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Marcos Troyjo: Tensão Trump-Kim perturba sossego da China

A elevação da temperatura entre Washington e Pyongyang é atiçada por declarações inflamadas de ambas partes

Por Augusto Nunes
Atualizado em 30 jul 2020, 20h47 - Publicado em 19 ago 2017, 23h41

Na frase que talvez melhor ilustre a estratégia de ascensão chinesa à constelação das grandes potências, Deng Xiaoping indicava: “esconda sua força; ganhe tempo”. Classicamente, argumenta-se que as relações internacionais se desenrolam em três terrenos fundamentais: o político-militar, o da prosperidade e o campo do prestígio, dos valores (o conhecido “soft power“).

Nenhuma aplicação de estratégia de Nação-Comerciante traz exemplo tão eloquente quanto o chinês. Nesse esquema, desde que a China passou a promover reformas econômicas pragmáticas —”não importando a cor do gato, desde que ele apanhe o rato”, em outra famosa formulação de Deng — a China jogou tudo na esfera econômica. E, mais especificamente, no âmbito comercial.

Nos últimos 40 anos, a China apenas cumpriu tabela no campo político-militar e no dos valores. Buscou não se envolver em guerras de terceiros e pouco fez no âmbito das operações de paz determinadas pelo Conselho de Segurança da ONU.

Hoje, com a tensão na península coreana exacerbada pelas personalidades mercuriais de Donald Trump e Kim Jong-un, a China vê-se forçada a abandonar sua inércia em áreas outras que não a economia. Isso causa desgaste — e desgosto — em Pequim. As lideranças chinesas veem-se compelidas a ter de desempenhar um papel de intermediação em que seu país mais evita perdas do que acumula ganhos.

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Há pouco que possa desagradar mais os chineses do que ter de investir ativos político-diplomáticos em algo que não lhes renderá crescimento econômico real— é o caso da Coreia do Norte como fonte de dores de cabeça geopolíticas. A elevação da temperatura entre Washington e Pyongyang é atiçada por declarações inflamadas de ambas partes.

E mais: o cenário crescentemente plausível de que talvez os norte-coreanos tenham de fato mísseis capazes de carregar explosivos nucleares até domínios americanos — seja Guam ou o Estado do Alasca faz com que os chineses sejam os “corretores indispensáveis da paz”. Trata-se de função que a China preferiria não exercer.

As reais prioridades chinesas não estão no campo militar-estratégico. Residem na sua continuada extroversão econômica para além do comércio. Convém lembrar que desde 2012 a soma de suas cifras nominais de exportação e importação fazem dela a maior Nação-Comerciante do planeta.

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Muitos enxergam nessas prioridades, como é o caso do ‘OBOR’ (sigla em inglês de “One Belt, One Road”, o gigantesco projeto de infraestrutura liderado pela China na Eurásia), motivações geoestratégicas. Mas talvez aqui, ou noutras iniciativas como a constituição de um banco asiático para infraestrutura, a principal motivação seja a abertura de novos campos de atuação para empresas chinesas. Algo portanto distante de objetivos mais imediatamente político-militares.

O problema é que agora há algo além do próprio hipertrofiado peso relativo da China nas relações internacionais a conclamar-lhe papel mais ativo. O tremendo risco na sua vizinhança representado pela Coreia do Norte em eventual conflito militar com a maior potência mundial impede a confortável inércia geopolítica que tem tradicionalmente caracterizado a política externa chinesa.

Se a China não falar duro com Kim, abrem-se flancos para que os EUA multipliquem seus questionamentos comerciais junto aos chineses. Caso a China nada faça e comece um conflito em sua vizinhança, toda a economia global vai pisar no freio, o que seguramente Pequim não deseja. E, se assistir passiva a uma projeção militar norte-americana sobre o bizarro regime de Pyongyang, a China passa recibo de indiferença e inação numa região em que Pequim considera sua inquestionável esfera de influência.

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Em sua irresistível arremetida das últimas quatro décadas, evitar a função de protagonista em embates no nível do “hard power” conferiu à China atmosfera propícia para privilegiar seu crescimento econômico. Agora, com a nevralgia entre o esdrúxulo vizinho geográfico (a Coreia do Norte) e seu principal parceiro comercial e destino de investimentos (os EUA), tal sossego acabou.

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