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Roberto Pompeu de Toledo: Hora do recreio

"Chávez liquida as instituições representativas e faz a vontade do povo, que beleza!"

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h57 - Publicado em 9 abr 2017, 23h00

Publicado na edição impressa de VEJA

No Brasil o presidente Fernando Henrique Cardoso era um; no exterior era outro. Adeus às disputas, às intrigas, aos escândalos que lhe infelicitavam a vida. Lá fora, como evidencia o recém-publicado terceiro volume dos Diários da Presidência, cobrindo os anos de 1999 e 2000, era o prazer de encontros como os que teve com o americano Bill Clinton. Num deles, Clinton lhe falou da proposta que recebeu de Boris Ieltsin, então presidente da Rússia: “Você cuida do resto do mundo, e deixa a Europa para mim”. O presidente americano acrescentou que o russo, famoso pelas bebedeiras, não tinha “mais que 45 minutos de lucidez por dia”. Em outro, no auge da crise do Kosovo, província rebelde da Iugoslávia, Clinton comentou que o pai e a mãe do sanguinário ditador iugoslavo Slobodan Milosevic se suicidaram, e concluiu: “Quando o sacrifício é grande, o coração endurece”. FHC observa: “Os americanos são assim, sempre têm uma explicação psicológica para fatos sociais”.

Hugo Chávez, no início de mandato, era uma incógnita que Fernando Henrique tateava. “Não é nenhum insensato. (…) É um homem que tem o sentimento de seu povo e certa visão bolivariana, quem sabe fora de moda, mas que modifica as coisas na Venezuela”, registrou em julho de 1999, depois de reunião no México. Dois meses depois, a impressão era inversa: “Na verdade é um coronelão com generosidade e muito atropelo. Entretanto, no clima latino-americano isso abre uma janela de esperança para os desavisados ou os sem rumo, Lula à frente, já entusiasmado com o Chávez. Ele liquida as instituições representativas e faz a vontade do povo, que beleza!”.

Igualmente cambiante foi o juízo sobre o presidente argentino Fernando de la Rúa, empossado em dezembro de 1999. “Gosto cada vez mais do De la Rúa, é uma pessoa do meu jeito, simples, fala direto, não é pedante, muito agradável”, registrou em maio de 2000. No mês seguinte, o presidente argentino levou­o a um sobrevoo por Buenos Aires em helicóptero. “Foi sensacional”, comenta Fernando Henrique. Em outubro, notou-o “um pouco ausente, sem controle da situação”. Em novembro, sentou-se ao lado da mulher de De la Rúa numa recepção e ouviu dela que a Presidência, para o marido, era “um aborrecimento contínuo”. De la Rúa, que a essa altura parecia ao presidente brasileiro “uma barata tonta”, renunciaria um ano depois, deixando como legado a ruína econômica, social e política de seu país.

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FHC faz elogios entusiásticos ao primeiro-ministro de Portugal, António Guterres, “um dos maiores líderes do mundo contemporâneo”, com quem se encontrou várias vezes. “Se não fosse primeiro-ministro de Portugal, se fosse de um país um pouco maior, bastava a Espanha, teria reconhecimento mundial.” Hoje Guterres é secretário-geral da ONU. Na Alemanha, recebido pelo chanceler Gerhard Schroeder, FHC teve contato também com líderes de outros partidos, inclusive os da oposição, entre os quais “a presidente da CDU, já a conhecia, a moça que está substituindo o [Helmut] Kohl, ela sabe das coisas, uma pessoa de cabeça organizada e simpática – o quanto esse tipo de mulher ou de homem militante pode ser simpático”. O nome da moça, que FHC ainda não memorizara, era Angela Merkel.

Em Montevidéu, numa reunião do Mercosul, FHC ouviu uma anedota do presidente uruguaio Julio Sanguinetti: “O Mercosul é união entre o bom gosto e a sobriedade brasileira, a honestidade paraguaia, a alegria uruguaia, a simplicidade e humildade argentina e a sinceridade chilena”. Numa viagem a Cartagena, FHC sentiu de perto os problemas da Colômbia, assolada pelo narcotráfico e pela guerrilha. Na volta, leu um livro sobre os marechais de Napoleão, todos feitos duques, reis, mas no fim julgados, condenados, fuzilados. “A história é realmente bastante dura, cruel.”

“Por que estou dizendo isso?”, acrescenta o presidente. “Porque estou vindo da Colômbia e estava pensando: meu Deus, o que faz alguém querer ser presidente da Colômbia?” Como ele estava voltando às disputas, intrigas e escândalos da política brasileira, fica aos psicanalistas a sugestão de verificar se o que queria mesmo dizer era: “Meu Deus, o que faz alguém querer ser presidente do Brasil?”.

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