhará o cargo.

Mas o chão tremeu porque Eliseu Padilha disse, num evento público, que o governo fez política ao nomear Ricardo Barros ministro da Saúde. Quem pode tolerar que um governo faça política depois de ter um presidente que comprou o Congresso e outra que o desprezava? Ricardo Barros é um desastre não pela forma como foi nomeado, mas porque, depois disso, não apresentou um mísero esboço do que fará para administrar o caos que encontrou e, se alguém consultar o site do MS, descobrirá que uma licitação de repelentes para gestantes pagará R,00 por unidade, quando a marca mais cara custa R,00 nas farmácias. Confronte-se a repercussão mínima do descalabro com a gritaria em torno da fala de Padilha e temos um exemplo da cretinice que exige a expiação de falsos pecados e descuida dos verdadeiros.

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Agora que sabemos que Lula venceria Aécio, Marina Silva e Alckmin já temos projeções eleitorais para a terra dos politicamente mortos, esperemos alguma pesquisa que inclua gente viva, sem apelidos numa planilha de propina. Sei não, mas 2018 está muito longe no país da LJ, pesquisas são retrato envelhecido no instante mesmo de revelação da realidade que o forjou e a vitória do jeca só se dá na continuidade dessa pregação da política como falência do encaminhamento institucional dos desejos da sociedade e do funcionamento dela – anticivilização: a chance de sobrevivência de quem está morto.

Ou seja, o “comandante máximo” do petrolão segundo o Ministério Público –que espera o timing para prendê-lo, ao passo que para o jeca qualquer tempo é tempo para desafiar a Justiça – só se salva pelo primitivismo e vai se lavando no criticismo compulsivo que iguala limpos, sujos e mal-lavados.

Assim, enquanto ele ganharia as eleições, Temer, cujo único crime comprovado é governar (e relativamente bem, um agravante nesses tempos), dispara em impopularidade na tal pesquisa pós-velório-eleitoreiro. Se por um lado Temer pode gerar força política a partir da fraca popularidade não dando bola para ela e fazendo o que o país precisa para se afastar do abismo; por outro, a crise tem um limite de temperatura a partir do qual tudo se inviabiliza e os tardia e legalmente depostos triunfariam na terra que arrasaram, depois de incendiar essa pinguela (na definição de FHC), precária conquanto decisiva, sobre o abismo para o qual foram precisamente eles que nos trouxeram.

A quentura com que sonha a súcia resultaria apenas da tentativa de o governo tentar-acabar-com-a-LJ, dizem os críticos honestos do governo, concordo. O diabo é que quanto mais Temer diga e aja demonstrando que não se meterá com a operação, mais a percepção do contrário se sedimenta. Essas e tantas outras impressões invertebradas elevam a canícula artificialmente. 

Me parece claro que, do mesmo modo como o PT se dedicou a melar a LJ e não conseguiu, Temer não conseguirá ainda que tentasse. Não deixar claro como Temer faria isso – e ninguém que o acusa consegue demonstrar como ele o faria – é um dos meios de deixar claro, para quem basta achar que a coisa é para que a coisa seja, que ele o fará. Ah, mas ele quer. E daí? Um país se manifesta contra a subjetividade do governante ou contra os atos efetivos dele?

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O que pode melar a LJ é liberdade do comandante máximo do petrolão, ou alguém duvida que a prisão dele cortaria as asas imundas de renans, eunícios, pimentéis, gleisis e congêneres que, exceto agir com decência, fazem tudo para voar para longe da polícia? Todos se encolheriam à própria covardia se vissem engaiolado o capo de tutti que, de novo, aposta na falência do país para escapar. A prisão dele seria pedagógica.

Evidente que Temer comete erros, como é evidente que 98% da grande imprensa se apequena amplificando-os à histeria e 100% das outras piram na perspectiva de Lula voltar ao poder, com gente séria já relembrando o teflon do jeca: nada grudaria nele. Já tentaram um par de algemas? Ah, espera-se o timing. Entendo. Enquanto isso, os acertos do governo são ressalvados por antecipações de manobras, parcialmente encobertos pelas nuvens de conspirata, ladeados pela lembrança dos erros e diluídos, então, no triunfal e cada vez mais perigosamente eficaz “político é tudo igual”.

O país tem a obrigação de amadurecer imediatamente e lembrar que, se os erros de Temer fossem mera delinquência e se ele se assemelhasse a Lula, Dilma ou mesmo Sérgio Cabral, teria escolhido o novo relator da LJ no STF, feito umas 50 listas de jornalistas que fazem “mal ao país”, realizaria uma cerimônia por dia no Planalto com apaniguados vestidos para a guerra de resistência, promoveria a própria versão da clivagem desoladamente eficiente de nós x eles e arrumaria uma trincheira vitimista-demagógica qualquer de onde sabotaria a democracia. Isso porque, na sociedade PT-PMDB-PP para esbulhar o país, a condução petista se fez não só pela ânsia insolúvel de poder e grana, mas fundamentalmente pela concepção nefasta que petistas têm de Estado, política, justiça, governo, sociedade e democracia.

Dia 23 de março, se não houver uma boa notícia para o país que presta, o PT e congêneres vão às ruas festejar o fato de a LJ não ter prendido o jeca que encena a saga do herói. Eu não vou, obrigada. Essa pauta embolando coisas que não se penetram, do aparente triunfo do pior político da nossa história à defesa da LJ que o mantém livre, é sinal do delírio manobrado por uma corja que fará dos defensores honestos da LJ figurantes da festa. Haverá faixas recicladas de “Fora, Temer”, “Não ao golpe”, ‘Vai ter luta”; em São Paulo, os mortadelas de Boulos, hoje estratégica e momentaneamente na sombra, sairão à luz e ao calor já amenos do outono na Paulista. Que a temperatura abaixe, que a lucidez se eleve. Não vou: não mordo a isca.

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