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Marcos Troyjo: A ONU é um teatro; Trump, um ator

Oque acontece na ONU, menos em termos de economia e comércio e mais em questões de paz e segurança, repercute no mundo inteiro

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h44 - Publicado em 24 set 2017, 01h46

Estive pela primeira vez na sede da ONU, em Nova York, quando tinha 15 anos de idade e era estudante de intercâmbio nos EUA. No dia anterior, havia assistido também minha primeira peça na Broadway —”Mousetrap” (A Ratoeira), de Agatha Christie.

Faço referência a esses dois acontecimentos porque, na visita à ONU, o voluntário que nos guiava através das salas austeras e obras de arte de gosto duvidoso que caracterizam o prédio na Primeira Avenida disse uma frase que não esqueci: “esta é a ONU, o órgão máximo das relações internacionais. Um diplomata trabalhar aqui representa o mesmo que um ator encenar uma peça na Broadway”.

Esta associação entre teatro e diplomacia não me saiu da cabeça por mais de uma razão.

Primeiro: são muitas as coincidências vocabulares na linguagem teatral e diplomática. Diz-se que tal embaixador “representa” bem seu país. Que as ONGs são “atores” cada vez mais importantes no “cenário” internacional. Que a “atuação” dos diplomatas evita que soldados tenham de se enfrentar no “teatro” de operações.

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Segundo: o que acontece na ONU, menos em termos de economia e comércio e mais em questões de paz e segurança, repercute no mundo inteiro. Isso é verdade tanto no nível das interações entre as grandes potências —que se desenrolam sobretudo no Conselho de Segurança— e em especial na função de utilizar a ONU como caixa de ressonância ou “palco” (olhe aí o teatro outra vez) para transmitir recados.

Tais mensagens orientam-se em alguma medida, claro, ao mundo lá fora. Mas em sociedades crescentemente midiatizadas, eventos como os discursos da Assembleia-Geral da ONU são construídos para o objetivo precípuo do consumo da opinião pública interna de cada país.

Alguns oradores são mestres em utilizar a ONU e suas engrenagens internas não apenas para fabricar produtos de diplomacia, mas também grandes jogadas de comunicação.

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Nos anos 80, o então embaixador de Israel, hoje primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, era um desses protagonistas. Seu vigor e articulação o tornavam eixo de atração de qualquer tratativa diplomática. E seus discursos ganharam a opinião pública israelense, projetando-o ao que seriam responsabilidades ainda mais elevadas em seu país.

Outro grande diplomata-comunicador a usar o palco da ONU foi Dominique de Villepin, chanceler e primeiro-ministro francês durante o período Jacques Chirac. Villepin, com sua elegância e habilidade oratória, denunciou o unilateralismo dos EUA na Segunda Guerra do Golfo numa reunião do Conselho de Segurança. Foi tão efetivo em sua mensagem que mereceu aplausos raramente ouvidos naquela vetusta câmara.

Pude acompanhar esse teatro muito de perto no final dos anos 90, quando servi na ONU como diplomata.

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Um dos grandes atores dessa época era Richard Holbrooke, embaixador dos EUA na ONU de 1999 a 2001. Ele antes desempenhara papel importante nos Acordos de Dayton, que puseram fim aos conflitos nos Balcãs.

O próprio peso relativo que o cargo de representante da ONU significa na alta administração norte-americana (a função tem status de “Cabinet Post”, ou seja, tem status ministerial) ajuda na grande visibilidade que ela proporciona. Fosse Al Gore eleito em 2000, e não George W. Bush, Holbrooke teria sido secretário de Estado.

O destaque no primeiro dia desta Assembleia-Geral foi sem dúvida o discurso de Donald Trump. Sua fala eclipsou as demais. À altura que redijo esta coluna, ainda não se veicularam sondagens de avaliação nos EUA de quão bem aprovado foi o pronunciamento. Minha aposta é de que ele tenha sido muito bem recebido, provavelmente o melhor de sua turbulenta presidência.

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A ONU é um grande palco. Trump, um grande ator. Sua locução, diplomaticamente arriscada quando os assuntos são Coreia do Norte ou Irã, seguramente desagrada
o establishment de política externa e de segurança dos EUA. Mas se alinha plenamente ao que pensa o cidadão norte-americano médio —e isso inclui contingentes sociais que vão além do seu eleitorado cativo.

A surpresa foi, sem dúvida, o grande espaço e ênfase que deu às mazelas da Venezuela. Como isso aconteceu? Vão aqui duas hipóteses.

Um: Trump tem um monte de amigos (e amigas) venezuelanos. Muitos são da extração elite/mundo fashion e têm os ouvidos do presidente desde muito antes dele candidatar-se à Casa Branca.

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Dois: ao falar da Venezuela de Maduro, Trump em realidade dirigia-se à enorme comunidade hispânica nos EUA, que abomina os experimentos chavista ou castrista. Trump busca assim estabelecer pontes com segmento da sociedade americana a quem direta ou indiretamente hostilizou com sua postura esdrúxula em relação ao México e ao “muro”.

Goste-se ou não, Trump foi o grande vencedor da inauguração desta nova Assembleia-Geral da ONU. Mesmo os que com ele frontalmente se antipatizam não podem deixar de reconhecer que ele vocalizou umas cruas verdades, como a de que não apenas os EUA, mas qualquer líder, tem de colocar seu país “primeiro”.

Senhor de vários palcos, o ator Trump também protagonizou o teatro da ONU.

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