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Valentina de Botas: Brasil, uma zona eleitoral; e outras notas

Quando os brasileiros se livraram do pesadelo em forma de presidenta, Mendes imaginou que o TSE fosse um tribunal penal e ele um advogado de defesa

Por Augusto Nunes Atualizado em 13 jun 2017, 23h39 - Publicado em 12 jun 2017, 16h12

O Brasil como ele é: uma zona eleitoral
O Ministério Público pediu, na sexta-feira, o impedimento do ministro Admar Gonzaga, no julgamento da chapa Dilma-Temer, por ele ter sido advogado de Dilma, mas, quando ela ainda era presidente, o MP não fez o mesmo quanto a Dias Toffoli e Luciana Lóssio que também advogaram para o PT. Rodrigo Janot não queria a investigação da chapa pensando em proteger a ex-presidente com quem tem afinidades ideológicas; Gilmar Mendes manteve o processo por afinidades ideológicas com o PSDB. Quando os brasileiros se livraram do pesadelo em forma de presidenta, Mendes imaginou que o TSE fosse um tribunal penal e ele um advogado de defesa e, então, passou a passar o vexame de agir como defensor do governo; o ministro-relator Herman Benjamin não fez melhor e, invadindo a imaginação de Mendes, comportou-se como um promotor no mesmo palco imaginário, extrapolou seu papel institucional e derramou-se num relatório de mais de mil páginas com o qual lacrou algumas platitudes de Facebook. Enquanto isso, um tuiteiro adolescente de nome Deltan Dallagnol, mais conhecido como brilhante procurador do MPF que teve a bravura de prender Lula num power-point porque “a sociedade não aguenta mais tanta impunidade”, me entristecia ironizando no Twitter mais uma de nossas vergonhas. Tudo confirmando que as autoridades – as que apuram, as que julgam e as julgadas – fazem das leis um meio de acariciar vaidades, atender afinidades e gozar vinganças. O TSE levou quase três anos para… isso.

Sem políticos, vamos de juiz político
Na recusa de Janot em continuar as investigações da reeleição de Dilma e no voto de Mendes pela absolvição da chapa, talvez a nação, cansada e atordoada, pudesse aceitar, nesse ponto da nossa loucura e da nossa melancolia, que o PGR e o ministro agissem pelo bem do país. Mas como o governo Dilma, que instaurou a pior recessão da nossa história e para resolvê-la continuava fazendo o que a gerou, poderia ser benéfico? E como o governo Temer que, apesar de medicar aquela recessão, pode ser positivo se vive na expectativa de morrer a qualquer momento? Quanto ao de Dilma, não há mais nada a dizer; quanto ao de Temer, talvez só a necessidade de se viabilizar um nome consensual para o mandato tampão até 2018 mantenha o doente respirando. E ambos só se sustentariam com a desidratação das leis: Dilma manteve os direitos políticos e Temer adia o fim pela afronta à legalidade. Herman, Mendes, Janot, Dallagnol… Os brasileiros, órfãos de políticos em quem confiar, torcem por este ou aquele juiz-ministro-procurador que agem como políticos. Nenhum deles atende o Estado de Direito e quase todos dividem mesas de caríssimos restaurantes no Brasil e alhures, enquanto as torcidas se ofendem no reino do desencanto e da intolerância.

Se perguntar ainda não ofende
Herman Benjamin, que se recusa a ser coveiro de prova viva que não poderia ser usada (pesquisem a lei, se quiserem), teria cassado a chapa Itamar-Collor e impedido, então, o Plano Real que melhorou o país vocacionado a piorar? Carmem Lúcia, indignada com a suposta investida da ABIN contra Fachin, permanecerá calada consentindo a investida concreta da PF contra Mendes? Os tucanos, que ameaçam deixar o governo e ameaçam continuar, ameaçam virar homens e sustentar o compromisso assumido?

Faltaram as sobrancelhas
Nobre atitude do ministro Roberto Barroso em se desculpar pela afirmação desastrosa de que o ex-colega Joaquim Barbosa é um “negro de primeira linha”. E só. Mas li tantos elogios a Barroso que pensei ser outro Barroso: progressista, bem-humorado, contrário ao preconceito, inimigo do machismo, contra o que é ruim, a favor do que é bom e tal. Injusto ninguém mencionar as sobrancelhas mais bem-feitas do que as da Brooke Shields. Por favor, é o mesmo Barroso que fraudou o regimento da Câmara tentando impedir o impeachment de Dilma e quer legislar sobre o aborto, a liberação das drogas e outras matérias atropelando o Congresso e a Constituição por consequência. Talvez aquela vastidão do mar de Copacabana, para este esquerdista da zona sul carioca, o rico viveiro de esquerdistas que matariam Marx de vergonha ou raiva, tenha determinado na alma do ministro esse inconformismo com os limites da Constituição. É o neoconstitucionalismo. Uma coisa esquisitona da qual se entende o suficiente para saber que não presta: as leis pactuadas pela sociedade não promovem a justiça e o bem – talvez porque haja muito povo e pouca zona sul –, então uma confraria de notáveis que inclua Barroso aplica a justiça e o bem segundo, veja só, uma confraria de notáveis que inclua Barroso. Nesse contexto, mais do que advogado do assassino e terrorista Cesare Battisti, Barroso ficou seu fã.

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Deu tudo errado
A Instituição Evangélica Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, não poderia ter ideia mais infeliz do que a de, numa atividade pedagógica (!), ensinar aos alunos que “se tudo der errado” (não estudar o suficiente para entrar na faculdade) eles serão garis, empregados domésticos, lixeiros e outras trabalhos tidos como braçais e, por isso, desprestigiados. A estupidez foi muito comentada nesta semana e as reações obrigaram a escola a emitir uma nota que só não piorou tudo porque não há como. Porém, elas foram exageradas. É claro que aquelas são profissões tão dignas quanto as que exigem diploma, até porque é o nosso caráter, e não nosso ofício o que nos faz dignos; mas pergunte-se a homens e mulheres que exercem aquelas ocupações de que a escola zombou se é com isso que sonham para seus filhos. Aliás, pergunte-se aos próprios se é com elas que sonham. Não é e só mesmo por falta de opção topariam alguma delas. Negar isso é mais uma deformação do politicamente correto que torna hipocrisia o que é só a verdade.

Encham suas taças, senhores
Claro que Rodrigo Janot não preparou uma armadilha para pegar Michel Temer: era para pegar a nação, devolvê-la à armadilha em que caiu elegendo e reelegendo o PT e fazê-la esquecer quem ampliou o império da roubalheira e encomendou a ruína do país. Se a coisa não teve o resultado imediato, a manipulação da indignação alheia segue evoluindo e o ex-vice decorativo será denunciado como chefe da oranização criminosa porque Janot o quer (junto com o PSDB) como o vilão do assalto à nossa grana, ao nosso futuro e à institucionalidade. Assim, no ano da graça de 2017 neste país voluntariado para o caos, Lula, entre comícios incessantes, pode abrir mais um vinho de 30 mil reais da adega no sítio dele que ele não tem e brindar a quem o fez renascer como um pobre operário perseguido por um juiz-a-serviço-de-uma-elite-golpista em razão de um triplex fubango. A trituração do governo Temer e de aliados semeia a vitória de Lula em 2018 ou de quem ele quiser.

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