O Batalhão da Bic voltou à ativa para aliar-se ao o bandido
PUBLICADO EM 24 DE OUTUBRO DE 2009 Depois de um sumiço de quase sete anos, voltou à ativa nesta primavera de 2009 o Batalhão da Bic, formado por guerreiros que se disfarçam de “intelectuais e artistas” para confundir a repressão. Até a posse do presidente Lula, o grupo de combatentes mantinha a caneta engatilhada todo […]
PUBLICADO EM 24 DE OUTUBRO DE 2009
Depois de um sumiço de quase sete anos, voltou à ativa nesta primavera de 2009 o Batalhão da Bic, formado por guerreiros que se disfarçam de “intelectuais e artistas” para confundir a repressão. Até a posse do presidente Lula, o grupo de combatentes mantinha a caneta engatilhada todo o tempo, para não perder um único abaixo-assinado contra qualquer coisa ─- da privatização de empresas estatais aos maus modos do guarda de trânsito, da falta de dinheiro federal para a cultura brasileira à impontualidade do entregador de pizza. De janeiro de 2003 para cá, nada conseguiu animá-los a tirar a Bic do coldre.
Para os loucos por um manifesto, pareceram pouco relevantes a institucionalização da patifaria, o escândalo do mensalão e todos os outros, a expansão espantosa do Clube dos Cafajestes a Serviço do Nação, a aliança entre vestais de araque e messalinas juramentadas, a metamorfose obscena do presidente da República, o acasalamento do santo pernambucano com os pecadores do Brasil inteiro. Depois do triunfo de Lula nas urnas, não existe pecado do lado de baixo do Equador. Tudo é tolerável, berrou o silêncio do bando. Menos a instalação da CPI do MST.
O texto do abaixo-assinado que circula na internet descobriu que tudo não passa de “um grande operativo das classes dominantes objetivando golpear o principal movimento social brasileiro, o MST”. De novo, os golpistas agem em parceria com a imprensa, esclarece o trecho que comenta a destruição de uma fazenda da Cutrale: “A mídia foi taxativa em classificar a derrubada de alguns pés de laranja de ato de vandalismo”, corrigem os manifestantes virtuais. “Uma informação essencial foi omitida: a de que a titularidade das terras da empresa é contestada pelo Incra e pela Justiça”.
Essa gente já escreveu palavrórios menos bisonhos, informam o estilo torturado e o uso de palavrões como “operativo”. Também já teve mais pudor: não é pouca coisa reduzir 10 mil pés de laranja a “alguns” sem ficar ruborizado, ou fazer de conta que o Incra não é um codinome do MST. Os manifestos de outros tempos pelo menos não escorregavam em equívocos primários. como imaginar que a Justiça contesta alguma coisa. As partes é que contestam. A Justiça julga. Por sinal, julgou em segunda instância a contestação do Incra. E deu razão à Cutrale.
No meio da procissão dos anônimos, o altar das quase celebridades exibe o professor e ensaísta Antonio Cândido e o humorista a favor Luis Fernando Verissimo. O primeiro só não reivindicou uma cátedra da USP para o amigo Lula porque o mestre de nascença ainda não conseguiu entender o que é e o que faz um catedrático. O segundo matou a Velhinha de Taubaté, personagem que acreditava em tudo que o governo dizia, porque já não é a única: Verissimo também acredita em tudo o que diz o sinuelo do rebanho.
Antônio Cândido, Verissimo e quase todos os signatários devem achar que arroz dá em árvore, desconfiam que vanga seja uma dança cucaracha e só tratam de coisas do campo quando conversam sobre futebol. Mas falam de reforma agrária com o desembaraço de quem aprendeu a engatinhar numa roça. A turma que não distingue um boi de um carneiro sabe perfeitamente a diferença entre honradez e corrupção. Sobre isso, nada tem a dizer.