O duelo entre o colunista e meio presidente (capítulo final)
Publicado em 17 de junho No fim do primeiro capítulo, contei que o meio presidente Antonio Paes de Andrade ficou bravo comigo em 1989, mas só perdeu a paciência de vez no começo de 2005. O ataque de nervos foi desencadeado por uma nota publicada na coluna Sete Dias, que saía aos domingos no Jornal […]
No fim do primeiro capítulo, contei que o meio presidente Antonio Paes de Andrade ficou bravo comigo em 1989, mas só perdeu a paciência de vez no começo de 2005. O ataque de nervos foi desencadeado por uma nota publicada na coluna Sete Dias, que saía aos domingos no Jornal do Brasil. O texto dizia o seguinte:
O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, está em Lisboa, incumbido de resolver a situação de quase 16 mil brasileiros que residem ilegalmente naquele país. O embaixador em Portugal, Antônio Paes de Andrade, está em Brasília, entregue a outras prioridades. Depois de quase quatro meses ocupado com a campanha eleitoral no Ceará, o ex-deputado que fundou a efêmera mas gloriosa República de Mombaça baixou em Brasília, para reforçar a ala governista do PMDB. Não faz falta em Lisboa: gente do ramo se refere a Paes como ”Mala Diplomática”. Mas deveria doar ao Fome Zero os US$ 10 mil mensais que tem continuado a receber sem trabalhar.
Em vez de mandar dinheiro para o Fome Zero, como sugeri, Mala Diplomática mandou-me a seguinte mensagem datilografada:
Senhor Jornalista:
Somente ontem, 4 de janeiro de 2005, recebi cópia de sua matéria publicada na edição de 19 de dezembro de 2004 do Jornal do Brasil.
Nela, como em várias outras matérias suas escritas contra mim, desde que me candidatei à presidência da Câmara dos Deputados, em 1989, há agressão, há injúria e há difamação.
Nesta, afirma-se que o Embaixador Antônio Paes de Andrade esteve durante quase quatro meses, no Ceará, ocupado com a campanha eleitoral. Mentira. Na verdade, estive em Fortaleza, de férias, no período de 11 de setembro a 6 de outubro de 2004.
Fui posteriormente a Brasília, chamado a serviço pelo Itamaraty, no período de 1º de dezembro a 16 de dezembro de 2004. No dia 12 de dezembro, estando em Brasília, compareci à reunião da Executiva do PMDB, na qualidade de Presidente de Honra do Partido.
A resposta esperta não desmentia objetivamente o que eu escrevera. É agora, pensei. No domingo seguinte, reproduzi a mensagem do embaixador no mesmo espaço ocupado pela nota que precipitou o desfecho do entrevero, abri um espaço de duas linhas depois da assinatura e parti para a tréplica:
Em homenagem ao ministro Luiz Gushiken, que vive recordando à imprensa a importância de valorizar o lado positivo das coisas, a coluna registra que o embaixador em Portugal, Antônio Paes de Andrade, encerrou a longa temporada nos trópicos e reinstalou-se no gabinete em Lisboa. Pode não ser uma boa notícia para os irmãos lusitanos. Para os brasileiros, é sempre positivo saber que algum figurão federal reapareceu no local de trabalho.
A coluna suspeita de que o embaixador foi clonado: alguém com o nome e a fachada de Paes de Andrade passou esse tempão no Brasil, sim. E aproveita para contar ao fundador da República de Mombaça um episódio, ocorrido há séculos, que os bons diplomatas de carreira andam recordando nos corredores do Itamaraty. O Duque de Toscana queixou-se ao embaixador da República de Veneza: achara rasa demais a qualificação intelectual de um representante veneziano com quem fora obrigado a conviver. ”Não me surpreende, temos muitos tolos em Veneza”, ironizou o interlocutor. ”Também temos tolos em Florença”, replicou o Duque. ”Mas tomamos o cuidado de não exportá-los”.
O Brasil exporta.
Paes de Andrade achou melhor não revidar. Numa troca de bordoadas por escrito, ensinou Carlos Lacerda, ganha quem der a última. Essa eu acho que ganhei.