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Por Coluna
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Fernando Gabeira: Perguntas da rua

Como sair desta maré? Existe um caminho possível, mas apenas a esperança nada resolve

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 20h58 - Publicado em 7 abr 2017, 15h37

Publicado no Estadão

Numa entrevista de TV com a escritora norte-americana Sarah Chayes, estudiosa da corrupção e autora do livro ‘Ladrões do Estado’, o repórter Luis Fernando Silva Pinto perguntou mais ou menos assim: “Uma sociedade tão atingida pela corrupção tem condições de superar isso?”. Chayes respondeu que eram muito poucos os casos de sucesso. Mencionou o Peru, que depois de Fujimori se recuperou, assim mesmo de forma modesta. De fato, houve uma recuperação no Peru, apesar de a Odebrecht ter envolvido ao menos um ex-presidente nas teias da corrupção, Alejandro Toledo. A pergunta que se faz nas ruas é mais simples, mas vai na mesma direção do repórter: o Brasil tem jeito?

Sandra Chayes enumerou uma série de qualidades do País: capital humano, criatividade, energia. E concluiu que sim, o Brasil teria condições de oferecer esse exemplo de superação ao mundo.

Embora as ruas ainda não sintam a chegada do crescimento econômico, surgem sinais positivos e hoje muitos especialistas acham que o Brasil está reencontrando o seu rumo.

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Se o front econômico realmente dá sinais visíveis de melhora, as expectativas vão se concentrar nas mudanças políticas. Nesse campo o desafio é gigantesco. Será preciso acionar todas as nossas qualidades e neutralizar os principais defeitos para obter a conquista de dimensão internacional.

Uma verdadeira reforma política só é possível com presidente e Parlamentos eleitos. A legitimidade não basta, é preciso que uma transição prepare o caminho para os vencedores.

De que adianta um novo presidente não querer fazer barganhas, se terá uma miríade de partidos para negociar?

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No passado, a cláusula de barreira era um obstáculo para o surgimento de novos partidos com conteúdo político. Mas eles já tiveram seu tempo de conquistar representatividade nacional. Hoje a redução do número de partidos é uma necessidade superior, pois o presidencialismo de coalizão foi para o brejo.

Com tantos marqueteiros enredados com a Justiça, já era tempo de perceber que existe algo errado com o chamado programa eleitoral gratuito. A transformação de um programa político em espetáculo de TV é muito cara. Se os partidos se contentassem com algumas vinhetas, poderiam passar suas mensagens pela TV, desenvolver o debate na internet e, ao mesmo tempo, realizar intervenções eficazes e baratas. Desde que tenham algo a dizer.

As eleições de 2018 serão um processo de depuração. Mesmo que se consiga derrubar o foro privilegiado, é muito possível que o julgamento dos eleitores chegue antes do veredicto dos juízes. Em algumas circunstâncias, os eleitores podem absolver políticos corruptos. Nesse caso, resta confiar na Justiça, pois a aprovação popular não se sobrepõe à lei.

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Todas essas possibilidades serão mais bem avaliadas depois que alguns impasses forem superados. O sigilo sobre o conteúdo das delações premiadas é um deles. Enquanto não sairmos do período que se encerra com todos os dados na mesa, o debate sobre o futuro próximo é um pouco capenga.

Alguns acham que os políticos tentarão um ato defensivo para se protegerem da Lava Jato, com a lei do abuso de autoridade. Duvido que consigam emplacar punições contra a interpretação da lei. Se o Supremo aceitar uma lei assim, será difícil até de explicar suas sessões televisionadas em que vemos tantas visões diferentes num choque salutar.

Duvido que consigam a votação em lista fechada, algo que funciona em países em que os partidos ainda gozam um nível de respeito. No Brasil seria um desastre.

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Não há dúvida, entretanto, de que os políticos vão fazer tudo para manter o status. Alguns analistas acham até compreensível que num ato de desespero eles tentem mesmo um golpe contra a Lava Jato.

Um Parlamento que tenta sobreviver legislando em causa própria está cavando seu túmulo. E cavará seu túmulo errando o timing.

O primeiro julgamento será dos eleitores. Não é inteligente construir um escudo contra a Lava Jato com os traseiros expostos para as flechadas populares.

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Existe um potencial de renovação em 2018. As pesquisas têm indicado forte rejeição ao políticos. Alinho esses fatos para fortalecer a tese de Chayes de que o Brasil pode dar a volta por cima e iniciar uma nova fase.

Nas ruas percebo a sensação de que algo vai mal, não deu certo, e uma dúvida sobre a capacidade de recuperação nacional. Alinho algumas ideias para fortalecer a tese de Chayes de que há um caminho possível de recuperação, apesar de ser algo bastante singular essa volta por cima. Um pouco pelo desejo de ver começar uma etapa, um pouco com uma dose de otimismo, que, aliás, está presente na entrevista de Chayes.

A esperança sozinha, divorciada dos fatos, não resolve nada. No entanto, se as expectativas forem corretas, ela é um elemento indispensável na resposta ao problema em que estamos metidos há algum tempo: como sair dessa maré. A resposta que dou na rua continua a mesma: é difícil, mas não impossível. Mas se a economia dá sinais de retomada e o caminho da reforma política for aplanado para 2018, aí, então, poderemos dar passos mais largos para nos tornamos um país que sobreviveu a um nível devastador de corrupção.

Toda essa expectativa depende de muitos fatores imponderáveis. O PMDB do Nordeste iniciando um movimento desagregador, tendo à frente Renan Calheiros, em princípio é apensas uma reação à impopularidade das reformas. Mas é também uma aproximação com Lula, que tem votos no Nordeste.

Na verdade, é uma resistência regional que parte dos lugares onde o PT é mais forte e alguns políticos simplesmente não podem perder as eleições, porque a Lava Jato está esperando de boca aberta. Se implodirem o governo, vão se deliciar com o estardalhaço. Mas o problema nacional continua. Eles até têm uma força destrutiva. Mas faltam energia e perspectiva para construir a nova situação. Teríamos perdido tempo, mas não a esperança.

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