Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Augusto Nunes Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

J.R. Guzzo: Fora da linha

João Doria? Como assim? Não estava previsto nenhum João Doria

Por Branca Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 21h30 - Publicado em 23 out 2016, 12h45

Publicado na edição impressa de VEJA

Quem poderia dizer apenas um ano atrás, nos meios de comunicação e na vida pública em geral, que a grande novidade na paisagem política do Brasil de hoje seria o empresário paulistano João Doria? Ninguém, da mesma forma que ninguém é capaz de dizer, hoje, o que estará acontecendo com ele daqui a um ano. Uma das possibilidades é que não aconteça nada — não seria a primeira vez, como já ocorreu com outros prefeitos súbitos de São Paulo, figuras que ninguém conhecia até vê-las de repente no comando da maior cidade do Brasil. Foi o caso de Celso Pitta, que o deputado Paulo Maluf tirou do mais merecido anonimato e colocou na prefeitura, e desse desafortunado Fernando Haddad, invenção do ex-presidente Lula que o próprio Doria acaba de detonar nas últimas eleições municipais. Mas no Brasil de outubro de 2016, goste-se ou não, ele é o homem a observar — e é um espanto a quantidade de gente que não gosta. João Doria? Como assim? Não estava previsto nenhum João Doria. É uma coisa irritante, para o mundo onde circulam as ideias aceitáveis, que alguém como ele, um ser político totalmente incorreto, herói dos coxinhas do Brasil, tenha reduzido a paçoca o candidato do “maior gênio político que este país já conheceu”, deixando-o com infames 17% dos votos. A um mês da votação, os entendidos viam em Doria, em quarto lugar nas pesquisas, o exemplo perfeito do candidato errado. No dia da decisão, revelou-se o mais certo de todos.

É esse o problema de João Doria: ele é João Doria, e para ter o sucesso que teve deveria ser outra pessoa. É verdade, como anotado acima, que o novo fenômeno da política nacional pode estar a caminho de tornar-se apenas um ex-prefeito de São Paulo, mas enquanto isso não fica definido ele incomoda. Tudo bem que Lula e o PT, com a calamidade que produziram no país, perdessem a eleição, não apenas em São Paulo como em todo o Brasil. Mas não “para esse aí” — aí já é demais. Das malhas de cashmere ao corte de cabelo, do endereço residencial ao saldo bancário, Doria é a soma de tudo o que menos se recomenda nos manuais de propaganda a um candidato a prefeito numa cidade com 9 milhões de eleitores — a grande maioria dos quais, por qualquer método estatístico que se escolha, é formada por gente pobre e empenhada na luta diária pela sobrevivência.

O novo prefeito de São Paulo, na direção exatamente oposta ao que a esquerda, em geral, e os analistas políticos, em particular, prescrevem a um candidato popular, não tem a menor hostilidade contra o automóvel. Quando ouve dizer que esta ou aquela medida “higieniza” a cidade, fica a favor — acha que higiene é coisa boa. É contra fazer doações à população — esmolas, casas, mesadas. É a favor da polícia e contra os criminosos, sempre. Não gosta de impostos nem de multas. Acha que propriedades invadidas têm de ser desocupadas e devolvidas.

Continua após a publicidade

E se isso tudo, ao contrário do que pregam nossas classes intelectuais, fizer sentido para as massas populares que imaginam conhecer tão bem? Não parece nenhum absurdo deixar em paz o automóvel numa cidade com 8 milhões de automóveis — pode até ser errado, mas absurdo não é. Abster-se de propor doações tidas como “sociais” parece adequado à grande cidade brasileira menos dependente do Bolsa Família e do governo. Faz nexo, numa metrópole onde milhões aspiram à propriedade privada e não abrem mão de sua defesa, combater invasões — ou ser contrário à pichação de imóveis. Estará do lado da imensa maioria, também, quem ficar contra a entrega do espaço público a viciados em drogas, moradores de rua e desocupados. Que mal haveria em defender a repressão da desordem perante uma população que jamais ganhou um centavo com a destruição de vidraças de bancos? Ou em ser contra o crime diante de um eleitorado que defende o direito a portar armas? E que mal haveria em estar bem de vida quando isso é algo admirável para o paulistano pobre que trabalha e quer ter amanhã mais do que tem hoje? Nenhum, claro — sobretudo quando se pode dizer que esse dinheiro vem do próprio esforço, e não de roubalheira na Petrobras. Em suma: e se João Doria, justamente por ser quem é, for o retrato do político mais bem sintonizado, hoje, com as grandes classes populares de São Paulo?

Os pobres, aparentemente, não querem o que a esquerda quer que eles queiram. Querem coisas diferentes, muitas vezes o oposto — e aí quem faz política precisa resolver de que lado está. Doria, no começo, foi visto como uma “loucura”. Loucos, como se vê agora, parecem os outros.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.