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Quem trata os brasileiros como um bando de idiotas é o presidente da República

PUBLICADO EM 22 DE JULHO DE 2010 Nunca antes na história do futebol, garantiu o presidente Lula no meio da festança em Zurique,  a FIFA tomou uma decisão tão acertada quanto a que conferiu ao País do Carnaval o privilégio de organizar a Copa do Mundo de 2014. “Será  uma tarefa incomensurável, mas faremos uma […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 14h45 - Publicado em 22 jul 2010, 12h16

PUBLICADO EM 22 DE JULHO DE 2010

Nunca antes na história do futebol, garantiu o presidente Lula no meio da festança em Zurique,  a FIFA tomou uma decisão tão acertada quanto a que conferiu ao País do Carnaval o privilégio de organizar a Copa do Mundo de 2014. “Será  uma tarefa incomensurável, mas faremos uma Copa para argentino nenhum botar defeito”, gabou-se o palanque ambulante em 30 de outubro de 2007.  “Vocês verão coisas lindas da natureza e nossa capacidade de construir bons estádios.” Passados quase três anos, só são visíveis as “coisas lindas da natureza”, inauguradas no Dia da Criação.

Continua no papel o que depende do governo ─ um mundaréu de obras abrangendo estádios, aeroportos, transportes urbanos, sistemas de trânsito e redes hoteleiras, fora o resto. “Falta tudo”, resumiu no fim da Copa da África do Sul o secretário-geral da FIFA, Jerôme Valcke. Se a Seleção tivesse conquistado o hexa, o carnaval temporão inibiria ou acabaria abafando qualquer cobrança da entidade que controla o futebol mundial. Caso algum cartola com sotaque ousasse atrapalhar o feriadão nacional, seria silenciado aos gritos pela pátria de chuteiras: um país que ganha seis vezes a taça é capaz de fazer em seis meses o que outros não fazem em seis anos. O fiasco do time de Dunga atrapalhou tudo.

Surpreendido pelo pito de Jerôme Valcke, Lula entrou em campo sem aquecimento e derrapou na bravata aloprada: “Terminou uma Copa do Mundo na África do Sul agora e já começam aqueles a dizer: ‘Cadê os aeroportos brasileiros? Cadê os estádios brasileiros? Cadê os corredores de trem brasileiros? Cadê os metrôs brasileiros?’ Como se nós fôssemos um bando de idiotas que não soubéssemos fazer as coisas e não soubéssemos definir as nossas prioridades”. O uso do sujeito indeterminado comprova que Lula sabe com quem está falando: “aqueles” são os dirigentes da FIFA, entidade que não se impressiona com chiliques de devedores.

E o uso da primeira pessoa do plural comprova que Lula se considera um Macunaíma mais esperto: esse “nós” é apenas uma vigarice forjada para transformar todos os brasileiros em alvo do petardo endereçado a um destinatário com endereço certo e sabido. Valcke circunscreveu o diagnóstico a uma fantasia batizada de “PAC da Copa”. Mas vale para o PAC1, o PAC 2 e demais filhotes da família aos cuidados da mãe que não diz coisa com coisa. Quem não sabe fazer o que promete é Lula. Quem não sabe definir prioridades e materializá-las é Lula.

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Sabe-se há alguns séculos que a diferença entre um estadista e um político é que, enquanto o primeiro pensa na próxima geração, o segundo pensa na próxima eleição. Graças a Lula, constatou-se que a segunda categoria se divide entre os que pensam na próxima eleição todos os dias e os que só pensam nisso o tempo todo. Para vencer, fazem qualquer negócio. Vendem a mãe (e entregam), não admitem erros nem se responsabilizam por estragos causados por gente que nomeou. Os culpados são sempre os outros.

Dois dias depois do truque do sujeito indeterminado, o camelô de si mesmo reapresentou em Diadema o truque do vilão misterioso. “Tem uma pessoa, que eu não sei quem é, mas que cria muitas dificuldades para dar licenças ambientais não só aqui, mas em várias cidades de São Paulo”, fingiu intrigar-se o grande embusteiro. Risadas subalternas avisaram que a plateia entendera que o orador estava falando de José Serra. A invencionice explica por que ainda não deram as caras em território paulista o trem-bala que Lula prometeu começar a construir em 2006, o terceiro aeroporto que Dilma Rousseff prometeu começar a construir em 2007 e outros colossos que só aparecem empoleirados no palanque ambulante.

Lula, na opinião de Lula, é o maior governante da História. A afilhada Dilma Rousseff, na opinião do padrinho, é a maior gerente de país de todos os tempos. E no entanto nada acontece, além da multiplicação dos dependentes do Bolsa Família e da liberação de verbas que nunca chegam ao destino oficial. Favorecido pelo crescimento econômico que segue seu curso apesar do governo, o Brasil é contemplado uma vez por semana com algum milagre visível apenas aos olhos de quem crê nos superpoderes do enviado pela Divina Providência para salvar o País do Carnaval.

Por enxergar as coisas como as coisas são, o secretário-geral da FIFA está cobrando o cumprimento das promessas que garantiram ao país o papel de anfitrião da Copa de 2014. Valcke tem motivos para deduzir que vem lidando há anos com tratantes e ineptos, mas não usou a expressão “um bando de idiotas”. Quem trata os brasileiros como se fôssemos todos idiotas é o presidente da República.

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