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J.R. Guzzo: Diante dos fatos

Calígula, se fosse vivo, teria uma imagem melhor que a de Trump na mídia

Por Augusto Nunes Atualizado em 20 fev 2017, 14h48 - Publicado em 18 fev 2017, 10h04

Publicado na edição impressa de VEJA

Uma das coisas menos necessárias que o público tem hoje à sua disposição é mais um artigo na imprensa falando mal de Donald Trump. O imperador Calígula, se fosse vivo, teria uma imagem melhor que a dele na mídia mundial – e olhem que ainda faltam quatro anos para o homem ir embora, a menos que consiga repetir o feito de Dilma Rousseff e ser despejado da Casa Branca antes do prazo. Nas poucas semanas desde a sua posse como presidente dos Estados Unidos, ou desde que foi eleito, ou desde que saiu candidato, Trump tem sido provavelmente o maior saco de pancadas que jamais apareceu na vida pública americana. Um jornal de prestígio internacional chegou a fazer uma pesquisa, extensa e erudita, sobre as origens da palavra “mentira” na língua inglesa, para informar aos leitores que ela podia, sim, ser aplicada em sã consciência a praticamente tudo o que Trump diz. Outro veículo de igual renome fez uma denúncia, com toda a seriedade, para “desconstruir” o que Trump come – hambúrguer, bacon, salgadinhos. Naturalmente, os especialistas ouvidos ficaram indignados; uma dieta dessas, garantiram, faz tão mal que pode afetar suas decisões. Criticaram seu filho de 10 anos de idade – e por aí afora. O que ficou faltando?

Muita coisa, ainda, levando-se em conta o talento demonstrado até agora pelo presidente para ter sempre na ponta da língua alguma frase que vai ofender alguém – e, desde que assumiu o cargo, as decisões que tem tomado. Seja como for, apesar de tudo o que já se falou e ainda vai se falar sobre Donald Trump, talvez fosse o caso de lembrar que pouco se mencionou aquele que, no fundo, pode ser o seu pior traço – a tentativa e as promessas de recriar um mundo extinto. Foi com essa conversa que ele conquistou a imaginação de mais de 60 milhões de eleitores, número que, embora inferior ao de sua adversária, foi suficiente para torná-lo presidente pelas regras eleitorais americanas. Só que agora Trump está com o problema de entregar o que essa gente toda está esperando – e isso não dá para fazer, nem agora nem mais tarde. A dificuldade começa por uma de suas frases de maior sucesso durante a campanha: “Comprem produtos americanos, empreguem cidadãos americanos”. Fica bonito no palanque, mas na vida real não pode ser transformado em nada de concreto. É demagogia, ou marketing eleitoral feito unicamente para caçar voto, e isso só serve em campanha; para governar é inútil.

Comprar produto americano? De que jeito? Milhões de cidadãos americanos compram produtos importados todos os dias, na sua vida cotidiana, porque simplesmente não há produtos americanos para comprar. Onde alguém vai encontrar um par de tênis americano, por exemplo, ou um aparelho de som? São indústrias que não existem mais nos Estados Unidos, como milhares de outras; fazem parte de um mundo que acabou. “Empregar americanos”, como quer Trump, é mais difícil ainda. A maioria das pessoas não emprega ninguém, porque não tem emprego nenhum a dar; elas estão preocupadas, isto sim, em arrumar um emprego para si próprias. As empresas, que poderiam contratar, frequentemente não têm opção: dão emprego a estrangeiros, que em geral não são sindicalizados ou organizados, porque fica mais barato. Muitas, na verdade, transferem para o exterior suas linhas de montagem, em busca de custos trabalhistas menores – sem o que não conseguem competir com ninguém. Pior ainda é a história de “devolver aos americanos” os empregos que lhes foram “roubados”. Nada foi roubado, e, portanto, nada pode ser devolvido: os empregos de que Trump fala desapareceram com o progresso e não podem ser criados de novo.

Como devolver aos americanos os bons empregos em indústrias “tradicionais” se elas morreram, ou produzem hoje outras coisas? Não é possível criar de novo postos de trabalho para a fabricação de rádios a válvula, réguas de cálculo ou filmes para máquina fotográfica; são produtos que não existem mais, e não podem gerar emprego algum. Na mesma linha, pergunta-se para que servirá o famoso “muro” de 3 000 quilômetros que Trump quer construir na fronteira com o México, para impedir a entrada de mexicanos em território americano. É duvidoso que consiga – ou que sirva para resolver o problema. E o que ele pretende fazer com os dois oceanos que separam os Estados Unidos da Ásia, de um lado, e da Europa e da África, do outro? Imigrantes clandestinos não vêm só do México. Cada vez mais, de agora em diante, Trump terá de lidar com fatos.

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