Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Augusto Nunes Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

O triunfo do jornalismo independente

Série de três reportagens sobre um escândalo em Mato Grosso revela a mudança na metodologia da corrupção

Por Augusto Nunes Atualizado em 21 jul 2017, 13h52 - Publicado em 21 jul 2017, 13h51

Seis empresas foram destinatárias de quase metade do dinheiro pago pela Fundação de Apoio ao Ensino Superior Público Estadual (Faespe) a partir de convênios com órgãos públicos como o Tribunal de Contas do Estado (TCE) e a Assembleia Legislativa. 

A fundação é investigada na Operação Convescote pela suspeita de desviar dinheiro por meio de contratos com o poder público e empresas de fachada.

O LIVRE obteve a relação das notas fiscais de serviço apresentadas à fundação por empresas terceirizadas no período de fevereiro de 2014 a junho de 2017. O levantamento soma R$ 45.485.031,48 em débitos.

Concisos, densos e objetivos, os três parágrafos iniciais da reportagem publicada neste 12 de julho no site O Livre, acima reproduzidos, estimularam os leitores da publicação editada em Cuiabá de que estava começando um perturbador cortejo de revelações de grosso calibre. A suspeita virou certeza com a leitura dos dois parágrafos seguintes:

Continua após a publicidade

Cerca de 17% do montante pago pela Faespe ─ R$ 7.754.176,43 ─ se referem a notas emitidas entre novembro de 2014 e junho de 2017 pela Travessia Desenvolvimento Organizacional Ltda, empresa de consultoria que desde 2012 atua na linha de frente do PDI (Programa de Desenvolvimento Institucional) do TCE.

A Travessia tem como sócia, e representante em contratos assinados com a fundação, a consultora de Planejamento Estratégico do tribunal, Elisabete de Queiroz. Em 2012 e 2013, a empresa recebeu R$ 13,3 milhões em contratos diretos firmados com o TCE.

No dia 13, a segunda da série de três reportagens a segunda da série de três reportagens exclusivas, assinadas por Rodrigo Vargas, ampliou o teor explosivo das descobertas divulgadas na véspera. O texto exemplarmente enxuto, repleto de cifras e frugal em adjetivos, confirmou já na abertura que as investigações do repórter haviam devassado um escândalo de bom tamanho:

Continua após a publicidade

De 2012 a 2016, a empresa de consultoria Travessia Desenvolvimento Organizacional Ltda recebeu ao menos R$ 21 milhões por serviços prestados a órgãos públicos de Mato Grosso.

O volume de recursos é 2.600% maior do que o total de pagamentos recebidos de fontes públicas pela empresa nos cinco anos anteriores, de 2007 a 2011, quando os repasses alcançaram R$ 796.874,78.

A quase totalidade deste salto, 95% do total de pagamentos, foi resultado de valores oriundos do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT) e da Fundação de Apoio ao Ensino Superior Público Estadual (Faespe).

Continua após a publicidade

A série foi concluída pela reportagem que identificou protagonistas de aberrações especialmente repulsivas e escancarou a abrangência do esquema concebido para intensificar os desvios de verbas e, simultaneamente, acobertá-los:

Um compromisso celebrado em 2011 entre o então governador Silval Barbosa e o então presidente do Tribunal de Contas do Estado, Valter Albano da Silva, abriu as portas para a implantação do milionário Programa de Desenvolvimento Institucional Integrado (PDI) a partir do ano seguinte.

O incremento no orçamento do órgão, estabelecido em R$ 25 milhões em 2012 e R$ 25 milhões em 2013, permitiu a assinatura de pelo menos 12 contratos de serviços e produtos com empresas de tecnologia da informação e de consultoria em gestão.

Continua após a publicidade

O período marcou, por exemplo, o início do salto no faturamento da empresa Travessia Desenvolvimento Organizacional Ltda, conforme revelou o LIVRE. A empresa recebeu cerca de R$ 800 mil por serviços prestados ao TCE de 2007 a 2011. No biênio seguinte, 2012-2013, fez contratos que lhe renderam R$ 13,3 milhões vindos dos cofres do tribunal.

Obediente ao código de ética que garante o bom jornalismo, Rodrigo Vargas procurou saber o que tinham a dizer os implicados nas histórias muito mal contadas. Não ouviu uma única explicação convincente, não colheu uma escassa argumentação razoável. Foi confrontado apenas com falatórios escorregadios, platitudes bisonhas, discurseiras sem pé nem cabeça ─ e, sobretudo, com o silêncio dos culpados desprovidos de álibis. A reação dos envolvidos só serviu para confirmar a veracidade das informações.

A série de reportagens não se limitou a jogar luz sobre outro atentado contra o dinheiro extorquido dos pagadores de impostos. Somadas, as revelações atestam que a tribo dos corruptos, surpreendida pelas operações moralizadoras ocorridas nesta década no Brasil, algumas delas consumadas em Mato Grosso, ficou mais cautelosa mas não renunciou aos atentados ao Código Penal. Apenas modernizou a metodologia.

Continua após a publicidade

Roubalheiras amparadas em licitações de obras públicas ficaram perigosas demais? Pois que se recorra a contratos milionários com lucrativas empresas de consultoria, acordos com supostos especialistas em inovações tecnológicas, fundações dedicadas a atividades imprecisas. O lucro pode ser menor. Mas também diminui o risco de cadeia. Tal descoberta já seria suficiente para afirmar-se que Rodrigo Vargas honrou a lição de Cláudio Abramo, um profissional que brilhou nas redações paulistas: “O jornalismo é a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter”.

No fim dos anos 70, em seu artigo de estreia no Pasquim, o grande Millôr Fernandes fez um vaticínio que os fatos felizmente desmentiram: “Se este jornal for independente, não dura três meses. Se durar três meses, não é independente”. Apesar da censura imposta pela ditadura militar, apesar das arbitrariedades dos carrascos da liberdade de imprensa, o Pasquim durou muitos anos ─ sem jamais deixar de ser independente.

Quando o site nasceu em Cuiabá, é provável que muitos céticos tenham repetido a profecia de Millôr. Erraram, sabe-se agora. A série de reportagens reafirma o triunfo do jornalismo independente.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.