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Valentina de Botas: Os brasileiros radicais flertam com a morte do senso interno de liberdade

Ninguém nos Estados Unidos se xingaria por causa das eleições presidenciais daqui

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 21h20 - Publicado em 14 nov 2016, 17h21

“Canalha, mídia golpista, vocês vão se f* porque o povo não é bobo e ninguém cai mais nessa conversa de uma elite fascistoide, chora direitinha!!!!!! Chupaaaaa!!!! A casa grande surta quando a senzala anda de avião!!!!!!”. Comentário modelo de devotos da súcia petista quando Dilma se reelegeu.

“Canalha, mídia golpista, vocês vão se f* porque o povo não é bobo e os comunistazinhos escrotos disfarçados de jornalistas foram desmascarados. Trump é a vitória da direita contra a tramoia do jornalixo!!!! Chora esquerdalha!!!!! Chupa!!!!!”
Comentário modelo de admiradores brasileiros de Donald Trump nas redes sociais a artigos do Augusto Nunes, meu e do Oliver sobre a vitória do americano.

Desculpe-me o eventual leitor deste texto, desculpem-me as famílias brasileiras nos lares das quais este texto eventualmente for lido, mas os dois modelos são um extrato real do mundo-cão virtual. Atenção, não me refiro aos moderados na expressão da preferência por Trump, me refiro apenas aos radicais; gente que despeja no teclado a própria infelicidade ou a felicidade deformada. Quando afirmei aqui que os dois bandos radicais se igualam, considerava o comportamento de manada, a obtusidade, o ódio à divergência tratada como imperdoável ofensa pessoal. Mas são idênticos também na linguagem e no estilo descritivo-narrativo. Além disso, ambos veem conspiração no sibilo do vento e atrelam a perfeição de seus ídolos à imperfeição dos que não os reconhecem como perfeitos. O pensamento é meio circular, mas não há o que fazer com essa lógica.

Assim, o bando radical esquerdista que vê golpe no impeachment e conspiração na Lava Jato para impedir que Lula se candidate à derrota em 2018, acha o caudilho tão superior que sequer ele deveria ser submetido às leis. O bando radical de direita, que vê em Trump a direita que ele não é, acha o americano tão poderoso que, por uma alquimia de que só ele é capaz, o jornalista que, um texto antes, era acusado de golpista e reacionário pelo primeiro bando, no texto seguinte é declarado pelo segundo bando um comunista que tramou a derrota do candidato dos red necks. Claro que a imprensa, sobretudo a americana, errou, mas ainda que Trump fosse o que seus adoradores acham que ele é, restaria a qualquer pessoa o direito de achar que ele não é e isso não a transformar numa caça.

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Borges conta no miniconto “Diálogo sobre un diálogo” que naquela noite enquanto o grande Macedonio Fernández lhe explicava a tese de que a alma é imortal e que a morte é o feito mais nulo que pode suceder a um homem, ele brincava com uma navalha do amigo, abrindo-a e fechando-a. Mas um acordeom no vizinho insistia em tocar a “Cumparsita”, perturbando a conversa. Borges propôs ao amigo que se suicidassem para conversarem em paz. O radicalismo é o modo mais eficaz de destruir aquilo por que se luta, a eleição foi nos Estados Unidos – onde ninguém se xingaria por causa das eleições presidenciais daqui, francamente – e não precisávamos importar essa questão para reaquecer ódios nutridos por liberticidas depois de os democratas, e não os radicais (como os defensores de intervenção militar), obtermos o impeachment de Dilma Rousseff e surrarmos as esquerdas nas eleições municipais escolhendo também moderados.

Os brasileiros radicais flertam com a morte do senso interno – o mais importante – de liberdade, num suicídio (simbólico!) inútil resultante do gozo em manada no ódio que os anima e que só enxergam no outro, atestando a deformação de se assemelhar àquilo que combatem. Borges encerra o miniconto: francamente, não me lembro se nos suicidamos naquela noite.

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