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Marcos Troyjo: ‘Reskilling’, o desafio global da competitividade

populismo nacionalista que encontra tanta acolhida no mundo de hoje identifica na globalização o inimigo a combater

Por Augusto Nunes
Atualizado em 30 jul 2020, 20h50 - Publicado em 25 jun 2017, 00h12

Imaginem um alienígena enviado em missão ao nosso planeta. Sua tarefa: reportar a seus superiores quais os dois fenômenos mais importantes acontecendo hoje na Terra. Provavelmente, o visitante teria de escolher mencionar em seu relatório a tendência à desglobalização e o advento da indústria 4.0.

Já sabemos muito sobre o primeiro. A desglobalização se manifesta na intolerância cultural na Europa. Na inoperância da ONU. Nos termos de comércio internacional impactados negativamente pela onda protecionista. Na tendência “nativista” do “brexit”. No individualismo nacionalista de Trump e sua cínica “América primeiro”. Na China que canta odes às virtudes da globalização econômica, mas pratica uma descarada política industrial de favorecimento ao conteúdo local mediante robusto programa de compras governamentais.

O segundo também nos é cada vez mais evidente. Compõem a Quarta Revolução Industrial a robótica e a química fina. A biotecnologia e a computação em nuvem. A automação e o big data. A força desintermediadora do blockchain e a expansão onipresente da inteligência artificial.

Em sua busca superficial por antagonistas, o populismo nacionalista que encontra tanta acolhida no mundo de hoje identifica na globalização o inimigo a combater. Mão de obra barata (ou semiescrava) explicaria parte da migração de postos de trabalho do Ocidente para o Sudeste Asiático.

Manipulação cambial estaria por trás da hipercompetitividade das exportações chinesas. Condições de trabalho aviltantes explicariam a transferência de hubs têxteis ou calçadistas da Europa e EUA para Vietnã ou Tailândia. Em suma, já que os emergentes são “injustos”, economias maduras se veem legitimadas a adotar medidas que visam a estancar sua desindustrialização.

Grande realizado evento nesta semana, em Londres, a Global Expansion Summit reuniu representantes de 100 diferentes países para discutir as muitas intersecções entre a tensão, por um lado, de um mundo cada vez mais conectado versus políticas industriais e comerciais desglobalizantes e, por outro, as crescentes ramificações da indústria 4.0. O evento é idealizado e dirigido pelo brasileiro Fernando Faria.

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Dessa justaposição, a Conferência fez vir à tona um conceito forte. O mundo do trabalho e do capital –e, portanto, da geração de prosperidade– é impactado tanto pela competição internacional como por uma tecnologia que torna certas aptidões humanas obsoletas. Daí, protecionismo comercial, barreiras à imigração ou outras formas de circulação de pessoas só podem ser vistos como ineficientes paliativos. Diques, a conter volumes de d’água apenas por um tempo, que não evitam o transbordar.

Na mesma linha, a quarta revolução industrial decretará, não há dúvida, o fim de certos postos de trabalho, profissões e setores da economia. Publicidade ou jornalismo, indústria de transformação ou bancos – todos estão desafiados pela ascensão das novas tecnologias.

Longe de ser um antídoto aos males da globalização ou da indústria 4.0 (pelo contrário, surge como alavanca para o aproveitamento de novas oportunidades), ganha tração no entanto uma tendência em que indivíduos, empresas ou países terão de embarcar. Trata-se do “Reskilling”.

Poderíamos traduzir o termo como “recapacitação”, “retreinamento” ou “construção de novas habilidades”. No entanto, como bem demonstrou a ex-primeira-ministra da Finlândia, Mari Kivienemi (atual vice-diretora da OCDE), “Reskilling” é quase uma “reinvenção”. Disso seu país entende. Até há pouco, graças a suas políticas de educação criativa e maciços investimentos em pesquisa & desenvolvimento, a Finlândia era “o” hub inovador da telefonia celular, de que a Nokia era sobressalente exemplo.

Atropelada pela ascensão irresistível da Apple e do sistema iOS, a Nokia –e a Finlândia– tiveram de se reinventar e “reabilitar-se” em outras áreas também intensivas em tecnologia e criatividade. A ponta mais visível dessa exitosa dinâmica de “Reskilling” da Finlândia foi o país ter se convertido em anos recentes num dos mais produtivos hubs da indústria de games do mundo.

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E essa portanto é uma outra face do “Reskilling” como imperativo do mundo atual. Com educação básica horizontalizada e percentual importante do PIB destinado a ciência & tecnologia, fica menos difícil a um indivíduo, empresa ou país não apenas transformar, mas também multiplicar suas vocações.

Engenheiros equipados com ferramentas tecnológicas de design levam vantagem competitiva ante antigos profissionais de criação em agências de publicidade tradicional. Empresas de rede social podem converter-se em companhias de mídia jornalística ou diagnósticos médicos a distancia. Aplicativos de navegação no trânsito têm chances de ocupar fatias do mercado de crédito anteriormente reservadas apenas a grande conglomerados bancários.

Nesse universo das reinvenções, Dubai deixa de ser um polo do petróleo e gás para irradiar serviços financeiros e indústria do entretenimento. A China torna-se grande produtora de peixes de rio brasileiros (sim, os chineses hoje produzem mais tilápias e outros pescados de água doce do que nós).

Não há nada mais desafiador para a sociedade contemporânea do que lidar com o inescapável retreinamento de sua força de trabalho, a imprescindível metamorfose de suas empresas e o caráter multivocacional das nações. Será que o Brasil está atento à importância do “Reskilling”?

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