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Gilmar fala sobre tudo, com exceção do terremoto em Mato Grosso

Não existe esperança de salvação para gente como Dirceu, Eike Batista, Jacob Barata e outras flores do orquidário do Supremo Ministro da Defesa de Culpados

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 ago 2017, 19h19 - Publicado em 31 ago 2017, 19h02

Sempre que livra da cadeia algum meliante irrecuperável, o ministro Gilmar Mendes recita 12 palavras atribuídas a Rui Barbosa: “O bom ladrão salvou-se, mas não haverá salvação para o juiz covarde”. Se foi mesmo produzido por Rui, o besteirol só ensina que até uma Águia de Haia pode viver seus momentos de Dilma Rousseff. Uma lição tão rasa convida a reflexões tão profundas que, na imagem de Nelson Rodrigues, uma formiguinha poderia atravessá-las com água pelas canelas.

Não há nada parecido com o bom ladrão do episódio bíblico no Brasil dos crápulas que chapinhavam no pântano que a Operação Lava Jato vem drenando há mais de três anos. A tribo que Gilmar livrou ou tenta livrar da cadeia reúne apenas larápios de quinta categoria, assaltantes incuráveis e vigaristas sem remédio. Não existe esperança de salvação para gente como Antonio Palocci, José Dirceu, Eike Batista, Jacob Barata e outras flores do orquidário do Supremo Ministro da Defesa de Culpados.

A primeira parte da frase, portanto, é uma fantasia em frangalhos. A segunda escancara a megalomania de um advogado e professor de Direito que deu de incorporar o onipotente, onipresente e onisciente Superjuiz da Nação. Para consumar a metamorfose, basta cobrir o terno cinza-Brasília com a toga adornada por medalhas imaginárias que eternizam atos de bravura em situação de combate. Se repete de meia em meia hora que “não haverá salvação para o juiz covarde”, é evidente que Gilmar enxerga no espelho uma ilha de coragem cercada de magistrados pusilânimes por todos os lados.

Essa disfunção visual ataca quem confunde coragem com atrevimento, insolência, arrogância e cinismo. Quem liberta bandidos que, no primeiro minuto em liberdade, recomeçam a ocultação de provas e a obstrução da Justiça é decididamente covarde. Valentes são os juízes decididos a mostrar aos nostálgicos do paraíso da impunidade que a norma constitucional enfim entrou em vigor: todos são iguais perante a lei. Gilmar Mendes imagina que socorrer “bons ladrões” é demonstração de bravura. O Brasil decente acha que isso é coisa de portadores do complexo de deus.

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Até onde irá o surto de megalomania que chegou ao clímax neste agosto? Talvez não chegue ao fim de setembro, sugere a movimentação de placas tectônicas sob a superfície de Mato Grosso. Os tremores ganharam intensidade com a divulgação parcial da delação premiada de Silval Barbosa, qualificada de “monstruosa” pelo ministro Luis Fux, que autorizou o acordo em nome do Supremo Tribunal Federal. Ex-governador e amigo do peito de Gilmar, Silval só começou a abrir o bico. O que tem a dizer se somará à enxurrada de espantos prometida pela iminente delação do ex-deputado estadual José Riva.

Nos 16 anos em que comandou a Assembleia Legislativa, ao longo dos quais fez o suficiente para tornar-se portador da maior ficha suja do país, Riva acumulou informações com tamanho poder destrutivo que, divulgadas em sequência, submeterão Mato Grosso a um terremoto político sem precedentes. Mato-grossense de Diamantino, Gilmar Mendes conhece em detalhes o prontuário de José Riva. Apesar disso ─ ou por isso mesmo ─, não hesitou em premiar o amigo fora da lei, há pouco mais de um ano, com um habeas corpus que até o beneficiário considerou surpreendente.

Foi a última ousadia de Mendes nos campos minados de Mato Grosso. Neste agosto, o ministro se manifestou sobre Lava Jato, semipresidencialismo, reforma política, governo Temer, foro privilegiado, prisão preventiva, procuradores federais, STF e coisas que podem levar um juiz a declarar-se sobre suspeição, fora o resto. Mas não deu um pio sobre os estrondos ocorridos em Cuiabá e ouvidos no resto do Brasil. Se Silval Barbosa e José Riva contarem rigorosamente tudo, o nome do poderoso protetor será citado ─ para o bem ou para o mal. O silêncio do falante compulsivo informa que nem ele sabe o que vem por aí.

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