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Marcos Troyjo: Países vizinhos diminuem dependência do Brasil

O melhor caminho para que o país retome sua projeção externa é pôr urgentemente sua casa político-econômica em ordem

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h42 - Publicado em 28 out 2017, 23h45

“O Brasil é o fulcro”. Isso é o que defendia o Council on Foreign Relations, principal think-tank dos EUA em assuntos globais, quando analisava a América do Sul no início da década passada.

Num dos mais eloquentes textos já produzidos por observadores internacionais sobre a importância do Brasil, o “Council” convidava Washington a priorizar relações com Brasília.

“O Brasil é importante demais em tudo que pode acontecer na América do Sul para que os EUA mantenham simplesmente uma política de ‘negligência benigna’ (‘benign neglect’)”.

Tal documento — intitulado “Uma Carta ao Presidente e um Memorando sobre a Política dos EUA para o Brasil” — jamais conseguiu a resposta em termos de cooperação bilateral que o potencial das duas maiores democracias do Ocidente projeta. Muito disso, claro, não foi culpa do Brasil.

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Essa questão da centralidade do Brasil em assuntos sul-americanos é óbvia — e antiga. O Brasil é da região o maior ator em economia, território e população.

Não estranha assim que nossos vizinhos — e nós próprios — tenhamos nos acostumados à imagem do Brasil como grande proponente de iniciativas regionais ou como fator determinante da “sorte” do subcontinente. Ou seja, para onde apontasse a “liderança” brasileira àquela direção seguiria a América do Sul.

Estivesse economicamente bem o Brasil, benéficos seriam os efeitos multiplicadores para toda a região. Se em dificuldades, todas amargariam a “velocidade de comboio” — aquela estabelecida pelo veículo mais lento — ditada pela baixo desempenho do Brasil.

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Há meros sete anos, quando um popularíssimo Lula elegia sua sucessora, o quadro acima parecia confirmar-se. Mercosul, Unasul, um modelo de capitalismo de estado capaz de entregar elevado crescimento, inclusão social e cooperação sul-americana — todas estas dimensões reforçavam duas noções. Primeira, na América do Sul, a liderança brasileira é natural. Segunda, o que é bom para o Brasil é bom para a região.

Dinâmicas recentes, contudo, têm posto à prova muitas dessas certezas sul-americanas. Ninguém mais na região acha que o Brasil dispõe de “fórmula mágica” de crescimento com inclusão social que possa ser alastrada para a vizinhança mediante geometrias de integração propostas por Brasília.

O Mercosul tem de ser reinventado. A Unasul e sua visão de mundo estão relegadas à irrelevância. A expansão automática pela América do Sul de nossas “campeãs nacionais”, na ausência da coincidência ideológica que fomentou negócios na região até há pouco, encontra-se barrada por limites orçamentários, empresariais e jurídicos.

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Foi-se a época de uma liderança “inercial” do Brasil em sua região. Em temas como paz na Colômbia, crise na Venezuela, investimentos na Argentina ou comércio exterior no Paraguai e Uruguai, o protagonismo brasileiro terá de ser reconquistado.

Em termos de estratégia de inserção internacional, Chile, Peru e Colômbia fazem opção preferencial pelo Pacífico. E tal escolha só não é mais pronunciada em virtude da “exceção Trump”, que promove a autoflagelação dos interesses norte-americanos na Ásia-Pacífico e atrasa uma maior cooperação entre os signatários originais do TPP.

E, claro, ninguém almeja reproduzir a ampla latitude entre ideologia e matemática que permitiu a emergência da “nova matriz econômica” e seus efeitos devastadores sobre contas públicas, inflação e emprego. Mesmo a Bolívia de Evo Morales, cuja empatia com as forças que chefiaram o Palácio do Planalto de 2003 a 2015 era manifesta, jamais se afastou de ortodoxia macroeconômica.

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Tudo isso, claro, se dá em conjuntura em que também os EUA têm seu peso relativo apequenado na região e a China expande seu perfil como parceira de comércio e fonte exportadora de capital.

Esse vácuo deixado pelo momento brasileiro tem sido aproveitado por nossos vizinhos de maneiras diversas. Destaco aqui apenas duas.

A Argentina de Macri vem dando passos largos rumo à estabilidade e a confiança. O país encontra-se gerido por executivos competentes e que, ainda com enormes obstáculos, se afastam de experimentalismos macroeconômicos e da dupla nacionalismo-protecionismo.

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Essa onda positiva ganhou força nas eleições de domingo passado e aumentam o perfil argentino na região e no mundo. Há pouco improvável, a Argentina tem conseguido recentemente converter-se numa fonte de boas notícias.

Outro fenômeno que merece especial referência é o Paraguai, que trafega na contramão do Brasil. Enquanto amargamos período mais longo e profundo de dificuldades econômicas, o Paraguai cresceu de 2011 a 2016 média anual de 4,5%. Deverá fechar 2017 com inflação de 4,1%, desemprego em 5,5% e 3,6% de expansão do PIB, segundo o FMI.

No caso paraguaio, o contraponto com o Brasil é particularmente perverso. Já que a estrutura tributária do Brasil é pesada e complexa, o Paraguai abaixou alíquotas e simplificou impostos. Como a legislação trabalhista brasileira é uma armadilha para empregador e empregado, o Paraguai a modernizou.

Como o Brasil tornou-se antagonista à produção, o Paraguai a abraçou. E parte determinante do êxito econômico paraguaio recente se dá em sua crescente industrialização.

O Paraguai, assim, alimenta-se do ambiente hostil aos negócios que prevalece no Brasil. Oferece alternativa aos próprios empreendedores brasileiros que, ademais das dificuldades internas, passam a arbitrar custos de outsourcing cada vez mais elevados na China como favoráveis à produção no Paraguai.

Esse conjunto de fenômenos evidencia que a América do Sul está menos “brasildependente” — e de que não é mais estritamente necessário que a maré brasileira se eleve para que o barco de todos os países da região também suba.

O melhor caminho para que o Brasil retome sua projeção externa, também em sua circunstância geográfica, é pôr urgentemente sua casa político-econômica em ordem.

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