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Marcos Troyjo: Há chance de romance entre o Brasil e os mercados?

A crise político-policial ainda não permite pressentir seu desfecho. O papel e a reputação do Brasil no cenário internacional acham-se diminuídos

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h52 - Publicado em 27 Maio 2017, 23h35

Há cerca de dois anos, com a deterioração econômica, política e moral do governo Dilma Rousseff (PT), uma expressão ecoava por toda parte quanto à conjuntura brasileira: a “tempestade perfeita”. Forças de diferentes quadrantes alinhavam-se contra o Brasil. Internamente, o país elegera uma chapa que mascarara a real situação fiscal das contas públicas. Convocado para equilibrar as contas, um ministro da Fazenda do tipo “estranho no ninho”, fora abandonado no meio do caminho. Estatais, como Petrobras e Eletrobras, haviam sido corroídas por um misto de incompetência e corrupção. O BNDES encontrava-se em grande parte instrumentalizado para um projeto de “campeãs nacionais” sustentado na dispendiosa e ineficiente premissa do conteúdo local.

No plano externo, as nuvens cinzentas que se acumulavam acrescentavam dramaticidade à situação brasileira. Preço das commodities em queda projetava patamares mais baixos para nossa balança comercial. A elevação das taxas de juros nos países de economia madura, após anos de “quantitative easing” (flexibilização quantitativa), sinalizava liquidez mais apertada para o Brasil. No âmbito político, o presidencialismo de cooptação rachara. A construção de consensos no parlamento se inviabilizara. O ecossistema prevalecente do capitalismo de compadrio brasileiro era seriamente abalado pelo avanço fulminante da Operação Lava Jato.

E a conclusão do TPP (Parceria Transpacífico), firmada em outubro de 2015, fazia supor que o mundo entrava num novo jogo do comércio internacional. Nele, não apenas a liberalização tarifária é importante, mas também o estabelecimento de padrões comuns em áreas como legislação ambiental e trabalhista, proteção à propriedade intelectual e a utilização de compras governamentais como instrumento de política industrial. Tudo em nome do fortalecimento e expansão das redes globais de valor. O Brasil, claro, estava fora desse jogo.

Se tudo o que está relacionado acima é verdadeiro, sobravam, de fato, razões para a “tempestade perfeita”. E os efeitos de tal tormenta são inegáveis. Doze milhões de desempregados vagam pelo país. O baixo crescimento relativo do PIB está a confirmar que esta é mais uma década perdida. A crise político-policial ainda não permite pressentir seu desfecho. O papel e a reputação do Brasil no cenário internacional acham-se diminuídos.

Nos últimos seis meses, passou, no entanto, a sobressair um sentimento de “virada de jogo” para o Brasil. 2017 seria o ano do “fim da crise”. Ainda que tímida, ganhava corpo a chance para um novo caso de amor entre o Brasil e os mercados. Testados nos polos extremos da “Brasilfobia” de 2002 (quando o risco-país ultrapassou 2.500 pontos) e da “Brasilmania” de 2010 (quando a ascensão ao clube das cinco maiores economias parecia irresistível), os mercados escolheram identificar na predisposição a realizar reformas o “marco zero” para um novo romance com o Brasil.

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Nessa linha, a inegável capacidade de construir maiorias no Congresso de que o governo Temer dispunha até há pouco e a adoção de muitos dos pressupostos presentes no documento “Ponte para o Futuro” somaram-se a outros fatores – todos convergentes a sugerir uma nova lua de mel entre país e agentes econômicos. No mundo, as forças desglobalizadoras no comércio e na interdependência (de que são o exemplo o “America First” de Trump e o “brexit) dão ao Brasil “tempo” para reajustar sua estratégia de inserção internacional.

A normalização monetária nas economias desenvolvidas é mais gradual e suave do que se previa e seus efeitos são marginais ante o potencial de direcionamento da abundante liquidez internacional a países como o Brasil, seja em alocações de curto prazo ou a projetos de infraestrutura. Puxado por novas demandas do Sudeste Asiático com a emergência econômica do entorno chinês e o eventual renascimento da infraestrutura nos EUA desejado pela Trumponomics, o valor das commodities agrícolas e minerais onde o Brasil apresenta vantagens comparativas está em recuperação.

Assim, todos os preparativos para um novo romance com o Brasil são estritamente internos. Eles dependem, no limite, de que, até 1º. de janeiro de 2019, com ou sem Temer, não se desperdicem os próximos meses para o encaminhamento das reformas previdenciária e trabalhista. Em ambas hipóteses, os efeitos do “JBSgate” não podem oxidar maiorias parlamentares pró-reformas. No mesmo quadro, a intocabilidade de rumos e mesmo equipes de Fazenda e Banco Central, bem como as administrações de Petrobras, Eletrobras e BNDES, afiguram-se como fundamentais.

E, claro, em outubro de 2018 o país terá de eleger um presidente pró-mercado, reproduzindo, em escala ampliada, não apenas a ojeriza à política tradicional, mas sobretudo o sentimento anti-estatizante percebido nos pleitos municipais de 2017. Dada a notória e persistente disfuncionalidade da política brasileira, ainda são pequenas as chances de um novo romance entre o país e os mercados. Para tanto, como em inúmeros outros momentos históricos, o Brasil depende muito mais de si que do mundo.

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