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Marcos Troyjo: EUA terão problemas para fechar acordos bilaterais

Crueza do 'América Primeiro' evidencia unilateralismo

Por Augusto Nunes Atualizado em 25 fev 2017, 23h37 - Publicado em 25 fev 2017, 23h37

A maneira mais suave que Trump e sua equipe encontraram de dizer que os EUA estão abertos para negócios reside na fórmula “queremos comércio justo, não comércio livre” (“we want fair trade, not free trade“).

O que devemos entender por isso? Como já argumentei nesta coluna, Trump baseou sua campanha e muitas de suas ações iniciais na Casa Branca na denúncia —e por vezes no abandono, como no caso da Parceria Transpacífico (TPP), de acordos negociados com mais de um parceiro.

Depreende-se, portanto, que do ponto de vista da tática negociadora, a administração Trump despreza mecanismos multilaterais como a OMC (Organização Mundial do Comércio), bem como formatos plurilaterais, de que são exemplos TPP e TTIP (o mega-acordo entre EUA e Europa que provavelmente não sairá do papel).

As vibrações emitidas por tal sinalização em contrário a acordos comerciais que envolvam vários atores já podem ser nitidamente sentidas.

Nesta terça-feira (21), o Banco Mundial publicou um relatório em que reconhece efeitos positivos para o crescimento global, ao menos no curto prazo, de alguns componentes da “Trumponomics” (desoneração fiscal, expansão da infraestrutura e desregulamentação). Alerta, no entanto, que uma das principais ferramentas da expansão econômica global nas últimas décadas —o comércio internacional— encontra-se em pronunciada retração.

Caminhamos portanto para o sexto ano consecutivo de crescimento do comércio em proporção inferior à progressão do PIB mundial. E mais: 2016, informa o Banco Mundial, foi o ano mais fraco em termos de comércio de bens e serviços desde o advento da “Grande Recessão” iniciada em 2008 e cujo símbolo máximo foi a quebra do Lehman Brothers.

O marco de 2008 é, assim, nítido: oito anos antes do advento da vitória de Trump, o sentimento de “Globalização Profunda” já se começara a substituir pelo “Risco de Desglobalização”, de que a atual tibieza do comércio mundial é tão simbólica.

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Mas Trump, garantem seus assessores, quer mais, e não menos comércio. Qual então o caminho adiante? Acordos bilaterais.

Em tese, nada deve haver contra uma postura liberalizante dos EUA por meio de uma negociação país a país. Pouco se avançou no marco da agora paralisada Rodada de Doha da OMC. E experimentos com a escala do TPP (acordo em que o estabelecimento de padrões conta mais do que a desgravação tarifária) jamais foram testados na prática.

O problema é, bem, quem toparia engajar-se numa negociação cabeça a cabeça com essa tresloucada administração Trump? Uma primeira resposta mais ou menos óbvia é: países como Rússia, Reino Unido e Japão.

Moscou provavelmente adoraria ver o comércio como uma das muitas plataformas de “relançamento” das relações russo-americanas. No entanto, apesar da empatia Trump-Putin, a chance disso acontecer num horizonte visível é simplesmente nenhuma.

Em meio a continuadas alegações de que os russos se intrometeram ciberneticamente na corrida à Casa Branca e que Trump e seu time mantêm suspeita cordialidade com o Kremlin —vide a queda de Michael Flynn do posto de conselheiro de Segurança Nacional— não há clima para entendimentos comerciais que possam ir além do eventual levantamento de sanções econômicas a Moscou.

Há ainda os britânicos. Em Davos no mês passado, Anthony Scaramucci, influente conselheiro de Trump, salientou que um grande acordo comercial EUA-Reino Unido seria vislumbrável quando transcorresse um ano da efetivação do “brexit”. Sabemos, contudo, que o próprio calendário do divórcio Londres-Bruxelas ainda é bastante incerto.

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Já o Japão teria todo interesse num acordo bilateral. Para Tóquio, uma coisa é ser o “número dois” numa arquitetura bi ou plurilateral em que o protagonista é Washington. Outra é ser “sócio-júnior” em esquemas comercias cujo epicentro encontra-se em Pequim.

Ainda assim, mesmo o Japão, que não deseja dizer adeus a tudo que foi acordado no âmbito do TPP, ilustra a relutância que muitos países apresentarão em negociar bilateralmente com os EUA. O esforço de tantas nações na Ásia-Pacífico e na Europa no desenho de mega-acordos com os EUA terá se mostrado em vão.

Há ainda a possibilidade, sobretudo no que sobrar do TPP, de que acordos plurilaterais comecem sem os EUA. E, a depender de quem for o inquilino da Casa Branca após o ciclo Trump, que Washington volte a enxergar o comércio para além da mera perspectiva bilateral.

David Lypton, um dos principais diretores do FMI, sugeriu nesta terça-feira em Berlim que líderes europeus deveriam “engajar-se construtivamente” com os EUA no que Trump considera “assimetrias” do comércio internacional.

Nos formatos multi, pluri ou mesmo bilaterais isso não será nada fácil. Com o rude “América Primeiro”, Trump pouco disfarça que os objetivos de sua visão negociadora são “unilaterais”.

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