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Valentina de Botas: Janoesley agoniza por suas malformações

O procurador atraiu o chefe para derrubar o presidente ajudando os Esleys. Os destinos do país? Por favor, o espetáculo não podia parar

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h46 - Publicado em 6 set 2017, 07h47

Uma mulher comum, uma brasileira angustiada – como milhões de brasileiros – em obter a sobrevivência num cotidiano vulnerabilizado pela falta de trabalho, dividida entre a louça para lavar e os prazos curtos dos poucos trabalhos que apareciam, decidi seguir os analistas que convidavam à reflexão, escapando à volúpia fácil do linchamento disso-tudo-que-está-aí e à armadilha do moralismo com complexo de virgindade desde que Janoesley foi gerado pela mediocridade arrogante de Janot e pelo messianismo autoritário do MPF numa cópula asquerosa com Joesley Batista. Essa decisão me afastou do Pravda Global que incluía antagonistas ao jornalismo, trocado pelo foratemerismo.

Fizeram-se garçons do MPF e do PGR para servir a alfafa diária a uma manada que segue um discurso adoecido; e garçons permanecem quando, mesmo incendiado o picadeiro de Janot e seus palhaços vigaristas que não se importavam em destruir o país desde que ficassem livres, insistem no remendo da falácia desvelada segundo o qual “as provas continuam válidas”. Ora, quem avalia isso não são os procuradores nem jornalistas pendurados na fábula incinerada, mas o STF depois de analisadas as cinzas deste picadeiro: por grana e sociedade num escritório de advogados estrelados, um procurador quis ajudar os Esleys; por suas afinidades ideológicas acima da lei e pela avaliação superestimada de si mesmo, seu chefe quis derrubar o presidente; em pânico por seus crimes, os Esleys procuraram ajuda de um procurador oferecendo grana e sociedade num escritório de advogados estrelados; o procurador atraiu o chefe para derrubar o presidente ajudando os Esleys. Os destinos do país? Por favor, o espetáculo não podia parar.

Fiz esta escolha porque sempre me pareceu claro que o pós-impeachment era o momento mais dramaticamente delicado para os destinos do país desde a redemocratização, pois poderia haver a reorganização das forças derrotadas no impeachment com um incremento de uma frente nova e impensável – o MPF embolando suas obrigações institucionais à missão de “limpar a política” e “reformar o Estado. “Limpeza e reforma” estas que só a sociedade pode fazer ou a coisa será autoritária e viciada pela adoção de uma única perspectiva. Quem fez tal escolha alertando o quanto as janotices e a militância extrainstitucional do MPF prejudicavam a Lava Jato fomos chamados de robôs, defensores-de-bandidos, MAVs (militantes em ambientes virtuais)-contra-a-LJ. Pois bem, o picadeiro livrou um delinquente confesso, pode livrar eventuais delinquentes e só não envergonha o arqueiro-parcial da república porque ele teria de ser capaz de sentir vergonha.

Num primeiro momento de perplexidade e desencanto, cheguei a pensar que o melhor era Temer renunciar. Depois, ouvindo e lendo gente ponderada, entendi as ilegalidades da delação de Joesley e que a “investigação” se resumia à mera caguetagem e narrativas inverossímeis. Ocupados e deslumbrados com os holofotes, os investigadores não investigam: vazam trechos de delações e deixam o resto por conta da tutela à indignação dos brasileiros cansados – com razão! – de tanta cafajestice na política. Está claro que não é só na política: eis que o procurador-parcial, numa coletiva à imprensa, reconhece a participação ilegal do procurador Marcelo Miller. É que, como se diz no meu Pernambucano, malandro quando vê que vai cair, deita. Eis a razão do súbito decoro de Janot. Ouvi os áudios divulgados com a armação asquerosa em que Joesley e Ricardo Saud combinam “entregar quem o Janot quiser”. O lambão-geral da república, pretendendo brincar de Game of Thrones, revelou-se somente um tosco sindicalista avermelhado.

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Claro que não ponho a mão no fogo pelo presidente, mas, se tiver de ser denunciado ou deposto, que o seja num processo limpo, transparente, respeitando as leis. Até ontem, quem via crime na conversa imprópria entre Temer e Joesley exigia, em nome da transparência, que a Câmara permita que o presidente seja investigado com base numa delação nada transparente e cuja opacidade transparecia um acordo grávido de ilegalidades. Ademais, a investigação autorizada obrigaria ao afastamento do presidente, submetendo o país ao desastre da interinidade imposta pelo pacto entre a leviandade e o purismo tornado categoria de pensamento.

Joaquim Barbosa (o irascível demagogo em quem não votaria nem amarrada) declarou que em país nenhum alguém continuaria presidente depois de denúncias como as de Janoesley. Ora, em país nenhum do mundo haveria um Janoesley. Parece que nem aqui, felizmente: nossas mazelas fertilizam um Janot e um Joesley e um Fachin que abençoa a cópula aberrante entre eles, mas mesmo que o Brasil ainda não seja sério o bastante para que Muller acorde com a Polícia Federal na porta – aliás, um brinde à PF que, excluída da delação dolarizada, recuperou o que Joesley escondera – e Janot seja forçado a renunciar, o país não é tão hostil à civilização a ponto de o aberrante Janoesley parido sobreviver às malformações congênitas.

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