Portão aberto
TEXTO PUBLICADO NA EDIÇÃO DE VEJA DE 30 DE NOVEMBRO DE 1983 Jamais se poderá acusar Teresinha Mendes Ribeiro Bopp, 32 anos, irmã do secretário de Justiça do Rio Grande do Sul, Jorge Alberto Mendes Ribeiro, 28 anos, de não ser corajosa. Por chefiar o Serviço de Atendimento Jurídico Gratuito aos Apenados, ela habituou-se a […]
TEXTO PUBLICADO NA EDIÇÃO DE VEJA DE 30 DE NOVEMBRO DE 1983
Jamais se poderá acusar Teresinha Mendes Ribeiro Bopp, 32 anos, irmã do secretário de Justiça do Rio Grande do Sul, Jorge Alberto Mendes Ribeiro, 28 anos, de não ser corajosa. Por chefiar o Serviço de Atendimento Jurídico Gratuito aos Apenados, ela habituou-se a conviver com marginais de alta periculosidade, e decidiu experimentar uma forma peculiar de recuperação dos transgressores da lei. Fiel a tais métodos, ela acolheu em sua casa, na segunda-feira passada, o preso Celso Ricardo Leite Müller, conhecido como “Dentinho”, notório assaltante de bancos. Dentinho gozaria de alguns dias de liberdade, mas teria de dedicá-los à instalação de uma porta de ferro na casa de sua benfeitora, sem receber qualquer pagamento pelo trabalho.
Com a mesma agilidade demonstrada ao assaltar bancos em Porto Alegre — só no ano passado, foram quatro — Dentinho escapou à vigilância dos agentes Sidnei Carvalho Coutinho e Jaime Renato Lopes, escalados para escoltá-lo — e sumiu. “É uma coincidência desagradável”, lamentou Teresinha depois da fuga. “Agora, um lindo trabalho irá por água abaixo”. Seu irmão, o secretário de Justiça, corre o risco de que nessas águas afunde seu cargo, a julgar pela reação do governador Jair Soares quando o caso veio a público. “Não tenho nada a falar com ele”, resumiu o governador na quarta-feira, quando Ribeiro ligou para seu gabinete. No dia seguinte, o secretário foi ao Palácio Piratini e instalou-se com a mulher ao lado do vice-governador Cláudio Strassburger, em ponto mais próximo possível do casal Soares, durante a missa do Dia de Ação de Graças. Mas só na sexta-feira conseguiu falar com o governador.
A irritação de Jair Soares é compreensível. Pressionado pela oposição, interessada em saber as causas das constantes fugas de presos, o governador não vê com bons olhos as fórmulas arrojadas da irmã de seu secretário. Em setembro, ela tentou convocar um dos seus clientes do Presídio Central, Sérgio Souza Cacildo, para construir, gratuitamente, um muro em sua casa. O promotor de Justiça Vicente Fontana Cardoso vetou suas pretensões com um sólido argumento: o preso não tinha direito a trabalho externo por estar condenado até o ano 2011. “Coloquei meu cargo à disposição”, avisa Teresinha. “Não sei como ficarão agora os apenados”.